Tem olhos vivos e uma energia contagiante. É jovem, tem apenas 21 anos, mãe de duas meninas e grávida da terceira. É uma das líderes mais ativas da sua comunidade beduína, no meio do deserto escaldante da Cisjordânia, na Terra Santa.
Incerteza. Num território onde a terra é disputada e os direitos são negados, elas persistem, invisíveis, mas indispensáveis.
Escrevemos no grupo do WhatsApp da comunidade:
—Podemos visitá-las hoje?
—A que horas? —respondeu imediatamente.
—Tem consulta médica?
—Não. Venham. Mas, se possível, antes do meio-dia.
E assim foi.
Chegámos. O sol escalda. Elas estão à nossa espera. Reunidas sob a tenda de lona aberta, onde o vento sopra livremente, misturando poeira e areia.
Sentámo-nos no chão, como sempre.
Algumas costuram à máquina, outras bordam, aprendem a fazer bolsinhas, porta-chaves, separadores. Algumas tentam pela primeira vez. Ela, como sempre, orienta-as.
Mesmo com o corpo cansado, não deixa de estar presente.
— Não dói?
— Não muito! — responde, levantando-se com esforço.
— Dói?
— É que já está quase... — responde, com um meio sorriso, como a pedir desculpa por não estar tão atenta como sempre.
Porque geralmente é ela quem organiza, faz as contas, medeia os desacordos. Ela é ponte, bússola, calma.
Não terminou a escola, embora fosse a melhor da turma. Estudar mais significava ir para Jericó ou Anata, e o pai não deixou.
Casou-se jovem. Mas nunca deixou de aprender. Nem de liderar.
As suas filhas olham para ela como um farol. A mais nova, de dois anos e meio, é uma centelha de inteligência.
Sempre limpas, bem vestidas, dignas. Gostam de dançar, participar, perguntar. Como a mãe.
Quando outra comunidade não consegue completar um pedido, ela e as suas respondem. Com precisão, com dedicação.
Elas aprendem, ensinam, resistem.
Abrindo caminho. Porque ela não desiste. Porque a vida não desiste. Ela é esta terra: ferida, em parto, resistindo.
Mas por dentro, a vida insiste. A esperança empurra. E nada pode detê-la.
Ir Cecília Sierra,
Missionária Comboniana no Deserto da Judeia

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