15 de abril de 2021
TESTEMUNHAS VIVENTES
Há pequenos textos da Bíblia que se colam ao coração como a lapa à rocha, que nos acompanham ao longo dos dias, desassossegam o caminho, desinstalam, abanam as seguranças.
Um desses textos que tem mexido comigo — sobretudo nestes dias de retiro — é o prólogo da Primeira Carta de João (1, 1-4).
Diz: «O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida, — de facto, a Vida manifestou-se; nós vimo-la, dela damos testemunho e anunciamo-vos a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós — o que nós vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco. E nós estamos em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Escrevemo-vos isto para que a nossa alegria seja completa.»
Este texto é fundamental para mim, discípulo missionário, testemunha da Vida.
Testemunhamos e anunciamos o que ouvimos, vimos, contemplamos, tocamos com as nossas mãos. Esta é a gramática do serviço missionário ao mundo, da evangelização. Não anunciamos uma ideia, uma doutrina. Proclamamos uma pessoa, o Vivente, a fonte da vida, a Vida!
O testemunho — e, depois, o anúncio — sem este processo verbal tem o sabor amargo de fraude.
Mais à frente, João escreve: «a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros» (1 João 3, 11).
Ouvimos o imperativo do amor manifestado pela Palavra encarnada, testemunho do amor do Pai para e por cada um de nós.
Jesus explicou a Nicodemos, o discípulo da noite: «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna» (João 4, 16).
Vimos a Vida nas irmãs e irmãos que fazem da sua vida um evangelho vivo; que amam em excesso, incondicionalmente. Não importa se são cristãos ou não. São amantes da Vida.
Contemplamos a Vida no grande livro da criação: na beleza de um nascer ou pôr do sol; numa vale tranquilo ou numa montanha agreste; na beleza de uma pessoa; na delicadeza de uma flor selvagem; no canto de louvor de um pássaro; na força telúrica do mar ou de um vulcão; na violência da tempestade e no silêncio da brisa ligeira. No silêncio da noite estrelada; no breu sem luar; na noite escura da fé. No sofrimento e na dor, na morte…
Tocamos a Vida no serviço aos mais pobres, no corpo chagado dos doentes, na escuta sem pressas dos desconsolados…
Testemunhamos e anunciamos a Vida, vivendo totalmente, incondicionalmente, com a alegria de quem vive a Palavra. Ireneu de Lião disse que «a glória de Deus é o homem vivo».
Fazemo-lo para tecer uma rede cósmica de comunhão com o Pai e com o Filho, entre nós e com a criação inteira: uma torrente de Vida que transborda e vive em cada criatura.
Dizer o indizível, amar o invisível, crer o intangível gera uma alegria indescritível.
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