20 de maio de 2024

MUDANÇA NA COZINHA


Desde 15 de maio que a comunidade de Qillenso tem uma nova cozinheira. 

Guyyate Makarsa, que cozinhava para nós há 34 meses, antes da Páscoa quis falar comigo.

– Depois da Páscoa, queria começar uma nova fase da minha vida! – explicou. – Quero ir para Adola aprender a arte de cabeleireira para ter alguma autonomia quando me casar.

Ela começou a cozinhar para nós em 2022 depois de duas senhoras de terras mais baixas terem desistido de trabalhar em Qillenso por causa da humidade. Uma era mãe e o bebé não parava de chorar. A outra tinha dores de dentes contínuas.

Nessa altura, Guyye – como a chamamos – estava no 12º ano e tinha duas horas de aulas por dia, das 16h00 às 18h00. O pai disse-lhe para vir cozinhar para nós uma vez que tinha aprendido alguma coisa com uma amiga.

Fez o exame de admissão à universidade duas vezes, mas não conseguiu nota para frequentar a universidade pública. Uma irmã mais nova está a estudar Farmácia numa universidade privada e o pai não tem maneira de manter as duas. É pena, porque é muito inteligente. É vítima da crise da educação na Etiópia.

Agora, com 24 anos, chegou a hora de planear o futuro. Antes de casar quer alguma autonomia económica.

– Estou preocupada, porque vão ficar sem cozinheira! – confessou.

– Não te preocupes. Deus deu-te-nos e vai dar-nos alguém outra vez. Tu, prepara o teu futuro! Obrigado por cuidares de nós tão bem durante os últimos quase três anos. Vai em paz! – respondi.

Perguntamos às Missionárias da Caridade se conheciam alguma mulher que soubesse cozinhar. Prometeram ver.

Entretanto, num domingo uma candidata a irmã de Qillenso telefonou-me a perguntar como iam as coisas! Entre as muitas questões quis saber como estava Guyyate.

– Vai deixar-nos para poder estudar em Adola! – respondi. – Vamos ficar sem cozinheira!

Disse-me que conhecia uma senhora de Fullasa, onde ela esteve algum tempo numa comunidade das irmãs com quem vive, que tinha experiência de cozinha para estrangeiros. Trabalhou com os missionários espiritanos de Dadim, entre os borana, e com as Irmãs em Fullasa. E fala oromo!

Pusemo-nos em contacto telefónico e a Sr.ª Werqe (significa Ouro) aceitou vir trabalhar connosco. Tem uns 40 anos. O filho acompanhou-a a Qillenso.

A primeira coisa que dizemos foi levá-la ao mercado para lhe comprar alguma roupa quente. Guyye foi a Adola comprar-lhe um par de botas. 

A senhora é dedicada e cozinha bem. Espero que se dê com a nossa humidade, sobretudo em julho quando o nevoeiro denso e a morrinha se entranham até à medula dos ossos!

Por agora, fica três meses à prova!

Quanto a Guyye, no dia 17 levei-a para Adola com as suas coisas. Que Deus abençoe o seu futuro. Merece!

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