2 de janeiro de 2017

DESTRELADO


O jornalista, escritor e dramaturgo brasileiro consagrado Nelson Rodrigues intitulou as suas memórias A menina sem estrelas publicadas em novembro de 2016 pela Tinta da China. 

As 81 crónicas foram originalmente publicadas no jornal brasileiro Correio da Manhã entre fevereiro e maio de 1967.

Os textos misturam amor, morte e sexo, os ingredientes primordiais da vida. 

Complexo e compacto, no que diz respeito aos conteúdos, o livro é contudo de leitura fácil e agradável dado o estilo eloquente em que grafa os seus pensamentos, sentimentos e apontamentos.

O assassinato do irmão, a primeira visão da nudez feminina e a iniciação num bairro de prostituição, a fome que não lhe permitia o luxo do ódio, a experiência num sanatório para curar a tuberculose, estórias de traição, adultério, suicídio e homicídio, a cegueira da filha que não podia ver as estrelas, as inseguranças e a necessidade constante do reconhecimento literário – tudo isto confessa com uma simplicidade honesta e desarmante como que num exercício de psicoterapia.

Nelson Rodrigues começou a exercer o jornalismo aos 13 anos. Fala com saudades do jornalismo criativo e adjectivado, criativo. Queixa-se que a objectividade e o copy-desk mataram a emoção no jornalismo.

Há uma referência repetida à literatura portuguesa. Os Maias são evocados amiúde. Para Nelson Rodrigues, o suicido de Antero Quental foi o seu último poema.

Das muitas frases lapidares que burilou anoto uma que me tocou: «só os profetas enxergam o óbvio».

Nelson Rodrigues nasceu em 1912 e faleceu em 1980.

Uma janela para um Brasil distante, mas interessante; uma reflexão honesta e exposta, em primeira pessoa, sobre a tensão do viver, amar e morrer; uma obra que merece uma leitura atenta sobre o mistério humano.

1 comentário:

Unknown disse...

Também quero ler o nosso brasileiro!