A alegria da missão concretiza-se na fidelidade da resposta dada ao chamamento de Deus. E essa tem que ser uma resposta diária.
A alegria da missão vive-se, também, de momentos duros, dolorosos, mas riquíssimos.
No momento em que vos escrevo, vivem-se momentos de paz na zona Metekel, no oeste da Etiópia. A paz de que vos falo é a paz da ausência de mortos e feridos. Mas, no meu íntimo, desejo uma paz mais difícil: paz no coração de tanta gente que sofreu e sofre! Aqui existem tantos corações feridos…
Nestes dias, eu e o David temos ido com regularidade à esquadra da polícia, onde se encontram vários detidos, a maioria deles sem justificação e alguns deles feridos. Visitamos os detidos, oferecemos água, algum dinheiro para que possam comprar comida e, conjuntamente com a Ir. Nives Bataglia, Irmã Missionária Comboniana e enfermeira, prestamos cuidados médicos aos feridos. Hoje, quando fomos visitar os detidos, recebemos a notícia de que todos os que estavam feridos tinham sido colocados em liberdade. Melhor assim, que possam estar em liberdade junto da sua família.
Como sinal de alguma estabilidade, as escolas começam a reabrir na cidade (por certo que nas aldeias ainda não haverá escola). Este é o terceiro ano consecutivo que os alunos não têm escola durante todo o ano lectivo e a causa não é a pandemia Covid-19, senão os conflitos étnicos. Alguns jovens pedem-nos pequenos trabalhos para que possam comprar cadernos escolares. O trabalho dignifica e conseguir os seus próprios cadernos com o fruto do seu trabalho é muito melhor. O nosso trabalho deverá privilegiar sempre a promoção da dignidade humana.
Sempre que medito sobre como é difícil a muitos jovens aqui, especialmente os Gumuz, obter uma educação digna, sofro, porque lhes quero muito. Estes jovens são o futuro da Etiópia e da sua região. Se não tiverem acesso a uma educação digna, que futuro podemos esperar da Etiópia? Eu que venho de uma região do interior de Portugal, que tinha que levantar-me todos os dias às 6:00 da manhã para poder apanhar o autocarro e chegava quase todos os dias às 19:00, fazendo diariamente mais de 60 quilómetros para poder ter aulas, no ensino secundário, percebo que fui um sortudo comparado com estes jovens sem condições para poder ter um bom aproveitamento escolar e futuro profissional. A vida é dura… Mas é bela.
Obrigado queridos amigos e amigas pela vossa oração e carinho. Obrigado pela vossa partilha material que nos permite partilhar com os detidos, os doentes, os jovens, comprar livros para a biblioteca, etc.
A missão pertence a Deus e nós somos meros instrumentos do Seu Amor. Sem a vossa generosidade, oração e amizade, a minha missão, para a qual fui chamado, não seria completa. É sincero quando vos digo que sois preciosos nesta missão.
Estou longe de vós, mas acompanho a situação do meu país! Rezo por vós, rezo por Portugal e pelo mundo.
Unidos na oração e no Amor de Deus,
Pedro Nascimento
Leigo Missionário Comboniano
Etiópia
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