17 de fevereiro de 2021

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Começa hoje a quaresma. A palavra tem a raíz no vocábulo latino quadragesima, que significa quadragésimo (dia antes do tríduo pascal).

Na Bíblia,  40 – além de quantidade matemática – significa tempo de preparação: o dilúvio demorou 40 dias; Moisés esteve 40 dias em jejum e isolamento no Monte Sinai para receber a Lei; o povo de Israel vagueou 40 anos pelo deserto para entrar na Terra Prometida; Jesus foi tentado durante 40 dias no deserto para iniciar o ministério do anúncio do Reinado de Deus; o Senhor ressuscitado ensinou os discípulos durante 40 dias antes de regressar ao Pai, a ascensão.

A quaresma é um período de 40 dias, de quarentena. Não em confinamento, mas em escancaramento de coração a Deus, aos outros e ao universo.

A liturgia propõe, através do evangelho para a Quarta-feira de Cinzas, três modos de fazer quaresma: oração, jejum e esmola. Três vacinas para imunizar contra a pandemia do individualismo narcisista globalizado.

A oração põe-nos em modo de repouso no coração de Deus para aprender a viver o sonho do Criador de bem-estar para toda a criação. Jesus exorta: «aprendei de mim que sou manso e humilde de coração».

O jejum, a renúncia voluntária e consciente a algo de que gostamos e/ou precisamos, remete-nos ao essencial da vida. Na cultura do consumismo desenfreado, que está a destruir o planeta, propomo-nos um estilo de vida sóbrio, sustentável. Para além da ritualização do jejum na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa e da abstinência de carne nas sextas-feiras.

A esmola, a partilha do supérfluo e das renúncias, escancara o coração às necessidades dos outros, sobretudo as pessoas mais afetadas pela pandemia do Covid 19. Jejum só para perder peso ou poupar não é jejum!

O Papa Francisco escreve na sua mensagem para a quaresma que «o jejum, a oração e a esmola – tal como são apresentados por Jesus na sua pregação (cf. Mt 6, 1-18) – são as condições para a nossa conversão e sua expressão. O caminho da pobreza e da privação (o jejum), a atenção e os gestos de amor pelo homem ferido (a esmola) e o diálogo filial com o Pai (a oração) permitem-nos encarnar uma fé sincera, uma esperança viva e uma caridade operosa.»

Jesus propõe que quarentena da quaresma seja vivida em segredo, no oculto para que a recompensa venha do Pai que vê o invisível.

A quaresma, os quarenta dias de preparação para a páscoa do Senhor, é — como diz a segunda leitura da liturgia das cinzas — «o tempo favorável», «o dia da salvação» vivido — na proposta da profecia de Joel — no coração: «Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes, convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia.»

Na quarentena da quaresma, mais que ventilar os pulmões, é preciso converter os corações.

A quarentena da quaresma é um caminho de regresso à ternura de Deus, à casa do Pai.

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