A globalfirepower.com publica todos os anos uma série de tabelas analíticas dos gastos de 126 poderes militares modernos, incluindo 30 africanos. A leitura cruzada dos dados pode ser aborrecida, mas é essencial para entender a realidade.
Os 30 países de África que integram a lista gastaram juntos cerca de 40 mil milhões de dólares na segurança em 2015. Nada que se compare com os 581 mil milhões que os Estados Unidos da América necessitaram para manter a supremacia militar global, mas mesmo assim é muito mais do que investiram no desenvolvimento.
Por países, a Argélia leva a dianteira com um orçamento de 10,57 mil milhões de dólares por ano; seguem-se a África do Sul (4,6 mil milhões) e o Egipto (4,4 mil milhões). Angola, Marrocos, Líbia, Sudão e Nigéria registam gastos entre os 4,1 e 2,3 mil milhões.
Em termos de classificação, a Argélia ocupa a posição 22 entre os 126 países mais gastadores. A África do Sul está no 43.º lugar e o Egipto no 45.º Angola, na posição número 47, está à frente de Portugal, que ocupa a posição 49.ª com um gasto de 3,8 mil milhões com a defesa.
Note-se que o Sudão do Sul paga 545 milhões de dólares pela sua máquina de guerra. Ocupa a posição 84.ª na tabela mundial, acima dos vizinhos Etiópia (90.º), Uganda (94.º), República Democrática do Congo (106.º) e República Centro-Africana (126.º). Contudo, em termos de produto interno bruto, o país está na cauda das economias mundiais.
O dinheiro despendido na defesa, contudo, não corresponde ao músculo militar. Se a Argélia é o que mais gasta, o Egipto é de longe a primeira potência militar africana e a décima segunda na escala dos 126 países listados pela Global fire power. A Etiópia, que ocupa a 90.ª posição quanto a gastos, é a terceira força militar em África e 42.ª a nível mundial depois da Argélia (que ocupa a 26.ª posição global).
No que respeita à aviação, o Egipto com 13 444 unidades tem a primeira força aérea da África e a sétima do mundo, acima do Reino Unido, que ocupa a posição número 12. Seguem-se-lhe a Argélia, Marrocos e Angola, nas posições globais 26, 33 e 35, respectivamente.
Comparando as marinhas, o Egipto detém a mais poderosa frota naval africana e a sexta do mundo, apesar de ter só mais 657 quilómetros de costa que Portugal. Marrocos, Nigéria e Argélia vêm a seguir.
O poderio militar e a deriva securitária devido a conflitos internos em alguns países africanos têm custos muito elevados sobretudo para economias mais débeis e são os mais pobres quem mais sofre as consequências. O dinheiro tão necessário para o desenvolvimento acaba no poço sem fundo da guerra.
O Sudão do Sul é exemplar: quase metade dos dinheiros que o Parlamento de Juba alocou no orçamento para 2017 foram para a defesa. A outra metade mal dá para os salários da função pública, e as despesas da saúde, educação, infra-estruturas e outros gastos fundamentais numa economia com a hiperinflação anual de 830 por cento.
Não admira, portanto, que apesar do crescimento que a economia africana regista, o número dos pobres continue a crescer: grande parte da riqueza é para pagar a pesada factura (ocidental) do armamento a credores, traficantes e fornecedores. A paz fica mais barata.
Sem comentários:
Enviar um comentário