3 de fevereiro de 2017

MÁSCARAS

© Fernando Sousa

As máscaras são um assunto sério!

Relacionamos máscaras com adereços de Carnaval (para corsos e bailes da quadra) ou disfarce de bandidos, ladrões e forças especiais de segurança. Na África, as máscaras representam uma realidade cultural, social e religiosa tão vasta e variada como o continente. Museu de arte africana que se preze tem de incluir, obrigatoriamente, uma mostra de máscaras.

Os entendidos derivam a palavra «máscara» de dois étimos: masca (palavra latina que significa fantasma) ou maskharah (termo árabe que quer dizer palhaço ou homem disfarçado). Mas o seu significado simbólico na África é muito mais vasto e está relacionado com rituais e cerimónias.

Os Africanos fazem e usam máscaras desde o Paleolítico, há mais de dez mil anos, para assinalarem nascimentos, ritos de iniciação, casamentos e funerais; sementeiras e colheitas; para preparar a guerra e a paz; para pedirem chuva e sorte para a caça; para invocarem a ajuda das divindades, dos antepassados, dos animais protectores da comunidade, os tótemes; para entreter; para ensinar.

Milhares de etnias de norte a sul idealizam e produzem uma variedade imensa de máscaras, com simbologias tão diversas como as circunstâncias e as latitudes em que são usadas.

Fazem-nas de materiais diversos: madeira (o material mais à mão e adequado porque as florestas são a habitação dos espíritos), couro, barro, têxteis, metais (sobretudo cobre e bronze), marfim. Podem ser pintadas, decoradas com dentes de animais, pêlos, erva seca, ossos, cornos, penas, conchas e outros materiais.

Vêm em muitas formas e feitios: algumas cobrem só o rosto do portador, outras a cabeça como um chapéu ou como um capacete; há máscaras que tapam a cabeça e o tronco ou de corpo inteiro em prolongamentos de tecido ou erva seca.

Podem ser realistas ou abstractas e estilizadas, mas o seu significado vai muito além da mera concepção estética desde o grotesco assustador à delicadeza estilizada da beleza feminina. As máscaras africanas influenciaram artistas plásticos como Picasso.

Os artistas-artesãos são na maioria dos casos uma elite prezada porque «ligam» ao sobrenatural. Aprendem a arte com os mais velhos e – como os pintores dos ícones cristãos – têm de passar por rituais de purificação (podem incluir jejum e abstinência) antes de deitar mãos à obra.

Os portadores das máscaras são seleccionados, porque intermedeiam entre a comunidade e a deidade. Durante o transe da dança dizem-se possuídos pelo espírito que a máscara representa. Por vezes, necessitam de tradutores que interpretem os movimentos e os sons que produzem nas danças mascaradas sagradas.

A exibição das máscaras é um evento multimédia: as danças rituais dos mascarados requerem banda sonora com instrumentos tradicionais e cantares, coros. Podem ser políticas (quando o mascarado é um chefe) e pedagógicas (para passar aos mais novos valores da comunidade como a humildade, paciência, sabedoria, conceitos de estética, representar mitos, histórias, etc.).

Uma nota final: na África do Sul, escravos de algumas etnias usavam máscaras com expressões cómicas para – durante o Carnaval – poderem dizer mal dos patrões na própria cara sem serem identificados e punidos. Pois claro: é Carnaval, ninguém leva a mal!

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