28 de fevereiro de 2014

Sudão do Sul: BRIGA PELO PODER CONTINUA


 
Leer antes e depois da guerra ©JVieira - RRocha
Caros amigos/as,

Envio a vocês mais algumas notícias sobre a situação da guerra civil aqui no Sudão do Sul.

Já são dois meses e meio desde que os conflitos começaram em Juba. Faz um mês desde que tivemos que deixar a nossa missão em Leer e fugir para o mato e pântanos com o povo. Agora me encontro bem com meus colegas em Juba, mas o povo continua no mato sem comida, muitos doentes e com medo.

Não é surpresa a falta de notícias nos meios de comunicação. Aqui em Juba a situação está tranquila. No começo apareceram algumas reportagens, muito mais sobre Juba, por causa da presença dos diplomatas e jornalistas na cidade.

A guerra mudou-se para os três estados de Unity, Jongley e Upper Nile e se concentra lá. No momento lá não tem comunicação, por isso não se sabe bem o que está acontecendo. Essa é a região rica em petróleo e não é por acidente que a guerra continua lá. Também é a terra do povo Nuer e do vice-presidente deposto.

Não se pode esquecer que é uma guerra civil política, uma briga por poder movida por interesses e gananciosos indivíduos ou grupos, mas com um contorno étnico muito acentuado.

São milhares de mortos, difícil saber ao certo, a maioria civis inocentes e quase um milhão de desabrigados.

Os campos da ONU estão superlotados de gente da comunidade e etnia Nuer. Há muito mais gente escondida no mato. Isso posso dizer muito bem porque ficamos na mesma situação por dezoito dias e sei bem o que o povo está vivendo nesse momento.

Os três estados onde há a guerra correspondem à nossa Diocese de Malakal, a maior e mais pobre do país e a que tem menos agentes de pastoral. Fomos obrigados a deixar as paróquias e missões, inclusive o bispo, após refúgio no mato ou na base da ONU. Ainda tem uma missão comboniana e uma paróquia com agentes de pastorais. Os demais estamos em Juba.

As destruições, saques e assassínios de forma cruel são verdadeiros horrores. Apesar disso e da pressão da comunidade internacional e muitas orações, os dois líderes, governo e oposição, não escutam os clamores do povo. As negociações de paz não avançam. Há uma necessidade urgente de conversão de mente e coração dos líderes desta jovem nação. É difícil enxergar o fim de tudo isso.

Porém, há muitos exemplos de solidariedade. Agradecemos a Deus por tudo isso. A três dias almocei com um grupo de brasileiros da Aeronáutica, Exército e Polícia do Brasil que integram a força de paz da ONU. Não são muitos. Também esteva uma portuguesa voluntária da ONU que me ajudou a retirar algumas pessoas da área de conflitos. O pessoal da ONU muito nos agradeceu pelas comunicações e trabalhos desde a missão. Ainda estão tentando encontrar um meio de levar alimentos para lá, mas é muito inseguro.

Éramos o único contacto com o resto do mundo quando estávamos em Leer. Soubemos que há dois dias os rebeldes atacaram as forças do governo que estão em controle de Leer, mas não houve mortos nem feridos. É uma indicação que os conflitos continuarão se não houver um acordo de paz.

A situação é pior em Malakal. Todo mundo teve que fugir e as igrejas não foram respeitadas. O ‘White Army’ (exército branco) formado por jovens Nuers é impiedoso. São jovens recrutados para a guerra e profundamente manipulados. Não temem matar ou morrer.

Vê-se que precisa de muita oração para mudar essa realidade. Sempre que puder lhes mandarei mais notícias. Continuem rezando por nós e nossos povos.

Pe. Raimundo Rocha, pároco de Leer em Juba

24 de fevereiro de 2014

SANTOS E DELINQUENTES


 Nápoles é uma cidade de contrastes. De santos e delinquentes, no dizer do meu velho amigo e companheiro padre Carmelo Casile. Talvez por isso queria concorrer com Roma no número de igrejas e de santos liderados por São Januário e São Agrippino, uma dupla de respeito, e com um cunho mariano muito forte. A par do outro «culto»: o Napoli no estádio de San Paolo!
A cidade espreguiça-se pelas colinas à frente da baia tranquila do Adriático sob a sombra ameaçadora do Vesúvio. As ruas estreitas da cidade velha são disputadas por peões, lambretas e vendedores. Interessante o negócio das estátuas: presépios de montar aos poucos, papas e berlusconis de todos os tamanhos e feitios, até um Rafael Benítez em tamanho real. E inúmeros amuletos para dar sorte e proteger do azar comandados pelo surpreendente piripiri em muitas formas e tamanhos mas sempre encarnado vivo!  

Impressiona o desmazelo a que a urbe está votada: casas a pedir urgente restauro, ruas remendadas, desniveladas, sujas e «ajardinadas» com urtigas e outras plantas selvagens em claro contraste com bairros chiques, asseados e bem pavimentados.

Nos autocarros, entra-se pela porta da saída e são poucos os que validam o título de transporte se não houver nenhum fiscal a fazer a ronda.

 O código da estrada é apenas indicativo: cada condutor é rei e senhor e muitos carros ostentam as cicatrizes dos duelos sobre o asfalto ou as pedras das calçadas. As seguradoras também: um seguro em Nápoles é três a cinco vezes mais caro que no resto de Itália. Afiançaram-me que há quem ganhe a vida a provocar acidentes para receber as respetivas indeminizações.

O desemprego é grande e a Camorra transforma os jovens sem trabalho em passadores de droga e vendedores de tabaco de contrabando. Os lixos urbanos são outra grande fonte de receita para o crime organizado. A violência impera. Um aviso: não convém caminhar pelas ruas com as mãos nos bolsos, porque podem pensar que se está armado…

Há um grande número de africanos a venderem isqueiros e lenços de papel em esquinas e rotundas. Um pedinte chamou-me insistentemente «dotore» à porta da Estação Central, na esperança de receber uns trocados…

Vedi Napoli e poi muori!!! Vê Nápoles e depois morre? Demasiado dramático… Melhor mesmo é voltar!


RCA: VALE A PENA «SOFRER» PELA MISSÃO!


A Élia Gomes, Leiga Missionária Comboniana ou LMC algarvia, relata como a luta pelo poder que está a causar uma «situação desastrosa» com matanças organizadas na República Centro-Africana, também chegou a Mongoumba, o «paraíso» onde vive integrando uma comunidade internacional de leigos que trabalham com os pigmeus. 

Caríssimos LMC, amigos, familiares, conhecidos…

A todos PAZ e BEM!

Aqui estou mais uma vez para vos falar um pouco sobre a situação do país e de como tentamos dar continuidade às nossas atividades apesar do clima de instabilidade em que vivemos. Hoje falo em nome pessoal, sem a Tere, pois não tivemos tempo de escrever em conjunto.

Quando escrevemos em Janeiro, a Teresa e eu, falávamos dos nossos medos e angustias. Hoje, o tema não mudou, mas de espectadores longínquos passamos a espectadores mais próximos das cenas de violência e mesmo «vítimas de ameaças.»

Os protagonistas mudaram, os «rebeldes» Seleka (A Aliança) deram lugar aos «libertadores» Anti-balaka e a grupos de jovens que se autodenominam de autodefesa, estão presentes em todas as aldeias tendo como principal objetivo destruir tudo o que é muçulmano.

Quando a Seleka chegou a Mongoumba nada de grave aconteceu à população, em grande parte devido à intervenção do presidente da câmara (muçulmano). Com a progressiva tomada de posição dos Anti-balaka ou Siriri, os muçulmanos começaram a temer pela sua segurança. Quando as ameaças subiram de tom, as mulheres e as crianças partiram para a vizinha RD Congo, tendo ficado apenas os homens que resistiram algum tempo apesar das ameaças tentando preservar alguns bens. Como não se sentiam em segurança nas suas casas, pediram asilo e dormiram algumas noites na missão, em casa dos missionários, mas também eles partiram tendo deixado à guarda dos padres duas motas e alguns bens pessoais.

Enquanto em Bangui, a capital, os maiores problemas e confrontos foram entre a Seleka e os Anti-balaka, em Mongoumba e noutras aldeias próximas foram e continuam a ser grupos de jovens locais, incontroláveis, que em nome dos Anti-balaka começaram a criar a confusão, destruindo, roubando e queimando tudo o que é muçulmano e ameaçando quem de algum modo ajudou ou protege os poucos bens por eles deixados.

São jovens adultos, pequenos bandidos que sob o efeito de drogas e álcool se deixam manipular por pessoas mais velhas que de algum modo tentam aproveitar a situação de caos para atingir objetivos pessoais. Têm todo o tipo de armas artesanais desde lanças, espadas, machetes a armas de caça.

Formam um grupo bizarro vestido de forma bizarra, uns fardados como verdadeiros militares, outros parecendo saídos de um cortejo carnavalesco. Todos usam e abusam de amuletos não faltando ao conjunto crucifixos e terços, pois quase todos se dizem cristãos!


O que mais nos tocou nesta onda de violência que assolou o nosso pequeno paraíso foi a indiferença e o silêncio quer das autoridades quer da população em geral.

No Domingo a seguir às primeiras pilhagens foi feito um apelo em todas as igrejas, para um momento de oração junto da mesquita com o objetivo de alertar, sensibilizar e evitar a profanação e destruição do templo, mas a participação ficou reduzida a uma vintena de pessoas. Um apelo que caiu no vazio.

Algumas horas mais tarde os martelos começaram a sua ação destruidora, que ninguém tentou evitar. Um espaço que poderia vir a ser aproveitado para outros fins é hoje um montão de destroços.

Da indiferença e silêncio grande parte da população passou a aplaudir as ações das milícias como se de heróis se tratassem. Facto que se verificou quando o grupo de «autodefesa» foi intimar o vice-presidente da câmara a entregar um fugitivo, não muçulmano, vindo de outra localidade, onde era procurado sob a acusação de ter denunciado cristãos às forças da Seleka.

E o mesmo, mas de forma mais discreta quando foram exigir as motas dos muçulmanos escondidas na casa dos padres, onde entraram armados, de forma agressiva e arrogante. As motas, assim como o resto das coisas dos muçulmanos foram entregues na presença do comissário da polícia, (que não tem poder, mas sempre é uma autoridade) com documento de entrega assinado pelos recetores. Apesar da tensão, o padre Jesus conseguiu gerir as coisas de modo que o grupo não aproveitou nada dos bens que no dia seguinte foram entregues aos Anti-balaka sediados a 20 km de Mongoumba.

Não compreendemos esta onda de ódio e violência contra pessoas com quem cresceram e viveram em harmonia numa localidade onde até ao momento nada de mal tinha acontecido, de onde os muçulmanos partiram de forma discreta… não compreendemos este ódio. É verdade que os relatos do que se passou e continua a passar noutras zonas do país influencia de forma negativa toda a gente. Ninguém diz uma palavra a favor dos chadianos sejam da Seleka, da MISCA ou simples civis. Toda a gente fala contra o Chade esquecendo que nem todos os muçulmanos do país são chadianos.

A nossa situação é precária, não somos bem vistos; mesmo tentando agir com a máxima discrição temos tomado algumas medidas impopulares como a suspensão, durante uma semana, de todas as atividades da paróquia (com exceção da missa). Não nos acusaram abertamente de ter protegido os muçulmanos, mas correram rumores que o padre Jesus era visto como pró-chadiano por ter estado vários anos em missões no Chade. Ficamos na expectativa de possíveis ameaças, mas até ao presente nada aconteceu.

Faz algum tempo o silêncio da noite em Mongoumba devia-se ao facto das pessoas saírem para se refugiarem na floresta; hoje também há silêncio, não porque as pessoas partem, mas porque ao cair da noite se recolhem a casa para evitar confrontos numa terra onde não há autoridade e é rara a noite que não se ouvem tiros.

Comparando com o que se tem passado no resto do país e mesmo noutras vilas e aldeias da região a nossa situação continua a ser privilegiada «Deus continua a proteger Mongoumba!»

Mbata, localidade a 40km da nossa, cuja paróquia foi assegurada até Dezembro pelos Missionários Combonianos de Mongoumba, foi parcialmente destruída tendo havido alguns mortos, muçulmanos e não muçulmanos. Hoje, ainda há muitas pessoas a viver na floresta porque não conseguem, por falta de meios, reparar as casas que foram totalmente queimadas.

As situações mais tensas na nossa diocese têm tido lugar nas paróquias de Ngoto e Boda que já foram pilhadas várias vezes, inclusive as missões que da última vez ficaram sem os carros, motas e mesmo alguns móveis. Nessas localidades há conflitos frequentes entre muçulmanos e não muçulmanos sendo o nosso Bispo, D. Rino, o principal mediador entre as duas partes.
As forças francesas e africanas têm tentado em conjunto desarmar e neutralizar os rebeldes da Seleka, que deixaram a capital mas continuam ativos noutras zonas do país. Por outro lado, com a tomada de posição dos «libertadores» Anti-balaka, começou a perseguição aos muçulmanos tendo havido verdadeiros massacres. As milícias Anti-balaka, que se dizem cristãos, são incitados e manipulados por homens com sede do poder. Dom Nzapalainga, arcebispo de Bangui, que desde o início dos conflitos é acompanhado pelo Imã, o líder muçulmano, e por um pastor representante das igrejas protestantes num esforço comum pelo restabelecimento da paz, disse há dias que, em conjunto, pedem que todos os que utilizam e manipulam os jovens sejam responsabilizados a nível nacional e internacional.

No meio de toda esta confusão surgem pequenos sinais de esperança, o Bispo de Bangassou, Dom Aguirre, diz que na sua diocese as milícias de autodefesa foram neutralizadas logo no início pelas comissões de mediação inter-religiosa e que em algumas paróquias iniciou cursos de formação que são frequentados por jovens católicos, protestantes e muçulmanos.
Apesar da instabilidade e tensão em que vivemos temos continuado a trabalhar em todos os projetos de forma normal tentando ser resposta a esta missão a que fomos enviadas. Por vezes é difícil, há momentos de desânimo, mas quem diz que a missão é fácil?

Muitos produtos começam a faltar (sal, açúcar, medicamentos…), os funcionários não recebem os salários e o dinheiro em circulação começa a diminuir, mas… há sempre um mas: as ONGs chegam em força e com as ONGs chegam dinheiro, medicamentos, alimentos, roupas, água potável… e também um emprego bem remunerado mesmo que seja temporário.

Para finalizar apenas tenho a dizer que vale a pena “sofrer” pela missão! É sempre bom sabermos que alguém pensa em nós, que não estamos sós! Continuamos a contar com as vossas orações.

Unidos pela PAZ, um abraço.

Élia Gomes


LMC em Mongoumba, na Rep. Centro-Africana

As forças Seleka, ajudadas por rebeldes chadianos e sudaneses do Darfur, tomaram conta do poder na República Centro-Africana (RCA) em Março do ano passado. Roubavam, destruíam, violavam e matavam cristãos.

Os muçulmanos da RCA viram na Seleka a possibilidade de tomar o poder no país, apesar de representarem somente dez por cento da população. A comunidade internacional interveio para parar a matança contra os cristãos e obrigou o presidente muçulmano a resignar. Os Anti-balaka são a resposta violenta aos Seleka e atacam sobretudo os muçulmanos. Embora pareça uma guerra religiosa, a crise na RCA é uma luta pelo poder político e económica que vai para além das fronteiras do país.

A França e a União Africana enviaram forças para a RCA para por termo à onda de violência, mas a sua missão não é fácil: desarmam os grupos locais mas estes recorrem às machetes.

A situação humanitária é desastrosa e a ação pastoral encontra-se bloqueada pela violência. Mais de 72 mil pessoas foram deslocadas pela violência: a paróquia de Fátima, em Bangui, acolhe três mil refugiados e o postulantado comboniano mais dois mil. Há outros oito mil no seminário diocesano e 40 mil no aeroporto.

A comunidade muçulmana teve que se refugiar no Chade. A instabilidade na RCA ameaça a RD Congo que acolhe uns 40 mil refugiados.


JV

21 de fevereiro de 2014

PARTILHANDO AS DORES, ANSIEDADES E ESPERANÇAS DO POVO


UMA NARRATIVA DOS CONFLITOS DE GUERRA NA MISSÃO DE LEER


«Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.» (Marcos 8:34)

Considerações iniciais – A narrativa que segue não é um relatório oficial dos membros da Família Comboniana que trabalham na missão de Leer sobre o que lá aconteceu no decorrer das últimas três semanas. Pretende ser uma partilha de uma experiência pessoal do que ocorreu na missão de Leer após os conflitos iniciados em Juba no dia 15 de dezembro de 2013 com uma ênfase particular na experiência em que os missionários de Leer vivenciaram recentemente e o que resulta disto. Basicamente representa a experiência pessoal do autor sem, contudo, negligenciar o papel das duas comunidades religiosas envolvidas. Por questão de segurança, alguns nomes de lugares e pessoas serão omitidos.

A missão de Leer e os missionários – A missão de Leer (Paróquia de São José Operário) compreende quatro municípios no sul do estado de Unity: Leer, Koch, Mayiendit e Panyijiar. Situa-se na Diocese de Malakal e foi confiada aos cuidados pastorais dos Missionários Combonianos. Toda a região é habitada pelo povo Nuer. É uma terra rica em petróleo e outros recursos naturais. Atualmente somos cinco missionários combonianos trabalhando em Leer: Pe. Francesco Chemello (Itália), Pe. Raimundo Rocha (Brasil), Pe. Yacob Solomon (Etiópia), Ir. Nicola Bortoli (Itália) e Ir. Peter Fafa (Togo). Em janeiro juntaram-se a nós o seminarista Ketema Dagne (Etiópia) e Pe. Michael Barton (USA). Eles foram lá para aprender a língua Nuer. As Irmãs Missionárias Combonianas são: Ir. Agata Catone (Itália), Ir. Carmirta Júlia (Equador), Ir. Laura Perina (Itália) e Ir. Lorena Morales (Costa Rica). 

Nossos hóspedes – Na sexta-feira dia 10 de janeiro acolhemos o Pe. Stephen e Pe. Ernest Adwok que fugiram dos conflitos em Mayom e Bentiu. Nós os acomodamos juntamente com um casal que veio com eles. O Pe. Joseph Makuey de Rubkona foi para Koch em meio a parentes. Um senhora viúva e comerciante com sua bebê de 17 meses, de Juba, pediu ajuda em nossa comunidade e também a acolhemos no dia 24 de janeiro. Ela caminhou os 130 km de Bentiu a Leer depois de ficar duas semanas no mato. Ela pretence a outra tribo em Juba e não conhece ninguém em Leer.

Os conflitos – Quando a violência começou em Juba no dia 15 de dezembro de 2013, ninguém imaginava que pudesse se espalhar tão rápido e chegar a outras regiões do país. Enquanto nos informávamos sobre o que acontecia em Juba seguíamos nossa vida diária normalmente, mas com preocupação. Logo a violência chegou a Bentiu, 130 km de Leer. Isso gerou mais preocupações. A essa altura o exército se dividiu e a oposição (rebeldes) passou a controlar Bentiu. Combates ocorreram e a população começou a fugir rumo a Leer. Um número estimado de 30 mil pessoas teria chegado a Leer, a maioria a pé. As preocupações aumentaram mais ainda, porém nossa esperança era de que os conflitos não chegassem a Leer.

Os conflitos e mudança de ambiente em Leer – Desde que os conflitos começaram em Bentiu o ambiente mudou em Leer. Tinha dias mais tensos e outros mais calmos, mas nunca aconteceu um combate efetivo na cidade até o dia em que partíamos. O mercado de Leer era o único abastecendo a região com alimentos e outros itens. O movimento de soldados (rebeldes) começou a crescer a cada dia na medida em que as tropas do governo avançavam rumo a Leer. O hospital de Leer dirigido pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF) operava normalmente. Nós, porém, cancelamos todas as atividades pastorais, exceto as missas, e permanecemos em Leer monitorando a situação e informando a Província dos Combonianos e a missão de paz da ONU (UNIMISS) em Bentiu sobre questões de segurança. Recebemos informação de que as tropas do governo estariam avançando rumo a Leer. Na segunda-feira, 13 de janeiro, podia-se ouvir tiros por toda a noite, mas não era combate, eram tiros de alerta. Às 4h00 da manhã alguns catequistas vieram nos avisar que os tiros eram para informar que as tropas do governo teriam chegado a Koch (Tharjath, 55 km de Leer). Tivemos uma reunião de emergência às 5h00 da manhã sobre o que fazer e resolvemos ficar e só deixar a missão em caso de um grande perigo. Os tiros eram de facto para alertar, mas também para assustar o povo e saquear o mercado e as residências quando o povo estivesse em fuga. De facto, foi isso o que ocorreu. A equipe de médicos e enfermeiros estrangeiros dos MSF deixaram o hospital. Tensão e medo aumentaram. A possibilidade para a guerra chegar até Leer era real. A cidade estava com a população aumentada dias antes. Agora parecia uma cidade fantasma. Até aqui o exército em oposição (rebeldes) estava em controlo de Leer. Não tinha combates, mas o povo que fugia não queria voltar. Também não tinha nenhum tipo de ameaças a nós missionários. No domingo, 19 de janeiro, celebramos em quatro localidades diferentes nas proximidades de Leer. Pe. Francesco Chemello tinha ido desde início de janeiro para Mayiendit e Panyijiar, nas áreas mais isoladas. Novamente no domingo, 26 de janeiro, celebramos em seis localidades diferentes onde o povo estava. Dessa vez percebemos que a situação estava piorando. A comida estava diminuindo e a fome chegava. Começava a faltar água, saneamento e remédios. Mais tarde, na mesma semana, duas das irmãs combonianas, Laura e Lorena, resolveram ir ficar junto com o povo. Elas foram para uma comunidade a 6 km de Leer. A essa altura as tropas do governo tinham chegado a Mirmir (21 km de Leer). Combates aconteceram em Mirmir por alguns dias. Podíamos ouvir o som dos tiros de artilharia pesada à distância. Tensões aumentavam, o medo crescia. Os civis que restavam fugiam para o mato e pântanos. A possibilidade para deixar a missão a essa altura era muito difícil, mas não impossível, se alguém desejasse fazê-lo. Porém, decidimos ficar. Na quarta-feira, 29 de janeiro, cinco diferente grupos de soldados/polícia (alguns bêbados) tentaram levar os carros da missão. Conseguimos evitar, mas não sabíamos até quando resistir. O hospital dos MSF e outras propriedades das ONGs já tinham sido saqueados. A propriedade da missão poderia ser a próxima. Eu informei o Provincial que a situação tinha-se tornado muito mais tensa e perigosa e confessei que estava com medo. As duas linhas telefónicas foram desativadas. O único meio de comunicação era a nossa internet. Naquela mesma noite recebemos informações de que na linha de frente das tropas estariam os rebeldes darfurianos que se aliaram ao governo. Eles não nos respeitariam como Igreja como poderiam fazê-lo as tropas do exército. Era um grande perigo para nós. Enquanto isso, eu recebia pedidos de familiares, amigos e combonianos para deixar a missão e voltar depois com meus colegas, mas era muito tarde e já havíamos decidido ficar.

A fuga dos missionários para o mato – No dia 30 de janeiro, depois da oração da manhã, nos reunimos e decidimos deixar a missão e procurar refúgio no mato onde o povo tinha ido. O Pe. Stephen já tinha ido um dia antes com o casal que o acompanhava. Decidimos ir a uma localidade chamada Gandor para encontrarmos o Pe. Stephen, pois ele tinha um telefone via satélite. Arrumamos nossa bagagem, carregamos os carros com comida e outros itens e partimos às 9h45 da manhã. Fiz questão de colocar na minha bolsa a Santa Eucaristia e o necessário para as orações, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, meu velho computador, algumas roupas e outros objetos. Antes de partir, informamos os provinciais sobre para onde estávamos indo. A partir dali não haveria mais comunicação. Não tínhamos muitas opções. Leer está isolada. Seríamos encurralados em qualquer lugar onde fôssemos. Então partimos, mas na esperança de retornar. Agora nos tornamos pessoas deslocadas tal qual o povo. Sem eira, nem beira. O Pe. Michael Barton decidiu ficar na missão. Assim que partimos começaram a saquear a sede da missão e as nossas escolas. Era gente do povo e também militares. O Pe. Michael foi retirado para não lhe acontecer o pior. No caminho encontramos a Ir. Lorena e uma senhora dos grupos da igreja. Estavam indo saber como estávamos. Entraram nos carros e fomos para onde tinham estado. Lá decidimos não ir para Gandor, mas para Beer que era mais longe (28 km de Leer). Alguns catequistas eram nossos guias. Um dos carros atolou na areia e isso atrasou a viagem. Nosso grupo aumentou com a chegada dos catequistas e de um casal de Yambio. Excluindo os Nueres, nós éramos dez missionários, um padre diocesano, uma senhora com uma criança e um casal. A caminho de Beer encontramos o Pe. Stephen. Foi uma alegria. Informamos-lhe sobre nosso destino e ele nos disse que se juntaria a nós mais tarde. Chegamos em Beer finalmente a 1h45 da tarde. Ao chegarmos tomamos um chá com biscoitos e fomos descansar.

O momento mais dramático – Fomos bem recebidos pelos cristãos dessa comunidade e nos acomodamos por achar que estávamos seguros. Pensamos que as tropas do governo chegariam a Leer em breve, mas pela estrada principal. Estávamos a 28 km de Leer e salvos. O que aconteceu, porém, foi que os rebeldes de Darfur, junto com soldados do exército, chegaram até onde estávamos, vindos pelo mato e em uma pequena estrada. Eles nos atacaram uma hora depois da nossa chegada. Eles não batem na porta para entrar, já chegaram atirando. Quando ouvimos os tiros e o som das balas sobre nossas cabeças resolvemos correr levando o que era possível. Eu levei três bolsas e corri com o Pe. Ernest e a senhora com a criança. Todo mundo correu em diversas direções. O tiroteio era intenso. Eu caí três vezes. Deus me deu forças pra levantar-me. Em um dado momento, já exausto, resolvi não correr mais, mas o Pe. Ernest continuou-me dando forças. Um senhor já de idade, a cujo matrimónio eu tinha assistido, apareceu do meio do nada, pôs um lençol no chão para eu deitar e descansar, carregou minha bolsa mais pesada. Foi mandado por Deus. Continuamos a correr e a senhora com a criança ficou para trás. Tinha já entregado outra bolsa para uma irmã. Agora estava mais leve. Mais tiros e mais corrida. A maioria dos tiros era para cima para nos espantar, mas também atiravam contra alguns de nós. Quando nos sentimos completamente exaustos, nos atiramos no capim seco debaixo de algumas palmeiras e ficamos imóveis por mais de uma hora. Não conseguíamos saber se estavam todos vivos ou não. Todos se espalharam. Os tiros foram das três às seis horas. Dois moradores apareceram, nos identificamos e eles seguiram em frente. Mais tarde retornaram com Rebeka, uma senhora da igreja, que nos levou para onde o resto do grupo estava. Foi um alívio perceber que todos estavam vivos. Escapamos da morte por milagre. Sem dúvida Deus nos protegeu. A senhora com a criança e mais três companheiros continuaram sumidos naquela noite, mas fomos informados de que correram para longe e estariam vivos também. Passamos a noite ali naquela casa que nos acolheu. Todos estávamos temerosos e em estado de choque.

Chegando a outra localidade e realidade – De manhã logo cedo seguimos caminhada para uma localidade distante e segura indicada pelos catequistas. Era nos pântanos. Ali estaríamos seguros. Fomos acolhidos pelo dono da casa e ali fizemos nossa morada onde dormiríamos no chão pelos próximos vinte dias. Aos poucos o grupo foi se recompondo. Sentimos-nos tão aliviados e agradecidos a Deus. Ficamos sabendo que uma pessoa foi morta, dois de nossos carros foram levados com toda nossa comida, documentos e outros pertences e um terceiro carro foi incendiado porque não conseguiram levar. Essa ação foi levada a cabo pelos rebeldes Darfurianos e soldados do governo enquanto a população civil e soldados rebeldes saqueavam a nossa missão. Perdemos quase tudo. A maioria no grupo ficou apenas com a roupa do corpo. Compartilhamos nossas roupas e outros objetos com os que pouco tinham. Eu conseguir salvar meus documentos, um velho computador, algumas roupas e o necessário para as missas. O Pe. Jacob também conseguiu salvar alguma coisa. Um pouco de dinheiro foi salvo, o qual usamos para comprar comida. A nova localidade era uma área de verdadeiro pântano. Tem hipopótamos e crocodilos. Fazia muito frio à noite e muito vento durante o dia. Logo se tornou um lugar muito habitado. Muitas famílias vieram ficar no mesmo lugar. Um dia eu pude contar mais de 140 tendas de mosquiteiros com cerca de duas a três pessoas em cada o que chegaria a quase 500 pessoas refugiadas. A comida era escassa. Os cristãos iam atrás de comida para nos alimentar. Conseguimos quatro cabras e um boi. Tudo era partilhado entre o povo. O mesmo fazíamos com o peixe seco. Caça também era parte do cardápio (búfalo, hipopótamo e crocodilo). Bebíamos da mesma água do pântano onde tomávamos banho. Só era preciso fervê-la. Eu levava um pouco de remédio e logo me tornei o médico do grupo. Muitos vinham por um comprimido ou outro. A maioria das crianças tossia e estavam mal nutridas. Essa é a estação das queimadas e para piorar a situação puseram fogo no capim seco. No dia 10 de fevereiro um grande fogo veio em nossa direção. Tivemos que correr outra vez para escapar das chamas e fumaça. Enfim, foi controlado. A lenha dessa pequena floresta foi queimada. Ali era também o nosso ‘banheiro’.

Solidariedade em tempos de dificuldades – Estávamos na mesma situação do povo. Tínhamos muito pouco para nos apoiar, mas ao mesmo tempo tínhamos Deus. De facto, todo fim de tarde celebramos a Eucaristia em um pequeno altar improvisado com o povo sentado no chão. Estávamos certos que muita gente rezava por nós e connosco em todo o mundo. Nunca perdemos a esperança de sairmos daquele lugar. O maior desafio era a comunicação. Dois catequistas e dois missionários caminharam três horas até encontrar um telefone via satélite com o qual conseguiram se comunicar com os Combonianos e a ONU em Juba. Agora nos sentíamos mais tranquilos, pois nossos confrades, familiares e amigos saberiam onde estávamos e que estávamos bem. Ficamos sabendo que o Pe. Francisco Chemello ainda estava em Panyinjiar e o Pe. Michael Barton tinha chegado à missão de Old Fangak após dois dias de barco. Também o Pe. Stephen tinha sido levado para Bentiu e estava bem. Nossa esperança era de que a ONU, através da missão de paz, pudesse nos resgatar de onde estávamos, mas eles não fazem mais operação de resgate porque um de seus helicópteros foi derrubado no ano passado. Intensificamos nossas orações. Tínhamos todo apoio possível dos cristãos. Se por um lado as mesmas pessoas que tentávamos ajudar e servir, incluindo alguns cristãos, saquearam a missão, por outro lado a solidariedade e compromisso de alguns cristãos nos fizeram sentir orgulho deles. Comemos pouco, mas nunca faltou comida. Partilharam o pouco que tinham. O principal catequista de Leer caminhou dois dias a nossa procura até nos encontrar. Vendeu uma cabra para ajudar seu filho paraplégico e partilhou o dinheiro connosco. Eram muitos sinais como estes. Também estávamos preocupados e ansiosos sobre eles porque quanto mais tempo ficássemos por lá, mais difícil seria para eles encontrar comida para nós. Sentíamos-nos um peso para eles. Porém, a única forma de sairmos de lá era poder chegar até Leer onde tem a pista de pouso. Então, escrevi uma carta ao comissário para saber se era seguro irmos a Leer e se podíamos ficar em nossa casa na missão. Ao mesmo tempo o comissário procurava por nós, mas sem sucesso. Quando recebemos sua resposta dizendo que poderíamos ir até à estrada principal onde ele nos pegaria de carro, decidimos partir na madrugada do dia seguinte. Partimos às 6h00 da manhã com frio e sob a luz da lua. Caminhamos por quatro horas. A Ir. Agata de 67 anos foi uma heroína. Alguns cristãos caminharam connosco até Mirmir. Caminhávamos com medo, pois alguns jovens armados nos ameaçavam de ataque porque para eles a nossa presença atrairia os soldados. Quando chegamos a Mirmir, ficamos sabendo que os carros do comissário tinham ido para outra direção para nos pegar lá. Assim tivemos que ficar dois dias em Mirmir. Os soldados foram muito amigáveis, sem animosidade. Ofereceram-nos comida, mosquiteiros e colchões para passarmos a noite. Dormimos na capela. O transporte chegou no dia seguinte. Depois ficamos sabendo que a causa foi uma emboscada armada pelos rebeldes. As tropas tiveram que os repulsar e limpar o caminho entre Leer e Mirmir. Finalmente o transporte chegou e fomos levados para Leer, mas com medo de uma emboscada. Felizmente nada aconteceu. Chegamos em Leer no domingo, 16 de fevereiro, às 6h00 da tarde e fomos para nossas casas. Era de partir o coração ver que nossas casas foram saqueadas. Somente as casas restavam com portas, portões e banheiros danificados. Tudo mais tinha sido levado pelo povo e soldados. Não tocaram na igreja, mas as construções em material local do centro catequético foram queimadas e algumas cabanas da igreja. É muito triste ver o que levou anos de muito trabalho e investimento ser destruído e saqueado. Porém, nossas vidas e nossa fé não as levaram. Agora a possibilidade de ir para Juba era mais real e naquela noite celebramos uma missa em ação de graças por termos chegados até aqui.

Ida a Juba – No dia 16 de fevereiro fomos informados de que haveria um voo no dia seguinte, mas somente com quatro assentos disponíveis. Fizemos uma reunião para discernimos e decidimos quem seriam os quatro primeiros passageiros a ir para Juba. Decidimos que os com alguma enfermidade viajariam primeiro. Eram Ir. Agata, a senhora com a bebê doente, uma senhora de idade e a Ir. Carmita. Elas viajaram num avião Caravan Cesna da ONU. Os outros nove permanecemos em Leer por mais dois dias. Isso nos permitiu limpar a bagunça e recuperar alguns livros deixados pelo chão. Recebemos mais comida que foi somada a outra trazida de Juba no avião. Finalmente partimos de Leer para Juba no dia 20 de fevereiro às 2h30 da tarde num helicóptero Mi8 da ONU. Depois de uma parada em Rumbek para reabastecimento seguimos para Juba onde chegamos às 5h45 da tarde todos cansados mas felizes. Fomos bem acolhidos pelos missionários e missionárias de Juba. Reencontrámos o Pe. Francisco Chemello. Na mesma noite conseguir ligar para minha mãe, irmã e sobrinho para dar notícias. Enquanto exultávamos, nossas mentes e corações estavam com o nosso povo em Leer que ficou para trás no mato e pântano sem comida, água tratada, saneamento, abrigo e remédios.

Decisão de ficar em Leer – Em Leer mesmo, até o dia em que lá ficamos, não teve combates. Quando os rebeldes Darfurianos e as forças do governo lá chegaram a cidade estava deserta. O povo tinha ido para o mato, incluindo os rebeldes. Mesmo assim eles queimaram todas as cabanas/casas construídas em material local como capim. Somente as construções de tijolo e zinco permanecem. Há informações de que algumas pessoas morreram e algumas mulheres foram violentadas. Uma mulher teria sido violentada por sete homens. Toda a população e alguns milhares de pessoas de Bentiu continuam no mato e pântanos. Somente algumas mulheres chegam a Leer a procura de alimento. Os homens não vêm por medo. Muita gente de Bentiu vai a Leer na esperança de ser levada de volta para suas casas. As tropas do governo controlam Leer. Enquanto tudo isso acontecia muita gente se perguntava porque decidimos ficar em Leer quando se sabia que era muito perigoso. Quanto a isto eu partilho minha opinião a qual pode coincidir com a dos meus colegas missionários. Na verdade, para ser sincero, eu estava com medo e fui o único que expressou abertamente o desejo de sair para Juba caso percebesse que minha vida estivesse em perigo e fosse seguro um avião pousar em Leer. Isto eu informei ao provincial por email. Alguns membros da minha família, amigos e outros missionários também me motivaram a deixar a missão a tempo e retornar depois com meus colegas. A questão que sempre me fazia era quando minha vida estaria em perigo e quando seria o momento certo de partir e como. Não foi um discernimento fácil. O que mais pesou em minha decisão de ficar foi o facto de, se eu deixasse Leer para ir a Juba, deixando para trás os meus colegas sozinhos numa situação de perigo onde poderiam perder a própria vida, eu nunca me perdoaria por tal atitude. Minha comunidade religiosa é minha família e eu nunca abandonaria minha família. Eu preferiria enfrentar dificuldades, até mesmo encarar a morte, a permanecer vivo e seguro na dor e sofrimento. Esse foi um dos meus sentimentos. No caso das duas comunidades religiosas (missionárias e missionários combonianos) o que nos fez ficar basicamente foi a esperança de que as tropas do governo não chegassem a Leer e não ocorresse nenhum combate. Se eles viessem de qualquer modo, esperávamos que nos respeitassem como igreja e não saqueassem a propriedade da missão. Também esperávamos que o acordo de paz para cessar-fogo e fim das hostilidades pudesse ser respeitado e implementado e os conflitos pudessem terminar em breve, mas o acordo foi violado a violência aumentou. Além disso, achamos que nossa presença em Leer de alguma forma inibiria as atrocidades e violência contras os civis inocentes. Queríamos ao mesmo tempo ser sinal de esperança para o nosso povo e nos fazer solidários com eles. Estávamos lá para eles, ficaríamos com eles. Porém, estávamos muito conscientes dos riscos. Não fomos ingénuos, não subestimamos a situação e não queríamos colocar ninguém em perigo. Fizemos nossa opção missionária. Consideramos, no entanto, o facto de nos refugiar no mato se realmente fosse necessário, mas permanecendo em Leer. De facto, foi o que aconteceu. Em todo o processo tentamos tomar as decisões juntos. Ambos os Superiores Provinciais das irmãs e dos combonianos respeitaram nossa decisão e nos apoiaram. Nenhuma decisão foi imposta. Foi nossa escolha livre e consciente e nunca nos sentimos negligenciados.

Considerações finais – Agora nos encontramos em Juba nos recuperando do cansaço e estresse. Juba é segura. Continuaremos a monitorizar a situação em Leer até onde podemos e no resto do país. Esperamos e rezamos para que essa guerra acabe logo e a paz possa ser reestabelecida. Sou muito agradecido ao Deus da vida e do amor por tudo que tem feito por mim, meus colegas, as irmãs e pelo povo que nos ajudou. Quero agradecer cada pessoa que tem rezado por nós e por nossa segurança, vida e resgate. Deus ouviu as orações de vocês e as nossas. Eu creio em milagres. Eles aconteceram. Agora estamos bem, mas nosso povo está sofrendo no mato e pântanos. Por favor rezem por eles e façam o que puderem para ajudá-los. Muito obrigado ao Ir. Peppo e a Ir. Anna em Juba que mobilizaram ‘metade do mundo’ para nos trazer a Juba. Muitos agradecimentos também ao Provincial Pe. Daniele Moschetti e à Provincial Sr. Giovanna pela confiança e apoio. Obrigado ao Pe. Daniele Moschetti e aos Combonianos no Brasil que manifestaram sua solidariedade e mantiveram minha família informada. Agradecimentos à Missão de Paz da ONU (UNIMISS) por coordenar os voos de evacuação. Também meu imenso agradecimento a todos os cristãos e demais pessoas em Leer que nos ajudaram de uma forma ou de outra. Ainda estou me recompondo e tentando dar sentido a muitas coisas, mas me sinto feliz por ser um missionário membro da Família Comboniana.

Que São Daniel Comboni e Santa Josefina Bakhita intercedam por nós e pelos povos do Sudão do Sul. Fiquem com Deus e muito axé. 
Em Cristo,
Pe. Raimundo Rocha, mccj
Pároco de Leer

Juba, 21 de fevereiro de 2014.

PAPA ELEGE COMBONIANO PARA BISPO NO UGANDA


O Santo Padre escolheu um missionário comboniano italiano para bispo de a uma diocese no nordeste do Uganda.

O Papa Francisco nomeou o padre Damiano Giulio Guzzetti bispo de Moroto a 20 de Fevereiro, disse o Serviço de Informação do Vaticano.

O Superior Provincial dos Combonianos no Uganda, padre Hategek'Imana Sylvester, disse que a nomeação do padre Guzzetti para Bispo de Moroto «marca uma nova era da presença comboniana na zona.»

O primeiro bispo de Moroto era comboniano. Seguiram-lhe dois diocesanos ugandeses.

O padre Guzzetti é italiano e tem 54 anos.

O bispo-eleito foi ordenado padre em 1989 depois de cursar teologia no Uganda e Quénia.

Desenvolveu o seu trabalho missionário em várias paróquias da diocese de Moroto entre o povo Karimojong desde 1994 até 2013.

Também foi conselheiro da província do Uganda, formador do postulando de Jinja e professor no Centro de Filosofia Rainha dos Apóstolos na mesma localidade.

Fazia parte da comunidade comboniana de Venegono, no norte de Itália, desde o ano passado.

A diocese de Moroto cobre uma área de quase 15 mil quilómetros quadrados com uma população de 470 mil habitantes. Metade é católica.

O padre Guzzetti sucede ao bispo Henry Apaloryamam Ssentongo, que resignou devido ao limite de idade.

Há outros dois bispos combonianos no Uganda: Dom Giuseppe Filippi é bispo de Kotido e Dom Giuseppi Franselli de Lira.


Há 110 Missionários Combonianos a trabalhar em 28 comunidades, incluindo os padres Germano Serra e José Domingues e o irmão Eduardo Freitas.

MISSIONÁRIOS DE LEER SOBREVIVEM «MOMENTOS MUITO DRAMÁTICOS E DIFÍCEIS»

Caros amigos e amigas,

Paz.

Estou muito feliz em poder informar-lhes que eu e meus colegas missionários combonianos/as chegamos em Juba com segurança na tarde de quinta-feira às 6.00 horas em um helicóptero da ONU/UNIMISS.

Passamos por momentos muito dramáticos e difíceis. Quase perdemos nossas vidas. Nossa missão foi completamente saqueada. A cidade de Leer foi incendiada. O povo ainda está refugiado no mato e nos pântanos sem comida, água potável e remédios.

Muita coisa ruim aconteceu, mas também experimentamos o apoio e solidariedade de tantos bons cristãos que partilharam um pouco de sua comida e abrigo connosco e, além disso, arriscaram suas vidas para salvar a nossa.

A decisão de permanecer na missão apesar do perigo foi inteiramente nossa dos missionários de Leer que quisemos ficar com nosso povo.

Quando deixamos a missão para o mato no dia 30 de janeiro eu fiz questão de colocar na minha bolsa a Santa Eucaristia e uma pequena imagem de Nossa Senhora Aparecida do Brasil.

Nós estamos muito certos de que Deus sempre esteve ao nosso lado, nos protegendo e nos mostrando o caminho.

Agora estamos em Juba, capital do Sudão do Sul, somente cansados, mas bem.

Eu escreverei a vocês em breve relatando o que aconteceu desde o dia em que deixamos a igreja em Leer e fomos para o mato junto com o povo.

Muito obrigado pelo apoio e orações de vocês. Elas ajudaram muito. Continuem rezando para que haja paz e pelo povo que está sofrendo no mato.

Fiquem com Deus e muito axé.
 Pe. Raimundo Rocha
Missionário Comboniano de Leer em Juba, Sudão do Sul


20 de fevereiro de 2014

MENSAGEM DE SOLIDARIEADE AOS MISSIONÀRIOS NO SUDÃO DO SUL E REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA


Roma, 20 de Fevereiro de 2014

«Consolai, consolai o meu povo, é o vosso Deus quem o diz...» (Is 40, 1)

Queridos irmãos, irmãs e LMCs de
            Sudão do Sul
            e República Centro-africana

Saudamos-vos no nome do Senhor da Missão.

Durante estas duas semanas de encontro, oração e reflexão que nós, superiores das circunscrições, tivemos com a direção-geral do nosso instituto, seguimos com preocupação a situação de violência em curso nos vossos países. Recusamos a indiferença e por isso vos dirigimos estas palavras de comunhão e fraternidade.

Dor e morte continuam a marcar indelevelmente o caminho da missão. O testemunho de presença, de «estar com» de todos vós nesta realidade de violência irracional e injustificada leva-nos a animar-vos a descobrir que São Daniel Comboni continua a amar e a fazer causa comum com os mais pobres e abandonados da África de hoje através da vossa presença. O vosso testemunho torna a sua presença viva e atual.

Estamos igualmente conscientes dos interesses políticos e económicos que provocaram uma crise profunda opondo os componentes de uma sociedade multiétnica e multirreligiosa. Fragilizou-se assim a convivência pacífica e fraterna de longos anos partilhados num mesmo território. A crise humanitária gerada não tem precedentes. Também sabemos que as portas de muitas das nossas paróquias e casas de formação foram abertas para acolher, acompanhar e consolar milhares de refugiados e deslocados. É, sem dúvida, uma faceta do ministério missionário da «consolação» de um povo em busca de paz. Comungamos dos vossos riscos e perigos, solidariedade e coragem.

Recordamos-vos as palavras que o nosso pai e inspirador escreveu uma semana antes de morrer: «Que aconteça tudo o quer Deus quiser. Deus nunca abandona quem nele confia. Ele é o protetor da inocência e o vingador da justiça. Eu sou feliz na cruz, que levada de boa vontade por amor de Deus gera o triunfo e a vida eterna» (Escritos 7246). E as suas palavras no leito de morte: «Coragem para o presente, mas sobretudo para o futuro.»

Rezamos para que cesse todo o tipo de violência e de violação dos direitos humanos, para que a paz, a justiça e a reconciliação rompam o horizonte do «humanamente impossível» e encontrem um lugar no coração dos homens e mulheres de boa vontade nos vossos países.

Abraçamos-vos com ternura e carinho e temos-vos presentes nas nossas orações e nos nossos corações. Que São Daniel Comboni cuide de cada um de vocês e das pessoas que vos foram confiadas.

Superior-geral e seu conselho
Superiores províncias/delegados
Direção-geral
Missionários Combonianos

18 de fevereiro de 2014

ABRE, SENHOR, OS NOSSOS OLHOS

Oração por um futuro alimentar sustentável no Ano Internacional da Agricultura Familiar

2014 foi declarado Ano Internacional da Agricultura Familiar. Há um grande movimento de opinião que se bate contra o açambarcamento de terras pelas multinacionais da indústria agroalimentar e as dificuldades de acesso aos recursos produtivos (terra, água, sementes de qualidade, alfaias…) pelos pequenos criadores e produtores agrícolas.
A agricultura familiar é uma peça-chave na luta contra a fome e pobreza, tendo em conta que nos países em desenvolvimento há uma população agrícola entre os 50 e 80 por cento. O temo do investimento agrícola a nível familiar é crucial.

Sabias que…
- 870 milhões de pessoas ainda sofrem de fome crónica? Entre as crianças, estima-se que 171 milhões com menos de cinco anos sofrem de malnutrição crónica, quase 104 milhões têm falta de peso e uns 55 milhões sofrem de malnutrição aguda?
Abre, Senhor, os nossos olhos e não permitas que o esqueçamos nas nossas opções de vida.

-A crise dos preços da comida, a crise energética e ambiental mostram os limites do modelo de produção agrícola dominante, governado pelas multinacionais da agroindústria?
Abre, Senhor, os nossos olhos e que não deixemos o teu Reino de justiça, paz e fraternidade.

- A agricultura é praticada em 38,5 por cento da superfície terrestre e que o cultivo produz mais de 84 por cento dos alimentos do mundo?
Abre, Senhor, os nossos olhos e cantaremos a tua glória respeitando a ordem da criação e cuidando do meio ambiente e seus recursos.

- 43 por cento da população ativa mundial está empregada no sector agrícola e que esta percentagem sobe para 53 por cento nos países em desenvolvimento?
Abre, Senhor, os nossos olhos e faz-nos promotores de uma «cultura de encontro e de solidariedade.»

- Mais de dois terços dos 1400 milhões de pessoas que vivem em situação de pobreza extrema residem nas áreas rurais dos países em desenvolvimento e que a nível mundial 1500 milhões de lares vivem da agricultura familiar?
Abre, Senhor, os nossos olhos e reaviva o nosso compromisso pela justiça trabalhando para que todos possam viver com dignidade.

- A agricultura familiar assegura 75 por cento da produção agrícola e responde a 80 por cento da demanda dos mercados internos?
Abre, Senhor, os nossos olhos e que sejamos sensíveis a promover o desenvolvimento sustentável dos sistemas agrários baseados na família.

Jesus de Nazaré, Deus feito homem, tu também tiveste muito carinho pela natureza. A terra e as árvores, os animais e a água, as flores foram boa-nova no anúncio do teu Reino de amor e de serviço.
Entre as muitas coisas lindas que disseste sobre a criação, recordo com satisfação aquilo que traz o teu discípulo João: «Eu sou a videira e vocês são os sarmentos ou ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, produz muito fruto, mas sem mim nada podem fazer.» E outro: «Vocês não me escolheram a mim; sou eu que vos escolhi e os enviei para irem produzir frutos abundantes.» Saber tudo isto me dá muita alegria. Somos ramos da única árvore da vida que és tu, Jesus Cristo.


Queremos, Senhor Jesus, partilhar o teu amor por toda a criação. Dá-nos sabedoria e capacidade para usar a terra sem a destruir e poder deixar aos vindouros um espaço de vida em boas condições. Ajuda-nos a trabalhar pela dignidade de cada ser humano e dá-nos coragem para que consigamos melhores condições de vida para as famílias rurais e também uma distribuição justa da terra. Ajuda-nos, Senhor, a trabalhar pela promoção pessoal e comunitária dos nossos irmãos do campo, para conseguir um mundo mais justo, humano e fraterno. Porque só assim a terra poderá cantar os teus louvores pois «a glória de Deus é a pessoa vivente.» Ámen. 

Para veres a oração completa, carrega AQUI.

17 de fevereiro de 2014

MISSIONÁRIOS DE LEER VOLTAM A CASA

Leer: Escola Técnica Daniel Comboni – foto aérea tirada em Novembro © JVieira

A equipa missionária de Leer regressou a casa no domingo depois de 17 dias nos matos do estado de Unidade, no Sudão do Sul.

As quatro irmãs, dois padres, dois irmãos e um seminarista maior combonianos refugiaram-se na floresta a 31 de Janeiro para escapar aos combates para a retoma de Leer pelas tropas do governo ajudados por rebeldes do Darfur sudanês.

O superior provincial dos Combonianos no Sudão do Sul, padre Daniel Moschetti, escreveu numa mensagem eletrónica enviada no domingo à noite que as nove missionárias e missionários tinham regressado a Leer no domingo à tarde.

Os missionários estão todos bem de saúde apesar das dificuldades por que passaram.

O P. Moschetti adiantou que iriam permanecer um ou dois dias em Leer para fazer o levantamento dos danos causados durante as pilhagens de rebeldes e civis a 31 de Janeiro às casas dos missionários, à paróquia e à escola técnica.

Esta tarde devem voar para Juba para um período de descanso.

O superior provincial agradeceu às muitas pessoas, autoridades e organismos que que colaboraram no resgate dos missionários durante as duas últimas semanas e às pessoas que acompanharam a odisseias com preocupação e através da oração.


O superior da comunidade, padre Francisco Chemello, que se encontrava há dois meses a visitar a pé as zonas mais remotas da missão, também deve ser evacuado hoje de Ganylel para Juba através de um voo humanitário que transporta alimentos para os deslocados.

16 de fevereiro de 2014

AUTORIDADES LOCALIZAM MISSIONÁRIOS DE LEER

Leer em chamas depois da batalha entre governo e rebeldes

As autoridades de Leer localizaram a comunidade comboniana que se refugiou há 17 dias no mato e iniciaram o processo de resgate.

A irmã comboniana Anna Gastaldello enviou de Juba um e-mail a dizer que o comissário de Leer a informou que tinha localizado as quatro irmãs, dois padres, dois irmãos e um estudante perto do porto de Adok depois de duas expedições falhadas à região de Buuth onde o grupo originalmente se refugiara.

O comissário disse que duas mulheres chegaram a Leer com uma carta do padre Raimundo Rocha, o pároco de Leer, a dar conta do local onde se encontravam com mais cinco cristãos.

Escreveu que estavam todos bem apesar da falta de comida.

O comissário decidiu enviar as duas emissárias de volta com uma mensagem a pedir aos missionários que se dirigissem para a estrada principal a fim de serem transportados para Leer.

As missionárias e missionários combonianos deixaram a missão de Leer a 31 de Janeiro, antes de tropas do governo iniciarem o ataque para tomarem a cidade aos rebeldes com a ajuda de mercenários do Darfur.

Desde então têm mantido contactos esporádicos com a comunidade comboniana em Juba que está a tratar da sua evacuação por ar logo que cheguem a Leer.

Populares e rebeldes saquearam as residências das missionárias e dos missionários e a escola técnica Daniel Comboni antes da tomada da cidade que é a terra natal de Riek Machar Teny, o líder da oposição ao Presidente Salva Kiir Mayardit.

O Padre Francis Chemello, superior da comunidade, encontra-se noutra parte à espera de evacuação depois de ter sido surpreendido pelo conflito durante uma viagem pastoral às zonas mas remotas da paróquia só possível durante a estação seca.

O Padre Michael Barton encontra-se a na missão de Old Fangak depois de uma viagem de dois dias por rio.


11 de fevereiro de 2014

CONGO DE PRATA

Os Missionários Combonianos estão a celebrar 50 anos de presença na República Democrática do Congo.

O Jubileu do Cinquentenário está a ser celebrado sob o tema «Combonianos 50 anos no Congo: uma história de doação e de esperança» entre 15 de Dezembro de 2013 e 23 de Novembro de 2014.

Os primeiros oito missionários chegaram ao então Zaire a 8 de Dezembro de 1963 e quatro deles foram martirizados durante a rebelião Simba entre 24 de Novembro e 2 de Dezembro do ano seguinte, um pacto de sangue entre a congregação e o país.

Até agora, 185 missionários combonianos, padres e irmãos, passaram pelo Congo. Dentre eles há um bom número de portugueses.

Destaca-se o irmão Joaquim Mota Gaspar Cebola que faleceu em Dungu a 16 de Setembro de 1979, aos 30 anos de idade.

Hoje, a província tem 17 comunidades, servidas por 52 padres e 21 irmãos, incluindo três padres portugueses.

O padre Mumbere Musanga Joseph, superior provincial do Congo, disse que o país «se tornou terra fértil para o carisma comboniano.» 

Os Combonianos contam com 67 missionários de origem congolesa.

A província do Congo tem uns 200 leigos missionários combonianos empenhados na evangelização e animação missionária e vocacional no próprio país.

O padre Mumbere explicou que a província está a investir na formação de leigos e religiosos em quatro centros com grupos paroquiais e animadores missionários através de investigação, retiros, catequese e pastoral na linha da metodologia de Daniel Comboni de salvar a África com a África.

Oremos:

Nós te damos graças, Pai muito santo,
Pelos 50 anos de trabalho missionário
Que nos permitiste de cumprir no Congo.
Apesar das nossas falhas,
Tu nos enviaste a evangelizar
Os mais pobres e abandonados
Seguindo os passos de São Daniel Comboni.

Dá-nos a luz e a força do teu Espírito
Para sermos santos e capazes,
Para continuarmos a dar-nos com esperança
E para compreender e fazer a tua vontade
Na fidelidade ao carisma do nosso Fundador.

Que a Santa Virgem Maria,
Estrela da Evangelização e Rainha da África,
Interceda por nós.

Nós te pedimos por Cristo nosso Senhor.

Ámen! 

9 de fevereiro de 2014

SUPERIORES DE CIRCUNSCRIÇÃO

© APinto

Os superiores das circunscrições dos Missionários Combonianos começaram no Domingo um encontro de duas semanas com o governo do Instituto para reforçar a comunhão e acolher o serviço de autoridade.

Vinte e sete superiores provinciais e superiores de delegação da Europa, África, Américas e Ásia estão reunidos com onze elementos da Direção-Geral na Casa Generalícia em Roma, Itália, até 23 de Fevereiro.

O superior-geral, P. Enrique Sánchez Gonzáles, disse na sessão de abertura que o encontro é «um momento de comunhão, partilha e fraternidade».

Acrescentou que o encontro é também uma ocasião para rezar juntos e uns pelos outros e de discernimento para o Capítulo Geral de 2015.

Durante a missa, na parte da manhã, o P. Enrique evocou o Sudão, Sudão do Sul e República da África Central como «situações que nos desafiam.»

Durante as duas semanas em Roma, os participantes vão ter oportunidade de refletir juntos sobre a autoridade como serviço, conhecer melhor o funcionamento da cúria e os seus elementos e rever as diversas áreas da vida do Instituto.

Os participantes irão visitar Viterbo, a cidade dos papas, e as catacumbas de São Pancrácio, em Roma.
João XXI, o único papa português, morreu em Viterbo quando o teto do seu palácio desabou sobre ele.


O palácio estava em construção.

7 de fevereiro de 2014

CRIANÇA SOFRE

A UNICEF publicou em Janeiro o relatório «Estado Mundial da Criança 2014» que contém informações chocantes.

Há no mundo 2.2 mil milhões de crianças com menos de 18 anos.

18 mil crianças com menos de cinco anos morrem por dia, uma média de mais de 12 crianças a morrer por minuto. Muitas das doenças que as matam são facilmente curáveis, como a diarreia.

São africanos os 17 países com índices mais elevados de mortalidade infantil. 

Serra Leoa está no topo: 18,2 por cento das crianças  morrem antes dos cinco anos.  Em Angola são 16,4 por cento e no Chade 15 por cento. A média mundial é de 4,8 por cento e a de Portugal é de 0,4 por cento, um dos índices mais baixos do mundo. 

3.2 milhões de crianças com menos de 5 anos morreram na África subsariana, a zona do mundo com a mortalidade infantil mais elevada.

Mas também há boas notícias: os índices de mortalidade infantil baixaram nos últimos 20 anos e hoje há mais 90 milhões de crianças vivas devido aos melhoramentos da condição da infância. 

Outros dados a reter: em 2012 6.6 milhões de crianças morreram de doenças fáceis de tratar; 15 por cento começam a trabalhar antes dos 18 anos não tendo direito a estudar e a brincar; 11 por cento das meninas casam antes de fazerem 15 anos.

2 de fevereiro de 2014

MISSIONÁRIOS DE LEER ESTÃO BEM

Comboniano brasileiro Padre Raimundo Rocha, pároco de Leer, com alunos da pré-escola

A equipa missionária de Leer, no Sudão do Sul, encontra-se bem e a Cruz Vermelha está a tratar do seu transporte do campo de refugiados onde se encontra.

Quatro missionárias e cinco missionários combonianos encontravam-se incontactáveis desde sexta-feira quando decidiram refugiar-se no mato para escapar ao ataque que o exército estava a montar com a ajuda de rebeldes sudaneses do Darfur a Leer, a terra natal do líder da oposição ao Presidente da República.

O padre Stephen Ochir disse-me esta manhã em conversa telefónica desde Bentiu, a capital do estado sul-sudanês de Unidade onde também se encontra Leer, que os missionários estavam bem num campo de refugiados e que a Cruz Vermelha estava a tratar do seu transporte para Leer e depois para Bentiu.

Os missionários decidiram evacuar a missão na sexta-feira de manhã e levaram consigo dois telemóveis-satélite e três viaturas, mas não deram sinais de vida desde a última mensagem enviada pela internet.

No sábado, o padre Ochir viu em Bentiu um carro da missão de Leer com uma metralhadora pesada montada na carroçaria.

Tudo indica que os missionários foram interceptados pelo exército durante a fuga para o mato e os militares confiscaram as viaturas e os telemóveis.

O padre Ochir pediu ao Governador de Unidade para localizar os missionários através do exército no que foi bem sucedido.

O Governador também ordenou ao exército que segurasse a missão de Leer para evitar pilhagens.

As tropas do governo, auxiliadas pelos rebeldes do JEM, o Movimento de Justiça e Igualdade, do Darfur, entraram no sábado em Leer, a cidade natal de Riek Machar Teny e da sua esposa Angelina Teny, acusados de liderar a revolta contra o presidente Salva Kiir Mayardit que descambou num banho de sangue.


Desde 15 de Dezembro, quando os confrontos começaram em Juba, mais de 10 pessoas foram mortas e cerca de 800 deslocadas pelo conflito que se alastrou aos estados de Jonglei, Nilo Superior e Unidade.