30 de novembro de 2019
NOVO BEATO COMBONIANO
O Papa Francisco autorizou o Prefeito da Congregação da Causa dos Santos a publicar o decreto sobre o milagre atribuído à intercessão missionário comboniano padre José Ambrosoli.
Na mesma audiência o Cardeal Angelo Becciu apresentou os milagres de um beato e de outro servo de Deus e o martírio de 16 católicos durante a guerra civil de Espanha e de um padre polaco nos anos 40 do século passado.
A publicação do decreto sobre o milagre abre as portas à beatificação do médico da caridade.
José Ambrosoli nasceu em Renago, Itália, e entrou para os combonianos em 1951 depois de frequentar um curso de medicina tropical em Londres.
Foi ordenado em Dezembro de 1955.
Partiu para o Uganda em 1956 com 32 anos, mês e meio depois da ordenação.
Começou por trabalhar em Gulu, no norte do Uganda, entre o povo Acholi.
Em 1961 foi transferido para Kalongo, na mesma região.
Ali fundou o hospital que serviu como médico-cirurgião por mais de 30 anos.
«Deus é amor, há um próximo que sofre e eu sou o seu servo», dizia Ambrosoli.
As pessoas chamavam-lhe «doctor ladit», o grande médico.
Faleceu a 27 de março de 1987, em Lira, depois de os soldados o terem forçado a evacuar o hospital devido à guerra civil.
Tinha 65 anos.
O hospital de Kalongo foi reaberto dois anos depois com o nome de Dr. Ambrosoli Memorial Hospital.
Há mais três combonianos na linha da beatificação: o bispo António Roveggio, sucessor de São Daniel Comboni, os padres Bernardo Sartori e Ezequiel Ramin e o Ir. Josué Dei Cas.
27 de novembro de 2019
BUTEMBO: CIDADE MORTA, PARALISADA
Em Butembo, hoje, é mais um dia de «cidade morta e paralisada».
Trata-se de mais uma acção de protesto marcada por uma associação cívica contra os massacres na cidade-gémea de Beni, que fica a 50 quilómetros de distância, e especialmente contra a presença das tropas das Nações Unidas (MONUSCO) nesta região.
A associação cívica e alguns analistas acusam os capacetes azuis de não agirem com determinação contra os grupos armados que matam e trucidam todos os dias os habitantes das zonas agrícolas da região de Beni (Kivu-Norte, República Democrática do Congo) e da própria cidade de Beni.
Em Beni, as jerarquias militares da ONU dizem duas coisas:
- a operação militar «de grande envergadura» proclamada em outubro pelas autoridades militares congolesas foi organizada e executada sem que os militares da MONUSCO tenham sido informados e menos ainda convidados para a planificação e a execução;
- há uma campanha de desinformação contra a MONUSCO lançada por indivíduos ou organizações interessados em provocar ainda maiores desastres.
Há mais de mil razões para marchas e outras ações de protesto.
Na foto, estou com uma missionária comboniana, em Beni, numa manifestação da Igreja Católica para que a memória das vítimas dos incessantes massacre sacuda o país e o estrangeiro.
Nos braços da Cruz está escrito «Beni-Cidade e Território». Na vertical: «Em memória dos massacrados».
É escandaloso o silêncio do Estado congolês e dos meios de comunicação internacionais...
Entretanto, membros do Governo congolês e comandantes militares convidaram para a cidade de Goma os seus parceiros das Nações Unidas, do Rwanda e do Uganda para combinarem a eliminação dos grupos armados que, deste país, destabilizam os vizinhos.
O Governo de Tshisekedi prepara a repartição país pelos seus
vizinhos. A indignação popular é grande.
P. Claudino Gomes
RD do Congo
21 de novembro de 2019
SIMPLIFICAR É PRECISO
Esta é uma afirmação com que todos estamos de acordo, mesmo que alguns a vivam como uma penitência maior.
Digo mesmo que a vida comum, a vida fraterna é o quarto voto que não é pronunciado mas que é vivido dia após dia e é o mais trabalho nos dá!
Para os nossos fundadores a vida em comum era fundamental. Chamavam-lhes nomes diferentes. O meu, Daniel Comboni, descreveu a comunidade como «cenáculo de apóstolos».
É o modo como vivemos juntos a senhoria de Deus nas nossas vidas que atrai ou repele os jovens da nossa – para muitos estranha – forma de vida.
O que estamos mesmo a precisar é de um «simplex» para avida comum. Deixar de ritualizar o viver juntos e em vez disso humanizar a nossa vida fraterna para nos sentirmos mais humanos e, por conseguinte, mais divinos.
A nossa vida fraterna comum deve ser um Evangelho vivo, um Evangelho aberto para os nossos contemporâneos que sofrem de iliteracia religiosa. Viver o novo céu e a nova terra que todos esperamos na dinâmica do advento que se entrevê.
O P. José Cristo Rey García Paredes escreveu a obra É possível outra comunidade sob a liderança do Espírito.
Propõe-nos transformar a vida em comum na participação da dança eterna da Trindade Santíssima com graça e arte, a dança divina da missão – uma alegoria que arrebatou a minha imaginação.
15 de novembro de 2019
AMAZÓNIA: NOVOS CAMINHOS DE CONVERSÃO
O evento decorreu no Vaticano de 6 a 27 de outubro de 2019.
O Documento Final, apresentado pelos padres sinodais ao papa, apresenta os caminhos novos através como conversão em cinco andamentos: da escuta à conversão integral, e novos caminhos de conversão pastoral, cultural, ecológica e sinodal.
O documento tem 120 propostas, curtas e muito práticas, na linha do Instrumento de Trabalho.
O debate pós-sinodal está a centrar-se demasiado sobre as questões da ordenação presbiteral de diáconos permanentes casados e de diaconisas enquanto a grande novidade está na conversão como caminho de renovação eclesial.
A ordenação de homens casados é, a meu ver, uma falsa questão, porque a Igreja latina já tem muitos padres nessas condições. São normalmente padres anglicanos que não quiseram partilhar o altar com mulheres ordenadas e foram recebidos e re-ordenados na Igreja Católica.
Os católicos dos ritos orientais podem escolher entre o sacerdócio solteiro – de onde se elegem os bispos – ou casado como os das comunhões ortodoxas.
Os padres sinodais colocaram a questão na perspectiva correta: é mais importante possibilitar regularmente a Eucaristia e os outros sacramentos às comunidades remotas que têm a visita de um padre uma vez por ano ou a disciplina do celibato? A Eucaristia é a fonte e o cume da vida cristã e um direito de cada baptizado. O celibato – a promessa de ficar solteiro – é uma disciplina na Igreja Romana.
A questão do diaconado feminino continua em aberto à espera de novas reflexões. Não me parece que seja implementado a curto prazo.
Importa sim é reconhecer o papel essencial da mulher leiga e consagrada na vida quotidiana das comunidades sem padre residente. Esta é uma novidade do sínodo: oficializar essa realidade. O documento fala não só do reconhecimento dessas lideranças como da necessidade de as mulheres integrarem os órgãos de decisão e de governo da Igreja.
O documento giza um diagnóstico muito sombrio da situação da Amazónia, um território partilhado por nove países e com quase 34 milhões de habitantes: o «coração biológico» da humanidade está afectado por uma dramática situação de destruição de territórios (já perdeu 17 por cento da floresta) e dos povos, sobretudo os indígenas (nº 10).
Propõe uma conversão integral (nº 18) que parte da relação pessoal com Jesus para mudar as relações interpessoais e com a casa comum e propõe a definição de «pecado ecológico» (nº 82), outra novidade.
O documento dá voz à aspiração de uma Igreja com rosto amazónico, uma igreja indígena audaz com ministérios, ministros e ritual próprios expresso na linguagem local através da encarnação do Evangelho nas culturas autóctones.
Reconhece o lugar das religiosas, religiosos e congregações como equipas missionárias itinerantes que vão fazendo caminho e propõe a passagem da pastoral das visitas à presença mais permanente sobretudo nas zonas onde mais ninguém quer estar (nº 40).
Os consagrados são enviados a proclamar a boa nova no acompanhamento de proximidade aos povos indígenas, aos mais vulneráveis e aos mais distantes a partir de um diálogo e anúncio através de comunidades intercongregacionais, respeitando a cultura e as línguas indígenas para chegar ao coração dos povos (nº 97).
O documento pede uma conversão ecológica para responder à crise socio-ambiental sem precedentes contra a atitude voraz e predatória no uso da Amazónia e das suas riquezas (nº 71).
Há ainda a notar a inversão da pirâmide eclesial. O documento começa por falar da missão dos leigos e religiosos e termina com a dos ministérios ordenados.
O Documento Final fecha com as palavras «uma Igreja de rosto amazónico e em saída missionária».
A saída missionária é apresentada ao longo do documento como a chave para a renovação da Igreja na Amazónia como o é para as Igrejas diocesanas e para a Igreja universal.
As comunidades eclesiais de base – que o documento revalida (nº 36) – são também chamadas «pequenas comunidades eclesiais missionárias que cultivam a fé, escutam a Palavra e celebram juntas a vida do povo» (nº 95).
Espera-se com grande expectativa a Exortação Apostólica pós-sinodal que o Papa prometeu estar pronta até ao Ano Novo.
11 de novembro de 2019
ABIY DA PAZ
O primeiro-ministro da Etiópia é o Nobel da Paz 2019.
O primeiro-ministro etíope foi laureado com o Prémio Nobel da Paz 2019, o centésimo atribuído pelo Comité Nobel norueguês, «pelos seus esforços para alcançar a paz e a cooperação internacional e, em particular, pela sua iniciativa decisiva para resolver o conflito fronteiriço com a vizinha Eritreia».
Abiy Ahmed Ali, 43 anos, apesar do apelido árabe – é filho de pai muçulmano e mãe cristã –, é cristão evangélico. Foi escolhido para encabeçar o Governo federal da Etiópia em Abril de 2018, depois da demissão de Hailemariam Desalegn, que governou o país entre 2012 e 2018 e se demitiu por não conseguir travar uma vaga nacional de três anos de protestos violentos contra o Governo.
Abiy é o primeiro oromo a ascender ao topo do poder, a maior tribo da Etiópia, com quase 39 milhões de pessoas. Pertence ao novo tipo de líderes africanos apostados em reformar o sistema político a partir de dentro, «parte dos ventos de esperança que sopram cada vez mais fortes na África», no dizer de António Guterres, o secretário-geral da ONU. É o décimo segundo africano a receber o Nobel da Paz.
Durante os primeiros 100 dias de governo, Abiy encetou reformas estrondosas para atenuar o controlo absoluto do país pelo EPRDF, a coligação política chefiada pelos tigrinos que tomou conta do poder em 1991 e governava o país com braço de ferro. Levantou o estado de emergência, esvaziou as cadeias de milhares de presos políticos incluindo jornalistas, levantou a censura, prometeu abrir a Internet e a rede móvel – propriedade do Estado – a investidores privados, legalizou grupos da oposição armada, limpou o aparelho do Estado de civis e militares corruptos, promoveu a mulher na vida política nacional.
Abiy recebeu o Nobel pelos esforços para restaurar a paz com a Eritreia depois de vinte anos de costas voltadas e fronteiras seladas por uma disputa fronteiriça. Também mediou processos de paz entre a Eritreia e o Jibuti e o Quénia e a Somália e no conflito interno do Sudão.
«Sinto-me honrado pela decisão do Comité Nobel norueguês. A minha gratidão mais profunda para todos os comprometidos e a trabalhar pela paz. Este prémio é para a Etiópia e para o continente africano. Prosperaremos em paz!», escreveu Abiy no Twitter.
A liberalização promovida pelo governante africano mais jovem está a pôr a nu tensões na etnocracia etíope que estavam reprimidas pelas forças de segurança. Normalmente as terras ancestrais são o pomo de discórdia. Gujis e Guedeos envolveram-se em Agosto do ano passado em escaramuças que deslocaram milhares de pessoas no Sudeste do país e no dia da Páscoa ortodoxa deste ano centenas de membros da etnia gumuz foram chacinadas por estarem a ocupar território amara no Centro-Oeste da Etiópia. Os soldados foram lestos a levar os mortos numa tentativa de ocultação da limpeza étnica, mas a matança foi documentada.
Abiy fez questão de mediar o diálogo de paz entre Gujis e Guedeos em Maio deste ano. Aliás, ele fala algumas das línguas do país e nas suas visitas costuma discursar nas línguas locais.
Os Etíopes receberam com orgulho a atribuição do Nobel da Paz ao seu primeiro-ministro, embora também sublinhem que ainda há muito por fazer sobretudo na economia. Vozes mais críticas dizem que Abiy deve pôr o mesmo empenho na resolução dos diversos conflitos interétnicos que ameaçam a integridade do país mais antigo da África.
Subscrever:
Mensagens (Atom)