24 de dezembro de 2020

UM NATAL DIFERENTE? QUEM DERA!

Caros amigos,

Todos dizemos que este Natal vai certamente ser diferente, devido às circunstâncias de confinamento impostas pela pandemia. Diferente, porque não nos podemos encontrar, celebrar, abraçar... Mas eu diria: talvez fosse realmente diferente para nós, aproveitando a oportunidade para descobrir e reviver o significado profundo e cristão do Natal do Senhor.

Alguns dizem mesmo que este ano não haverá Natal. Felizmente, Deus é fiel às suas promessas. Sim, haverá um Natal do seu Filho. Podemos ter a certeza disso. Vamos arranjar espaço para Ele na nossa casa, e este ano há espaço que chegue para Ele. Mas ele não vem como convidado, para nos fazer uma visita de cortesia, mas para ficar connosco todo o ano, para ser um de nós, um da casa. Não há necessidade de se envergonhar, ele não espera um palácio real. Está habituado à pobreza, desconforto, desordem, sujidade... Não vamos fechar-lhe o fundo do nosso coração, mas sim deixá-lo entrar ali mesmo, no lugar da nossa miséria, da nossa vergonha, dos nossos instintos carnais. Não foi por nada que ele foi deitado numa manjedoura? Sim, VEM JESUS AO MANTO DO MEU CORAÇÃO!

Fiquei comovido com a história de Manuel, um rapaz siciliano "que falou com Jesus", que morreu em 2010, aos nove anos de idade, após cinco anos de luta contra um tumor. Na véspera de Natal de 2009, numa carta aos seus colegas de escola ele disse: "Quando a minha vida era sombria e triste, conheci um Amigo muito especial. Ele deu-me a sua mão e eu confiei Nele. E foi assim que Ele veio para sempre ao meu coração. É um Amigo que não se consegue ver, mas Ele está lá. Ele nunca me deixa em paz. Ele abraça-me ao Seu coração e diz-me: "O teu coração não é teu, mas meu, e eu vivo em ti"! Ele é um Amigo muito, muito especial". No dia da sua Primeira Comunhão, confidenciou à sua mãe algo surpreendente e indecifrável que se tornaria habitual para ele: "Mamã, ouvi a voz de Jesus, tal como tu ouves a minha, mas consegui falar com Ele e Ele respondeu-me no meu coração. Que bonito! Estou feliz".

Este Natal, Senhor, peço-Te: DÁ-ME O CORAÇÃO DO MEU MANUEL, porque o Pai esconde "estas coisas dos sábios" e revela-as aos "pequeninos" como ele.

Ao celebrarmos este Natal não podemos ignorar o sofrimento de tantos que vivem na pobreza, vítimas de injustiça e violência, e muito menos esquecer os nossos entes queridos levados pela pandemia. Os nossos pensamentos vão para eles também. Na minha comunidade missionária perdemos dezoito, um terço dos nossos confrades. A nossa comunidade de idosos e doentes é uma sala de partos, onde devemos ser entregues à Vida. Mas este não foi um parto natural, mas sim um parto traumático, um parto por cesariana!

Neste Natal do Senhor também gostaria de expressar este desejo: FELIZ DIES NATALIS a todos os nossos irmãos e irmãs que morreram devido ao vírus!

Um Natal diferente para todos!
P. Manuel João Pereira Correia, Missionário Comboniano 
Castel D'Azzano (VR) 23 de Dezembro de 2020

22 de dezembro de 2020

NATAL SEM MEDO


É espantoso: uma pessoa lê, relê e volta a ler vezes sem conta os relatos evangélicos e há sempre algo de novo que mexe connosco, que nos tira do conforto das seguranças mentais ressessas, do sossego dos esquemas empoeirados de interpretação.

Na preparação para esta quadra natalícia fui surpreendido pela voz de comando «Não tenhas medo» que tomou conta do meu coração: 

— «Não tenhas medo, Zacarias»;

— «Não tenhas medo, Maria»;

— «José, filho de David, não tenhas medo»;

— «Não tenhais medo, pastores»…

Nos quatro quadros evangélicos (as anunciações a Zacarias, a Maria, a José e aos pastores) os portadores do imperativo divino são anjos: Gabriel e companheiros…

«Não tenhas/tenhais medo» é o pregão divino que atravessa a bíblia inteira do livro do Génesis ao Apocalipse de São João, repetido mais de uma centena de vezes nas páginas sagradas.

Neste Natal, em estação pandémica global, a Palavra convida-nos a desarmar o medo.

Tememos ser infetados pelo novo coronavírus, que outros nos transmitam a Covid 19, temos medo da solidão, dos beijos e abraços, de perder o trabalho, de perder a vida…

Em plena pandemia voltamos a ouvir o pregão angélico natalino: «Não tenhas medo!».

O medo em si é um alarme, uma luz vermelha que, em situações de perigo, alerta: «Tem cuidado!».

Mas quando a efervescência provocada pelo caldo hormonal da adrenalina e cortisol, hormonas do medo, toma conta das entranhas, o medo paralisa, afeta seriamente o corpo e o coração e periga o quotidiano…

Daí, o imperativo divino «Não tenhas medo».

Mediado por tantos anjos, rostos e corações que Deus nos envia, para nos manter felizes.

Daniel Comboni escreveu que «o verdadeiro apóstolo não deve ter medo de nenhuma dificuldade, nem sequer da morte», porque «nunca se pode ter medo quando vela por nós com piedoso afã Aquela que se denomina Rainha dos Apóstolos».

Foi o que o anjo anónimo anunciou aos pastores que pernoitavam com o gado nos descampados de Belém: «Não tenhais medo! Eis que vos anuncio uma boa nova, que será uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje na cidade de David, um salvador, que é Cristo Senhor».

E ajuntou: «E isto será para vós o sinal: encontrareis uma criança envolta em panos e deitada numa manjedoura».

Deus não teve medo de encarnar a realidade humana na vulnerabilidade frágil de um bebé indefeso, nascido numa gruta que protegia os animais mais delicados e os pastores do relento da noite. E estabeleceu a sua tenda entre nós para caminhar connosco os caminhos da vida e ser Caminho. Também no meio da pandemia.

Nesta hora de crise sanitária, económica, social e eclesial, Ele está connosco e faz natal dentro de cada um de nós, não num presépio que se arma e desarma cada ano, ao ritmo dos dia. Mas num presépio vivo e ao vivo em que os figurantes somos tu e eu, todos!

Vai ser um Natal diferente por culpa do SARS COV-2. Um Natal mais despojado, mais sóbrio, mais simples, mais essencial, mais genuíno. Com menos pessoas, mas com mais espaço efetivo e afetivo para com quem o vamos viver.

Feliz Natal, sem medo! Mas com cuidado!

21 de dezembro de 2020

UM NATAL DIFERENTE


Saúdo-vos desde Guilguel Beles, região de Benishangul-Gumuz, Etiópia, onde me encontro.

Aproxima-se o Natal para vós (aqui iremos celebrar o nascimento de Jesus a 7 de Janeiro) e, por isso, quero desejar a todos vós e a toda a vossa família um santo Natal.

Este será, certamente, um Natal diferente. A pandemia Covid-19 limitou as nossas vidas, obrigou-nos a recordar que somos pó, que a nossa vida é frágil e, ao mesmo tempo, preciosa. É, pois, esta vida frágil mas preciosa que celebramos no Natal: um menino nasceu para nós.

Isso é o que mais desejo neste Natal: que o Deus Menino, frágil mas precioso, nas nossas vidas nasça para todos nós, pois Ele é o Príncipe da Paz.

Estou em segurança, graças a Deus. Mas a instabilidade que existe nesta região impediu a abertura das escolas até aqui, impediu-me de visitar aldeias Gumuz onde fui feliz e onde tenho amigos que quero abraçar (aqui não há Covid-19, ou melhor, o Covid é outro).

Duas semanas atrás, o centro de saúde gerido pelas irmãs Combonianas foi assaltado e levaram os três microscópios. Não bastava que todos os trabalhadores não Gumuz (só um é Gumuz) tenham regressado a suas casas com receio de que algo lhes aconteça, senão agora também não haver microscópios tão importantes para analisar a existência de doenças como tifo, tifóide ou malária.

Pode parecer uma realidade difícil e que nos faz desanimar (e por vez é verdade). Mas esta realidade também nos ajuda a perceber que a missão pertence a Deus e que nós devemos ser meros instrumentos do seu amor: servos inúteis somos, fizemos o que devia ser feito.

Não acredito que Deus queira o nosso mal, roubos ou mortes. Mas sei que aproveita o mal ou sofrimento por que passamos para nos transformar e ajudar a sermos melhores, com a sua presença em nós.

Eu e o David, meu companheiro de missão, recomecámos algumas actividades e iniciámos outras, tais como aulas de inglês em Guilguel Beles e Mandura, aulas de matemática aos alunos da escola de Mandura, mesmo com as escolas fechadas, actividades com os jovens, entre outras.

Obrigado a todos pela vossa colaboração, especialmente através da oração.

Este ano soubemos que uma doença nos pode tirar quase tudo, mas este Natal recorda-nos que um Menino nasceu e nasce para nós e connosco está.

Feliz e Santo Natal

Pedro Nascimento, Leigo Missionário Comboniano

17 de dezembro de 2020

NOVENA DO Ó


A comunidade católica começa hoje a Novena do Ó, a novena que prepara o Natal. 

1. Do Ó, porque sete das antífonas do aleluia dessas nove missas começam por Ó:
  • Ó Sabedoria do Altíssimo, que tudo governais com firmeza e suavidade: vinde ensinar-nos o caminho da salvação. 
  • Ó Chefe da casa de Israel, que no Sinai destes a Lei a Moisés: vinde resgatar-nos com o poder do vosso braço. 
  • Ó rebento da raiz de Jessé, sinal erguido diante dos povos: vinde libertar-nos, não tardeis mais. 
  • Ó Chave da casa de David, que abris e ninguém pode fechar, fechais e ninguém pode abrir: vinde libertar os que vivem nas trevas do cativeiro e nas sombras da morte. 
  • Ó Sol nascente, esplendor da luz eterna e sol de justiça: vinde iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte. 
  • Ó Rei das nações e Pedra angular da Igreja: vinde salvar o homem que formastes do pó da terra. 
  • Ó Emanuel, nosso rei e legislador, esperança das nações e salvador do mundo: vinde salvar-nos, Senhor, nosso Deus. 
2. Do Ó, porque a Senhora do Ó, no fim da gravidez, está a terminar uma penosa viagem de mais de 150 quilómetros entre Nazaré e Belém de Judá para cumprir o dever cívico do recenseamento.

3. Do Ó, porque somos convidados a acolher o espanto, a admiração ao contemplar Deus que encarna o inteiro humano viver por inteiro, e nasce, frágil e vulnerável, fora da cidade de Belém, por não haver espaço para ele e para a sua família na cidade abarrotada de recenseados.

«SENTIMOS PROFUNDA NECESSIDADE DE CELEBRAR O NATAL!»

 

«Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor» (Lucas 2, 10-11).

O Natal aproxima-se e nós vamo-nos preparando para acolher Deus que vem. O anúncio dos anjos ressoa nos céus e sobre a terra. É um anúncio claro, inconfundível e portador de alegria e esperança: Hoje nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo e é Senhor. Este anúncio é para o nosso hoje e é para todo o povo de Israel e para todos os povos da Terra.

Todavia, toda a humanidade está a viver uma situação crítica e difícil que atinge todos sem distinção. Todos sentimos o peso e o sofrimento desta pandemia que expôs a nossa fragilidade e os nossos limites, revelou os nossos medos, alterou os nossos comportamentos. Entre as vítimas, há também um bom grupo de confrades nossos que experimentaram o sofrimento e até a morte. Estamos todos, verdadeiramente, no mesmo barco e ainda no mar alto! Não obstante a dor e a perturbação, não faltaram gestos concretos de caridade e solidariedade para ir ao encontro das gentes. Nesta realidade sombria e ao mesmo tempo cheia de luz, fomos desafiados a ler os sinais dos tempos e dos lugares com os olhos da fé e a descobrir em tudo a presença de Deus.

É neste contexto de sofrimento e perturbação que somos chamados a viver com fé o Natal deste ano 2020. Em vez de dizer como muitos que não haverá Natal, nós sentimos a profunda necessidade de o celebrar e de estar despertos para receber Deus no nosso mundo e viver este acontecimento em espírito de humildade e de oração contemplativa. Ele vem em cada dia e em cada circunstância, vem sem se cansar, como Luz que refulge nas nossas trevas para habilitar-nos a ver a realidade com um olhar positivo e novo. Faz-se presente na fragilidade da nossa carne para assegurar-nos que é nela que se revela o seu poder salvador. Ele aproxima-se da humanidade ferida para a curar e para estimular em todos o desejo da fraternidade. Surge como a alba de um novo dia que vence o medo e abre à Esperança. Fixando o nosso olhar no Menino-Deus de Belém apercebemo-nos que tudo o que é humano é tocado pela sua Presença, muitas vezes escondida nas dobras da História. Ele é verdadeiramente o Emanuel. Deixando-nos envolver pelo mistério da incarnação seremos repletos de assombro e gratidão.

Na sua visita a Belém, Comboni comove-se ao contemplar o lugar onde Jesus nasceu: Entrei, e embora o nascimento seja mais alegre que a morte, fiquei mais comovido que no Calvário ao pensar na complacência de um Deus que se humilhou até ao ponto de nascer num estábulo (Escritos 111). Também nós, deixemo-nos comover pela sua presença no nosso quotidiano e no seio dos povos entre os quais vivemos. O nascimento do Menino-Deus, impele-nos a descobri-lo nas pessoas, sobretudo os mais pobres descartados, e a percorrer os caminhos da Vida juntamente com eles. Somos convidados a romper a carapaça da indiferença e do individualismo, a construir uma fraternidade aberta onde cada um é reconhecido, amado e valorizado independentemente do lugar do mundo onde nasceu ou habita (cf. Fratelli tutti, 1). A contemplação da Palavra feita carne leva-nos à conversão, a escolher estilos de vida simples e a centrar-nos no Essencial.

A situação difícil em que nos encontramos é um apelo a estar atentos aos sinais de Deus na História para encontrar os caminhos novos da missão. A contemplação da Incarnação de Deus faz-nos estremecer de gratidão e de assombro e abre-nos à solidariedade e ao empenho apaixonado a favor dos irmãos e irmãs mais pobres e abandonados na esteira de São Daniel Comboni.

Queremos viver este Natal juntamente com toda a Humanidade, deixando-nos transportar pelo amor que emana da gruta de Belém e nos faz ser sinais de alegria e de esperança. A Virgem Maria, que viveu de modo particular a espera do Salvador e o acompanhou do nascimento até à cruz, nos guie no nosso caminho tantas vezes penoso e nos transforme em testemunhas credíveis da Salvação trazida por Jesus.

Desejamos-vos um Santo Natal e um Ano Novo 2021 repleto de grande paixão missionária a caminho do Capítulo Geral.
O Conselho Geral

16 de dezembro de 2020

JESUS NASCEU PARA MIM


JESUS NASCEU PARA MIM!

Sim! Ele nasceu, porque eu existia! Mas, por causa dos meus pecados, das minhas transgressões, estava muito longe de Deus e, num movimento de Misericórdia do Seu Coração, quis trazer-me a grande alegria de me tornar um filho (uma filha) de Deus.

Para realizar essa façanha, a um certo momento da História, a que S. Paulo chama a «plenitude dos tempos», Deus voltou-se para mim, viu a minha miséria e teve compaixão de mim, por isso, «enviou o Seu Filho, nascido de Mulher (MARIA), … para que eu recebesse a adoção de filho (filha)» de Seu Pai (cf. Ga 4,4-7). Agora «já não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim, … porque o Filho de Deus me amou e se entregou a si mesmo por mim» (Ga 2,20).

Eis a grande verdade: o meu Irmão, Jesus, nasceu para mim, viveu para mim e morreu por mim, para me resgatar do pecado e da morte e para que eu viva para toda a eternidade com Ele na casa do Pai.

JESUS NASCEU PARA MIM!

Sim! Ele nasceu de Maria Santíssima e continua vivo dentro de mim, para sempre, se não O expulsar com o meu pecado.

Ele não nasceu só para estar em grutas num presépio, num tempo muito distante, ou para ficar fechado dentro dum Sacrário sozinho nas nossas Igrejas. Não! Ele quer que eu seja um Tabernáculo Vivo que O leva para toda a parte para onde vou, para que, em mim, Ele possa contemplar comigo as maravilhas que o Pai criou e abençoar todas as pessoas que encontro no meu caminho.

Esta é uma grande verdade que cada um e cada uma de nós pode repetir, sem medo de errar: JESUS NASCEU PARA MIM!

Esta realidade pode confortar-nos grandemente no meio desta pandemia, onde vivemos, sabendo que a nossa vida está nas mãos do Pai agora e para sempre.

O Natal não é uma coisa banal, que celebramos na noite e no dia de Natal, num lindo presépio, mas que depois o metemos num cartão e o arrumamos até ao próximo ano.

Não! O natal é o nascimento do Deus-Menino, que nasce e renasce cada dia dentro de nós, cada vez que O recebemos no Sacramento da Eucaristia. Para celebrar com dignidade uma festa (Natal), é deixar que o Aniversariante (Jesus) esteja presente.

Peço a Nossa Senhora, a S. José e ao nosso Jesus, que vos encham das suas graças, para viverdes este tempo natalício, na paz e na alegria com a ternura do Menino Jesus, que nasce para cada uma e cada um de nós.
P. Alfredo Neres (RD Congo)

9 de dezembro de 2020

DÁ-ME ASAS



Proclama o Profeta:
«Aqueles que confiam no Senhor
renovam as suas forças.
Têm asas como a águia.»
Dá-me asas, Senhor,
para voar mais alto,
mais longe,
mais livre,
para ver o mundo com olhar de águia,
para Te contemplar mais de perto,
para aprender melhor o amor!
Confio em Ti, em quem tudo posso,
porque me empoderas e susténs.
Faz-me de novo, Oleiro amado.
Sou obra das tuas mãos criadoras,
da tua amorosidade.
Amen!

7 de dezembro de 2020

O OUTRO PULMÃO


A floresta da bacia do Congo pede atenção urgente.

A comunidade internacional segue, com alarme, os grandes incêndios que, anualmente, reduzem a cinzas grandes extensões da Amazónia. Um dos pulmões do planeta tem vindo a sofrer perdas irremediáveis de floresta e de biodiversidade por causa das queimadas e do abate ilegal de árvores. Contudo, o outro pulmão da Terra está a sofrer a mesma pressão ambiental: a floresta tropical da bacia do Congo, no coração da África, que ocupa quase dois milhões de quilómetros quadrados da costa atlântica às montanhas do Rift, onde o rio nasce.

A floresta tropical e equatorial da bacia do Congo, um ecossistema formado por rios, florestas, savanas e pantanais, estende-se por seis países: Camarões, República Centro-Africana, República Democrática do Congo (que detém a maior parte da selva), República do Congo, Guiné Equatorial e Gabão. A floresta dá sustento, água e protecção a 80 milhões de pessoas, de 150 grupos étnicos diferentes, incluindo pigmeus, um grupo de caçadores-colectores de baixa estatura que têm um estilo de vida profundamente ligado à mata.

A floresta congolesa é um repositório valioso de cerca de 20 por cento das espécies do planeta: inclui 10 mil espécies de plantas tropicais, 1300 espécies de aves, 900 de borboletas, 700 de peixes, 400 de mamíferos, 400 de répteis e 336 de anfíbios. Além disso, a floresta é rica em madeiras, petróleo, diamantes, ouro e tântalo (um metal raro fundamental para a indústria dos telemóveis).

A pressão sobre este grande depósito de biodiversidade é enorme e passa pela deflorestação para a produção de carvão (a fonte de energia mais comum), agricultura industrial (produção de óleo de palma e borracha), extracção de minerais (ilegal, na maioria, controlada por grupos armados à margem do Estado) e caça.

Entre 1990 e 2000, a floresta congolesa perdeu mais de 90 mil quilómetros quadrados, o equivalente à área de Portugal. Especialistas projectam que a este ritmo entre 2010 e 2030 outros 250 mil quilómetros quadrados venham a desaparecer, o equivalente a 10 por cento de toda a área. No limite, em 2100 não haverá mais floresta tropical na bacia do Congo, como alertou o presidente Félix Tshisekedi, se os índices de crescimento da população e de procura de energia se mantiverem.

A biodiversidade animal também se encontra em risco devido à caça furtiva e ao tráfico de marfim. Os povos da floresta têm o hábito de consumir caça brava, incluindo macacos e antílopes. Só a República Democrática do Congo consome mais de um milhão de toneladas de animais selvagens por ano. Nos Camarões, o comércio de carne selvagem chega a render 122 milhões de euros por ano. O consumo de caça também está na origem de alguns surtos de ébola.

A floresta tropical da bacia do Congo precisa de uma gestão sustentada para continuar a dar o sustento aos seus habitantes e manter o seu papel activo no controlo das mudanças climáticas e no armazenamento de dióxido de carbono, contribuindo para um planeta mais saudável. A Parceria da Floresta da Bacia do Congo é uma iniciativa que desde 2002 visa promover a conservação e a gestão responsável das suas florestas.

6 de dezembro de 2020

CANTONEIROS DE DEUS

 


O advento é tempo de romper caminhos: de preparar os caminhos do Senhor para acolher Aquele que é o Caminho, o Emanuel, Deus-connosco, porque caminha connosco.

«A Palavra fez-se carne: estabeleceu a sua tenda entre nós», proclama João no prólogo do seu Evangelho.

Jesus é caminho, porque faz caminho connosco, nómada com os nómadas de Deus.

Os primeiros cristãos definiam-se como os do Caminho.

António Machado, o grande poeta catalão, escreveu: «Caminhante, não há caminho, / faz-se caminho ao andar».

O Evangelho de Marcos começa com o pregão de João Batista — que se eleva das vastidões profundas do deserto, o lugar de Deus e do encontro com Ele: «preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas» através do batismo de conversão para perdão dos pecados.

Caminhar o caminho de Jesus pede mudanças na vida e de vida. 

Converter-se é deixar de fazer o mal para fazer o bem, passar da nossa cabeça — que tudo justifica — ao nosso coração para repousar no Coração de Deus.

No advento, Deus faz-nos seus cantoneiros, novos batistas que encorajam as pessoas a regressar aos caminhos do Senhor. Cuidadores dos caminhos de Deus no coração de cada pessoa.

"O Vicariato da África Central foi pelos caminhos que a Divina Providência traça a todas as obras santas: o caminho das provas, das lutas e do triunfo», escreveu São Daniel Comboni.

João vestia-se com peles de camelo e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Vivia no deserto e do deserto. Tinha um estilo de vida sustentável.

Nós, os cantoneiros de Deu, temos que aprender a viver uma sobriedade feliz, sustentável, ecológica.

5 de dezembro de 2020

BOAS FESTAS DE CHIKOWA


Saudações em Jesus, o EMMANUEL.

Espero que o COVID vos tenha deixado tranquilos. As notícias que chegam daí não são as melhores. Esperamos que o medo não supere a serenidade e a prudência que a situação exige. 

Por aqui vive-se como se o bichinho não existisse. Esperamos que continue assim porque esta gente já tem quanto baste: malaria, SIDA, fome… Como aqui faz muito calor pensamos que o bichito não quer queimar o “rabinho”, salvo seja!... Antes assim!

Continuamos à espera das chuvas que acalmem este calor abrasador. Já deram os primeiros sinais e agora estamos esperançados que o futuro possa ser melhor. 

Entretanto, aguentam-se os meses mais duros até à novas colheitas. Esta gente ensina-me que nunca podemos desanimar e que há que viver na esperança de que algo melhor há-de vir. Também para vós melhores dias virão. O bichinho não há-de vencer.

Mando o cartãozinho natalício que preparei para este Natal. Possa o EMMANUEL encher-vos de esperança e das suas bênçãos.

Unidos na oração e na missão.

O amigo de sempre, 
Manuel Pinheiro - Zâmbia


4 de dezembro de 2020

TRÊS GRANDES PAIXÕES: JESUS CRISTO, COMBONI, MISSÃO


Irmã Clarisse Neves da Conceição – Missionária comboniana
Soito 27.11.44 – Lisboa 2.12.2020

Aos 76 anos de idade, o Senhor chamou a irmã Clarisse, depois de vários anos de sofrimento causado pela doença de Alzeimer. Visitei-a a última vez, já numa casa de saúde, em setembro de 2019. Nessa altura, apesar de não me reconhecer ainda cantou o fado com as palavras: “o meu destino é ser missionária”, em vez de “o meu destino é ser monge!” do cantor Hermano da Camara.

Nasce de uma família humilde com 8 irmãos, 4 rapazes e 4 raparigas. Uma família sã e feliz onde se respira Deus. Um lar de gente com talento. O pai era o carteiro e conhecia todas as pessoas da aldeia com mais de 3.000 habitantes.

Entra nas Missionárias Combonianas e faz os primeiros votos em 1972. Depois de alguns anos de preparação é destinada a Moçambique onde viveu a maior parte da sua vida, em tempos de grande sofrimento como tempo da guerra civil e em tempos de paz, depois do fim da guerra e do tempo de reconstrução do país completamente destruído no fim da guerra em 4 de outubro de 1992. Tive a graça de viver com ela a mesma missão e partilhar da sua alegria.

Em breves palavras, direi que a irmã Clarisse teve três grandes paixões na sua vida: jesus cristo, comboni e a missão. Foram estes os amores que a nortearam, lhe deram sempre uma grande alegria e causavam grande emoção na sua vida. Ela será recordada sempre pelo seu modo simples e descontraído de se aproximar das pessoas, para transmitir o Evangelho da vida sobretudo às mulheres moçambicanas e aos leigos a quem dedicou todas as suas energias. Tinha um caracter alegre e bem-disposto, atento e disponível. Era favorecida por um grande sentido de humor que a ajudava a ultrapassar tantas dificuldades próprias da missão.

Desde 1974 até 2014 esteve sempre em Moçambique embora com alguns períodos de formação ou trabalho na Itália ou em Portugal. A terra moçambicana e o seu povo tinham cativado o seu coração de um modo especial. Falar de Moçambique fazia-a saltar de alegria e emoção.

Era uma pessoa livre, alegre, gostava de cantar, sobretudo o fado. E este carisma nunca a abandonou mesmo na doença. Numa das últimas visitas que as irmãs combonianas lhe fizeram na casa onde se encontrava, ainda cantou o Ave de Fátima com a mesma emoção de uma jovem que canta para a sua querida mãe.

Clarisse consumiu a sua vida ao serviço do Reino, sempre com muita paixão e alegria. Ela descansa agora no abraço materno de Deus. Estamos certos de que continuará a cantar o fado a Maria, o seu fado missionário, espalhando alegria no Céu e na terra. Que a sua intercessão juntamente com Comboni desperte muitas e santas vocações missionárias nos jovens moçambicanos e portugueses.

P. Jeremias Martins (Vigário geral dos Missionários Combonianos)

3 de dezembro de 2020

MARAVILHA!


Estremece cada fímbria do meu ser,
arrepia-se cada célula do meu corpo,
ao ouvir que sou obra maravilhosa
moldado na bondade de Deus
pelas mãos do Amoreiro
a quem dou glória
vivendo a vida até ao último alento
com que devolvo o beijo
que o Papá depositou na minha boca
quando nasci.
Então eu sou Ele, sou eu!