O meu crucifixo, pendurado ao pescoço, atrai imediatamente os seus olhares curiosos. São crianças beduínas, palestinianas, muçulmanas. Algumas olham para o crucifixo, apontam para ele com seriedade e sussurram:
— Haram! Pecado!
Mas outras aproximam-se com os olhos bem abertos:
— Quem é ele?
— Jesus, o Messias! — respondo com um sorriso.
— Enti mesihiah? És cristã?
Um deles repete pensativo:
— O Messias... Ah, é por isso que chamam-vos mesihiyin, cristãos.
Então, um deles pergunta-me:
— Rezas?
Respondo com outra pergunta:
— E tu rezas?
Com voz firme e olhar sereno, começa a recitar a sura al-Fatiha do Alcorão. Depois, olha para mim com ternura e diz:
— Agora é a tua vez.
Recito o Pai-nosso em árabe.
Uma menina aproxima-se, em silêncio, e acena com a cabeça a cada palavra. Cria-se um momento de suspenso, quase sagrado. Quando digo «Ámen», ela também sussurra:
— Ámen!
A oração de Jesus atravessa os corações. Não precisa de explicação.
Um menino, filho de um xeque, no início diz-me, com firmeza, que carregar a cruz é haram, pecado.
A sua família é um pouco rígida. A mãe cobre o rosto com uma burca. Mas, no final do dia, algo mudou no seu olhar. Com olhos brilhantes e sinceros, ele olha para mim e diz:
— Eu amo os cristãos. São meus amigos.
No dia seguinte, chega um jovem voluntário estrangeiro. O menino corre emocionado na sua direção:
— Mesihi? Cristão?
— Sim, é cristão! — respondo-lhe.
Então ele sorri, com uma alegria imensa, e diz:
— Sou amigo dos cristãos.
E cumprimenta-o amigavelmente.
Perguntamos às crianças:
— Se pudesses receber um presente de paz, qual seria?
Uma criança de seis anos, sem hesitar, responde com uma única palavra:
— Gaza.
As professoras olham-se em silêncio, comovidas. Não era preciso mais nada. A resposta dele dizia tudo.
São estes os encontros que guardamos na alma. Pequenos gestos, cheios de uma força silenciosa: abrir-se ao outro, acolher o diferente sem medo, descobrir que o sagrado também habita na voz e na fé do outro.
Durante este mês de julho, percorremos nove aldeias no deserto da Cisjordânia, partilhando com crianças temas de paz, esperança, alegria e resiliência através dos campos de verão.
No meio de uma realidade polarizada, difícil e incerta, nos acampamentos de verão as crianças beduínas aprendem que a diversidade não é uma ameaça, mas uma riqueza. Eles aprendem — e ensinam-nos — que há beleza na oração do outro, na sua forma de nomear Deus, na sua maneira de amar.
A cada passo, o coração se expande. A cada criança, a esperança se renova.
«Quando o teu coração está cheio de amor, nunca verás um rosto estranho», escreveu o autor libanês Gibran Khalil Gibran.
Ir Cecíia Sierra
Missionária Comboniana no Deserto da Judeia.

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