15 de outubro de 2024

ADEUS, HIENA



O dia acordou cheio de sol, lindo mesmo. A cozinheira deu-me os bons dias com cara de caso. «Buchi morreu!», disse, triste.

Bichi era como ela tratava o nosso rafeiro. Eu chamava-lhe Halala, Hiena em guji, por causa das suas cores quando era cachorrito.

Hiena apanhou o portão da missão aberto à noite, foi para a estrada e foi apanhado por um tuque-tuque, os táxis daqui. Fiquei triste, porque estava afeiçoado ao cachorro.

Veio para a missão de Qillenso há menos de meio ano. Tinham-nos matado o Bobi. Fui à aldeia vizinha comprar carne com a cozinheira e ela meteu-o na caixa do todo-o-terreno.

Vi-o quando chegamos a casa. Tremia como varas verdes – nunca tinha andado de carro – e estava cheio de pulgas. Guyyate pegou no spray para mosquitos e resolveu o problema.

Hiena – ou Halala – detestava a água. Quando lhe dava banho chorava como uma criança. Era difícil apanhá-lo perto de casa. Até para lhe tirar as carraças, que eram mais que muitas. Gostava de dormir num monte de palha seca.

Entretanto, cresceu e eu deixei de o lavar. Mas ganhou confiança de novo e gostava de ser acarinhado.

Comia tudo: ossos, restos de comida, bananas, abacates, milho cozido ou cru... O que lhe aparecesse à frente. «Boquinha de missionário!», comentava o meu colega.

Era pequeno de corpo, mas tinha um caminhar vaidoso, altivo, seguro de si.

O seu ladrar estridente à noite punho tudo a milhas.

Quando estava fora de Qillenso por algum tempo, fazia uma festa à minha chegada: corria à frente do carro e quando saía punha-se a grunhir de uma maneira especial à procura de miminhos.

Às vezes, quando cantávamos ele uivava. Nunca entendi se era a fazer pouco de nós ou para cartar connosco.

Durante a oração da manhã e da tarde gostava de se coçar contra os nossos pés, na sala de estar.

Durante as refeições esperava pacientemente por um bocado de pão ou outro petisco.

Cresceu com a gata e os dois filhotes. Mas ultimamente gostava de lhes dar umas corridas. E a comida era toda para ele. Tive de começar a alimentar os gatos no topo de um poço alto onde ele não chegava.

Gostava muito de brincar com as pessoas, sobretudo com os miúdos, que fugiam dele a pés juntos, porque tinham medo de ser mordidos...

É interessante como nos afeiçoamos aos animais. Fiquei muito triste quando mataram o Bibi e mais triste ainda quando o Halala foi atropelado...

Vamos ter de arranjar outro cachorrito, porque de noite os guardas vão dormir para casa e a missão fica escancarada...

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