25 de setembro de 2006

Sabedorias

TRÊS CONSELHOS

Um casal de jovens recém-casados, era muito pobre e vivia de favores num sítio do interior. Um dia o marido fez a seguinte proposta à esposa:
- Querida, eu vou sair de casa, vou viajar para bem longe, arranjar um emprego e trabalhar até ter condições para voltar e te dar uma vida mais digna e confortável. Não sei quanto tempo vou ficar longe, só te peço uma coisa, que me esperes e enquanto eu estiver fora, me sejas FIEL, pois eu também te serei fiel.
E o jovem partiu. Andou muitos dias a pé, até que encontrou um fazendeiro que estava a precisar de alguém para o ajudar. O jovem ofereceu-se para trabalhar e foi aceite. Pediu para fazer o seguinte contrato:
- Deixe-me trabalhar pelo tempo que eu quiser e quando eu achar que devo ir, o senhor dispensa-me das minhas obrigações. Eu não quero receber o meu salário. Peço que o senhor o guarde até ao dia em que eu for embora. No dia em que eu sair o senhor dá-me o dinheiro e eu sigo o meu caminho.
O contrato foi aceite. Aquele jovem trabalhou durante vinte anos, sem férias nem descanso. Um dia disse ao patrão:
- Patrão, eu quero o meu dinheiro, pois vou voltar para a minha casa.
O patrão respondeu-lhe:
- Tudo bem! Afinal, fizemos um contrato e eu vou cumpri-lo. Só que antes quero-lhe fazer uma proposta: eu dou-lhe o seu dinheiro e você vai-se embora. Ou dou-lhe três conselhos e não lhe dou o dinheiro e você vai-se embora. Se eu lhe der o dinheiro eu não lhe dou os conselhos, se eu lhe der os conselhos, eu não lhe dou o dinheiro. Pense e depois dê-me uma resposta.
Ele pensou durante dois dias. Depois procurou o patrão:
- Quero os três conselhos!
O patrão frisou novamente:
- Se lhe der os conselhos, não lhe dou o dinheiro.
- Quero os conselhos.
O patrão então disse-lhe:
- 1. NUNCA TOME ATALHOS NA SUA VIDA. Caminhos mais curtos e desconhecidos podem-lhe custar a vida. 2. NUNCA SEJA CURIOSO PARA AQUILO QUE É MAL, pois a curiosidade para o mal pode ser mortal. 3. NUNCA TOME DECISÕES EM MOMENTOS DE ÓDIO OU DE DOR, pois você pode-se arrepender e ser tarde demais.
Depois de lhe dar os conselhos, o patrão disse ao rapaz que já não era assim tão jovem:
- Você tem aqui três pães. Estes dois são para a viagem e o terceiro é para comer com a sua esposa quando chegar a casa.
O homem tomou o caminho de regresso, depois de vinte anos longe de casa e da esposa que ele tanto amava.
Após o primeiro dia de viagem, encontrou um andarilho que lhe perguntou:
- Para onde é que você vai?
- Vou para um lugar muito distante que fica a mais de vinte dias de caminhada.
O andarilho disse-lhe então:
- Rapaz, este caminho é muito comprido. Eu conheço um atalho que é dez vezes mais curto, e você chega em poucos dias.
O rapaz, contente, começou a seguir pelo atalho, quando se lembrou do primeiro conselho; então voltou e seguiu o caminho normal. Dias depois soube que o atalho levava a uma emboscada.
Depois de alguns dias de viagem, cansado ao extremo, encontrou uma pensão à beira da estrada, onde se hospedou. Pagou a diária e após tomar um banho deitou-se para dormir. De madrugada acordou assustado com um grito estarrecedor. Levantou-se de um salto e dirigiu-se à porta. Quando estava para sair e ver o que se passava, lembrou-se do segundo conselho. Voltou, deitou-se e adormeceu.
De manhã, depois de tomar o café, o dono da pensão perguntou-lhe se ele não tinha ouvido um grito e ele disse que sim.
- E você não ficou curioso?
Ele disse que não. O hospedeiro respondeu:
- Você é o primeiro hóspede a sair daqui vivo, pois o meu filho tem crises de loucura, grita durante a noite e quando o hóspede sai, mata-o e enterra-o no quintal.
O rapaz prosseguiu na sua longa jornada, ansioso por chegar a casa.
Depois de muitos dias e noites de estrada, já ao entardecer, viu entre as árvores o fumo da chaminé da sua casa, e entre os arbustos a silhueta da sua esposa. Estava a escurecer, mas ele pôde distinguir que ela não estava só. Andou mais um pouco e viu que tinha junto dela um homem a quem estava a acariciar os cabelos. Quando viu aquela cena, o seu coração encheu-se de ódio e amargura e decidiu correr e matá-los sem piedade. Respirou fundo, apressou o passo, quando se lembrou do terceiro conselho. Então parou, reflectiu e decidiu dormir aquela noite ali mesmo, debaixo de uma árvore, e no dia seguinte tomar uma decisão.
Ao amanhecer, já com a cabeça fria, disse:
- Não vou matar a minha esposa e nem o amante. Vou voltar para o meu patrão. Só que antes, quero dizer-lhe que sempre lhe fui fiel.
Dirigiu-se à porta da casa e bateu. Quando a esposa abriu a porta e o reconheceu, atirou-se ao seu pescoço e abraçou-o afectuosamente. Ele tentou afastá-la, mas não conseguiu. Então com lágrimas nos olhos disse-lhe:
- Eu fui-te fiel e tu traíste-me...
Ela, espantada, respondeu-lhe:
- Como? Eu nunca te traí… Esperei durante estes vintes anos.
- E aquele homem que estavas a acariciar ontem ao entardecer?
- Aquele homem é nosso filho. Quando te foste embora, descobri que estava grávida. Hoje ele está com vinte anos de idade.
Então o marido entrou, abraçou o filho e contou-lhes toda a sua história, enquanto a esposa preparava o café. Sentaram-se para comer juntos o último pão. Após a oração de agradecimento, com lágrimas de emoção, ele partiu o pão e ao abri-lo encontrou dentro dele todo o seu dinheiro, o pagamento pelos seus vinte anos de dedicação.
Obrigado, Cidy

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