A consagração é a forma de sermos missionários. Esta é uma reflexão que somos chamados a aprofundar durante o Ano da Vida Religiosa!
Podemos entender os votos pela negativa como interditos, áreas proibidas, fora dos limites: sou casto, não exerço a minha genitalidade; sou pobre, não gasto dinheiro comigo; sou obediente, não faço a minha vontade. Esta é uma maneira de entender a consagração e que geralmente gera negatividade, pessoas azedas e legalistas com quem é difícil viver e conviver.
A Regra de Vida ao dizer que a consagração religiosa está ao serviço da evangelização, faz missionários os votos de castidade, pobreza e obediência, porque eles nos abrem ao serviço da missão.
O P. Francisco Pierli tratou deste tema em profundidade no livro Come eredi – Como herdeiros. A obra apresenta linhas de espiritualidade missionária comboniana que merecem ser revisitadas 22 anos depois!
No capítulo A consagração do comboniano, hoje insere uma longa reflexão sobre os votos «combonianos» (as aspas são dele) depois de escrever sobre a consagração como iniciativa do amor gratuito e geradora de comunhão.
Começa pela obediência que «com o seu dinamismo de informação, reflexão e discernimento comunitário, é um antídoto formidável para o individualismo e ativismo», favorecendo a corresponsabilidade e a participação.
Depois diz que «sem a experiência da pobreza, da insegurança e da ausência de poder não se pode viver a missão» e nota que a partilha de todos os bens com os confrades é outro aspeto importante da pobreza para ultrapassar a lógica do «meu».
A Regra de Vida fala também da pobreza como trabalho diário sério e empenhado (RV 27, 2) e como partilha de bens materiais e de experiências de fé (RV 27, 3).
Finalmente, Pierli sublinha que «o fundamento do voto de castidade é um amor profundo, um coração apaixonado por Jesus Cristo, por Comboni, pelos confrades e pela gente». E afirma: «Nós fazemos o voto de castidade porque queremos que Ele, Bom Pastor, possa continuar a amar em nós e através de nós, porque queremos que o nosso corpo sexuado e casto seja em certo sentido sacramento do amor de Deus».
O missionário é obediente para discernir, pobre para partilhar e casto para amar a todos de coração inteiro!
Desta maneira, os votos não nos «protegem» das pessoas e do mundo, mas lançam-nos no coração do mundo para o serviço missionário, para anunciar o Reino que é de justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Carta aos Romanos 14: 17).
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