21 de novembro de 2018

ESTRUME DO DIABO



Um coirmão italiano que foi ecónomo provincial costumava dizer que o dinheiro era «estrume do diabo». Esta definição pode revelar uma visão disfuncional dos bens, um bem-me-queres, mal-me-queres de uma realidade que é parte integrante da nossa vida de consagrados, do nosso voto de pobreza.

A economia e a finança captaram a atenção de duas congregações vaticanas este ano.

O Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Integral e a Congregação da Doutrina da Fé publicaram a 17 de maio de 2018 uma reflexão conjunta sobre as questões económicas e financeiras, propondo uma economia humanizada, com coração, que se preocupa com o bem-estar e o bem comum.

As questões económicas e financeiras quer introduzir a ética, a antropologia relacional e o conceito do bem comum no sistema económico-financeiro contra o individualismo e consumismo.

O documento defende também um consumo ético: não devemos comprar aquilo que sabemos que foi produzido sem respeitar os direitos dos produtores e o meio ambiente.

As considerações fazem todo o sentido, sobretudo hoje! Oito homens sozinhos detêm tanta riqueza como a metade mais pobre da humanidade junta.

A maioria faz o dinheiro nas tecnologias da informação e comunicação no âmbito do digital. Seis são americanos. Os outros dois são um mexicano (nas telecomunicações) e um espanhol (dono da Zara).

A Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica publicou a 6 de janeiro de 2018 umas Orientações sobre Economia ao serviço do carisma e da missão.

O documento diz que «o cristão, portanto, é chamado a ser ecónomo, administrador da multiforme graça» (nº 1) e «os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica são chamados a ser bons administradores dos carismas recebidos do Espírito, também na gestão e administração dos bens» (nº 2).

Somos administradores de bens – Jesus quer-nos  administradores fiéis e prudentes (Lucas 12, 42) – que não nos pertencem, mas que são eclesiais por natureza e, por isso, devem ser partilhados com os empobrecidos e com os institutos mais necessitados através de uma «economia evangélica de partilha e comunhão» (nº 16).

O documento fala da necessidade de as conferências de superioras e superiores maiores constituírem «comissões formadas por consagradas, consagrados e leigos especializados em matéria económica» (nº 95).

Somos nativos da cultura do consumo e somos tentados pelo consumismo. Neste âmbito, as Orientações recordam que o Papa Francisco «faz o elogio da sobriedade» (nº 8) caraterizada pela alegria de ter pouco e pela sobriedade, através de «uma austeridade responsável», «humildade sadia e uma austeridade feliz» para escutar «o grito dos pobres, dos pobres de sempre e os novos pobres» (Nº 51).

Ao refletir sobre as questões da economia, carisma e missão temos que fazer memória de Jesus Cristo, que «sendo rico, fez-Se pobre, para nos enriquecer na sua pobreza» (2 Coríntios 8,9).

Este é o paradoxo da vida económica: enriquecemos os outros através da «pobreza amorosa [que] é solidariedade, partilha e caridade» e «se manifesta na sobriedade, na busca da justiça e na alegria do essencial» (nº 14).

Como o papa escreveu na sua mensagem para o segundo Dia Mundial dos Pobres, que celebrámos a 18 de novembro, «os pobres evangelizam-nos, ajudando-nos a descobrir cada dia a beleza do Evangelho.»

«Não deixemos cair em saco roto esta oportunidade de graça», desafia Francisco.

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