22 de junho de 2024

TROCA DE OLHARES


Fátima e Rocio são duas lindas e alegres jovens universitárias madrilenas de 21 anos. Estudam economia em universidades diferentes nas vertentes política e filosófica.

Decidiram passar um mês e meio das suas férias em voluntariado na Etiópia. Entraram em contacto com as Missionárias da Caridade, as irmãs de Santa Teresa de Calcutá, em Adis-Abeba, a capital etíope.

Após chegarem à terra das origens, foram destinadas à comunidade de Hawassa para alegrarem os dias das crianças na casa de acolhimento das missionárias. Algumas a serem tratadas à tuberculose ou à malnutrição, outras internadas devido a deficiências várias, outras ainda acompanhando as mães em tratamento.

Aproveitaram a vinda do Administrador Apostólico de Hawassa, o comboniano espanhol P. Juan Núñez, a Soddu Abala para confirmar mais de 500 católicos para conhecerem o povo guji.

Ficaram hospedadas na casa das Missionárias da Caridade em Adola, onde eu também estava para o fim-de-semana de pastoral naquela parte da paróquia.

Durante as refeições trocamos muitas impressões sobre as suas vivências em Hawassa. 

As duas voluntárias manifestaram a alegria de poderem dedicar algum do seu tempo de férias às crianças da casa de acolhimento das Missionárias da Caridade em Adola, através de jogos e brincadeiras.

Confessaram que, vindas de Madrid, estavam muito chocadas com a pobreza que encontraram.

Expliquei-lhes que os etíopes vivem muito melhor agora que há três décadas atrás, altura em que cheguei pela primeira vez ao país. 

Sobretudo, os gujis, que eu conheço melhor. Tornaram-se agricultores – no passado viviam sobretudo do gado – e agora comem melhor, têm casas melhores, vestem melhor, a saúde melhorou muito e a escolaridade também.

Perguntaram-me como é que eu reajo frente à pobreza.

Os missionários ajudamos as pessoas quando e com o que pudemos, expliquei. 

Recentemente, fui com as Missionárias da Caridade distribuir uma farinha especial para combater a malnutrição na capela de Oda Butta, uma zona muito baixa e quente onde muitas pessoas passam mal. 

Às vezes, trazemos mães e bebés malnutridos ou doentes para a casa de acolhimento das irmãs. Quando uma mãe dá à luz, oferecemos-lhe algum dinheiro para comprar roupa para o bebé. Também transportamos doentes ao hospital.

A escola e as duas bibliotecas que mantemos são outros tantos modos de combater a pobreza. A educação abre portas para um futuro melhor.

Expliquei que a pobreza não me disturba, mas prefiro contemplar a beleza, a hospitalidade e a alegria dos etíopes.

Os etíopes são das pessoas mais belas do mundo, disse. Elas concordaram.

E são muito hospitaleiros. Nas caminhadas para as capelas, ao cruzar-me com um pequeno pastor a apascentar o gado, se ele estiver a comer uma espiga de milho, parte-a ao meio e partilha-a comigo. Aconteceu-me várias vezes.

Apesar de saber que é a única comida que o miúdo tem até ir para casa, à noite, eu era um grande mal educado se não aceitasse. 

Quando vivia no Sudão do Sul e olhava para os seus rostos, havia algo que me escapava, que os etíopes tinham e os sul-sudaneses não. 

Um dia se fez luz: faltava-lhes o olhar sorridente dos abissínios. A violência e a guerra em que quase permanente viviam desde os anos 50 do outro século, deixou-lhes um olhar sofrido, triste.

A Fátima e a Rocio aproveitaram os tempos livres em Adola para interagir com as crianças na casa der acolhimento. Elas não sabem guji nem a miudagem inglês ou castelhano. Mas era lindo de ver a algazarra que os jogos e as brincadeiras produziam.

Voltaram para Hawassa para continuar com a experiência na casa das missionárias. No fim de julho regressam a Espanha. Muito mais felizes, acho eu!

Ah! Também estiveram na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa. Confessaram que adoraram a experiência e louvaram a organização impecável do evento.

Gracias, hermanitas, ¡por vuestra visita generosa a Etiopía! Me encantó conocerlas. 

15 de junho de 2024

FINALMENTE, A BÍBLIA EM GUJI



Kitaaba Woyyicha, a Bíblia Sagrada em língua guji, foi apresentada ao público numa cerimónia muito concorrida em Adis Abeba, capital da Etiópia, no dia 12 de maio de 2024.

A tradução ecuménica de toda a Bíblia para guji teve início no ano 2000 e demorou mais de duas décadas a ser concluída. 

O Novo Testamento em guji foi publicado em 2007.

A equipa principal de tradutores era composta por membros das Igrejas Católica, Luterana, Luz da Vida e Palavra da Vida. Muitas outras Igrejas participaram também no projeto com apoio técnico e financeiro.

O P. Pedro Pablo Hernández, missionário comboniano, evangelizador entre os gujis em Galcha, Haro Wato e Qillenso-Adola durante mais de duas décadas, apresentou uma mensagem do Administrador Apostólico de Hawassa, o comboniano P. Juan Núñez, na cerimónia de apresentação.

«A partir de agora, o povo guji poderá ler a Palavra de Deus na sua língua materna. Isto torna-a mais familiar e mais próxima deles, mais íntima e mais querida para os crentes», o P. Núñez escreveu.

O administrador apostólico da diocese de Hawassa sublinhou também o carácter ecuménico da tradução, «fruto da colaboração entre diferentes confissões cristãs», agradecendo ao Senhor e a todos os que tornaram possível a publicação da Bíblia na língua guji. 

Tsegaye Hailemichael Barisso, o tradutor católico da missão Galcha, explicou que a equipa utilizou quatro fontes principais no seu trabalho: Good News Bible, as traduções antiga e nova em amárico e a Bíblia Oromo (no Oromo do Wollega, na Etiópia Ocidental). Utilizaram também o New Jerome Biblical Commentary.

A equipa de tradutores foi assistida por um número de consultores internacionais que os prepararam para o trabalho.

«A tradução não foi um percurso fácil. Comecei quase como um miúdo e agora sou um homem feito. No início era aborrecido. Era preciso encontrar a palavra comum exata. Por vezes, era doloroso quando o orçamento mingava. Mas, quando vi como as pessoas receberam a Bíblia Sagrada em guji, senti uma grande alegria e todas as feridas ficaram saradas», disse Tsegaye.

O tradutor católico sublinhou ainda a alegria da experiência ecuménica. Explicou que a Sociedade Bíblica da Etiópia tinha planeado imprimir 50 mil exemplares. No entanto, muitas igrejas juntaram mais dinheiro e, com a ajuda de alguns doadores, foi possível imprimir 200 mil exemplares em dois formatos.

Kitaaba Woyyicha é uma edição conjunta da The World for the Word-Ethiopia e da Sociedade Bíblica da Etiópia. 

A tradução segue o cânone protestante. A Bíblia é ilustrada com uma série de desenhos que explicam algumas passagens e conceitos bíblicos. Tem 1650 páginas. Os mapas bíblicos são a cores.

A obra tem um glossário de cinco páginas que explica algumas palavras e os seus significados.

O povo guji faz parte da família oromo. São mais de dois milhões, divididos em três grupos principais. Vivem nas montanhas e nas terras baixas do sul da Etiópia. No passado, eram pastores. Atualmente, cultivam também os seus campos.

Os Combonianos começaram a trabalhar na terra dos gujis em 1976, assistindo ocasionalmente alguns católicos Sidama de Teticha que emigraram para Qillenso e Gosa. Quando os Sidama foram expulsos, os missionários abriram uma missão em Qillenso e começaram a evangelizar os gujis em 1981. 

De Qillenso, chegaram a Soddu Abala (1984), Haro Wato (1995) e Adola (2016). Os Jesuítas, juntamente com as Franciscanas Missionárias de Maria, abriram uma missão em Gosa em 1985, que, entretanto, deixaram. Agora, Gosa é uma capela de Qillenso.

6 de junho de 2024

ETIÓPIA: PRESENÇA NA «NOVA FRONTEIRA MISSIONÁRIA DIGITAL»

A província dos Combonianos da Etiópia lançou o seu novo sítio na internet com o URL www.combonimissionariesethiopia.org.

A nova página digital foi preparada pela equipa que dirige o Centro Comboni Jovem (YCC na sigla em inglês) de Hawassa e apresentada à Assembleia Provincial em março passado.

«A iniciativa de um sítio web da província da Etiópia não é nova», explicou o P. Pedro Pablo Hernández, um dos missionários envolvidos na sua conceção. «Há alguns anos houve um que desapareceu com o tempo por razões diferentes».

«O objetivo da iniciativa é que as pessoas que se cruzam com o sítio possam encontrar riqueza pastoral e missionária no testemunho de vida dos Combonianos e inspiração na sua visão de missão para participarmos todos juntos nas obras de evangelização da Igreja», acrescentou.

O sítio tem duas secções principais: notícias (renovadas com frequência) e informação permanente.

A página das notícias está dividida em notícias missionárias mundiais e etíopes, testemunhos, intenções de oração e literatura etíope (provérbios, fábulas e contos). 

Quem visita o sítio pode deixar um pedido de oração.

A informação permanente diz respeito a São Daniel Comboni, fundador dos Missionários Combonianos, aos próprios Combonianos, aos Combonianos na Etiópia, aos Secretariados Provinciais (Missão e Formação) e às Vocações.

A secção Combonianos na Etiópia tem uma galeria de fotos e uma mostra das publicações que os missionários fizeram durante mais de seis décadas no país e nas línguas locais: amárico, sidama, guji, guedeo e gumuz.

Relatório de Síntese da primeira sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade fala do espaço online como «a nova fronteira missionária digital». 

Através do novo sítio digital, a Província Comboniana da Etiópia diz «Presente!» neste novo espaço missionário.

3 de junho de 2024

GURAGUES OFERECEM NOVO SACERDOTE COMBONIANO









A paróquia católica de São Salvador de Gura Awiyate, na Etiópia Central, preparou e celebrou com grande alegria a ordenação sacerdotal do seu filho, o diácono comboniano Melaku Wolde Tekle.

A ordenação teve lugar no sábado, 1 de junho, e foi conferida através da imposição das mãos de D. Musei Ghebreghiorghis, Eparca de Emdiber, que está prestes a resignar. 

D. Luka Fikre, nomeado seu sucessor, esteve presente juntamente com cerca de três dezenas de sacerdotes, entre os quais um bom grupo de Combonianos. Participaram na ordenação também algumas irmãs, entre as quais a coordenadora das Irmãs Missionárias Combonianas na Etiópia, com três candidatas em formação, e os pré-postulantes e postulantes combonianos e formadores.

A Eucaristia da ordenação foi celebrada segundo o rito católico etíope, utilizado sobretudo no norte do país. A liturgia foi cantada em Gue'ez (uma antiga língua litúrgica) e em amárico, num diálogo orante entre os celebrantes, os cantores e a assembleia. A cerimónia durou três horas.

Abba Melaku, o recém-ordenado sacerdote comboniano, tem 30 anos. É o penúltimo filho de oito: quatro raparigas e quatro rapazes. É o segundo sacerdote comboniano de Gurague. Há também um irmão comboniano do mesmo povo.

A sua ordenação conclui um percurso formativo de dez anos, iniciado no Postulantado em Adis Abeba, na Etiópia, seguido do Noviciado em Lusaka, na Zâmbia, onde fez a sua primeira profissão no Instituto a 6 de maio de 2017. Depois de ter concluído o curso de Teologia em Nápoles, Itália, fez o serviço missionário na missão comboniana de Gublak, entre os Gumuz, na Etiópia.

Durante a homilia, D. Musei sublinhou que o neossacerdote fez um longo caminho em todo o mundo como mensageiro de Cristo.

«Ele já não pertence à sua família. É um homem universal. Vamos rezar por ele, pela sua atividade missionária. Ele vai anunciar a Boa-Nova e praticar o diálogo inter-religioso», explicou o bispo ordenante.

O P. Melaku, por seu lado, partilhou durante o seu discurso em gurague, amárico, inglês e italiano, no final da celebração, a alegria que estava a sentir.

«O meu coração está cheio de alegria pelo grande dom que o Senhor me concedeu. Mais uma vez, o Senhor inclinou-se, acolheu as minhas fraquezas e transformou-as em graça», proclamou.

«Ser ministro e pastor da sua amada Igreja através do Instituto dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus é um dom imenso do Senhor. Queridos irmãos e irmãs, é realmente assim; esta manhã participámos juntos no maior milagre da vida; é um grande dom da misericórdia e da ternura de um Pai para com o seu filho», acrescentou.

O P. Asfaha Yohannes, superior provincial dos combonianos na Etiópia, durante o seu discurso de agradecimento, anunciou que o P. Melaku começará a exercer o seu sacerdócio missionário no México onde foi destinado.

Depois da liturgia da ordenação, a assembleia sentou-se no exterior da igreja para partilhar um refresco e oferecer alguns presentes ao neossacerdote. Uma chuva ligeira abençoou a ocasião.

Mais tarde, os convidados foram brindados com um almoço muito abundante e saboroso com muitos pratos tradicionais do povo gurague.

O P. Melaku celebrou a sua missa de ação de graças no domingo, 2 de junho, assistido pelo Superior Provincial e pelo pároco em exercício.

O Ir. Desu Yisrashe, ele próprio um gurague, preparou a ordenação. Durante os dias precedentes, teve encontros de animação missionária e vocacional com os fiéis e os jovens na paróquia de Gura Awiyate e em Emdiber, a paróquia da catedral.