29 de maio de 2020

AMAS-ME? SOU TEU AMIGO


O evangelho de João termina com uma desconversa intrigante entre Jesus e Pedro (que alguns tradutores passam por cima).

Na última aparição junto ao lago de Tiberíades, depois do pequeno almoço de pão e peixe grelhado que Jesus lhes preparou – que amigo cuidador, este perguntou a Pedro:

«Simão, filho de João, tu amas-me mais do que estes?» Pedro respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que sou teu amigo» (João 21, 15).

Primeiro, Jesus, trata Pedro pelo seu nome civil, o nome antes da missão: Simão, filho de João. A ressurreição de Jesus marca também um novo começo, um novo chamamento para os discípulos.

Depois, Jesus pergunta se ele o ama e Pedro responde que é seu amigo. São duas coisas diferentes: amar e ser amigo.

Jesus fez esta pergunta a segunda vez e obteve a mesma resposta. Da terceira vez Jesus reajustou a pergunta:

«Simão, filho de João, tu és meu amigo?» (João 21, 17).

Dom António Couto, bispo de Lamego, tem uma explicação para este trocadilho entre amar e ser amigo no texto Entre a amizade e o amor:

Mas há mais ainda, sobre aquela praia do Mar da Galileia,
Um último confronto entre Jesus e Pedro,
Entre o amor novo de Jesus que abraça a todos,
E a amizade de Pedro circunscrita ao seu grupo de amigos.
Aí, Jesus interrogará Pedro sobre o amor novo,
E Pedro responderá que sim,
Que é amigo de Jesus.
Na verdade, Pedro continua a ler a sua vida
E o seu relacionamento com Jesus,
Dentro das fronteiras da amizade que une um grupo de amigos.
Falta ainda a Pedro entender a lição do amor novo de Jesus,
Que ama a todos,
Que é para todos,
E rebenta assim as fronteiras fechadas
De qualquer grupo de amigos.

Daniel Comboni escreve que é preciso conjugar o verbo amar no serviço missionário: «Deus está connosco, porque nós desejamos unicamente a sua glória. É hora de mover todos os corações do universo para amar a Deus, a Igreja, o seu chefe, as missões e sobretudo os mais abandonados» (Escritos 1655).

O evangelho termina com o dito de Jesus sobre a ancianidade: «quando envelheceres, estenderás as tuas mãos e outro te vestirá e levará para onde não queres». É a experiência de tantos idosos que não querem ir para os lares para não perderem a autonomia, o seu «cantinho».

Mas também indica que ao seguir Jesus, pomo-nos nas mãos uns dos outros, somos chamados a viver sobre o olhar misericordioso de Deus e dos irmãos. É impossível seguir Jesus por conta própria, fora da comunidade dos crentes.

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