11 de outubro de 2023

OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO



O novo ano escolar de 2016 (segundo o calendário local) está a dar os primeiros passos. Na escola da missão de Qillenso, 180 alunos já se matricularam da quinta à oitava classe: 72 raparigas e 108 rapazes. A turma maior é a do oitavo ano: 68 estudantes (40 rapazes e 28 raparigas).

Para os ensinar o Governo destacou sete professores: duas mulheres e cinco homens. A missão contratou mais dois em regime parcial: um bibliotecário que também dá aulas de recuperação algumas tardes por semana e um professor de moral e estudos de paz.

A escola, neste ano letivo, tem de comprar três computadores para os alunos praticarem o que aprendem nas aulas de informática.

A escola de Gosa — uma antiga missão que agora é capela da missão de Qillenso — tem quase 1300 alunos matriculados do infantário até à oitava classe. O vicariato de Hawassa, a nossa diocese, controla a escola. O infantário de Adola, das Missionárias da Caridade, tem 200 inscritos: lotação máxima.

No total, a missão de Qillenso serve quase 1700 alunos nas suas três escolas.

Este ano escolar será mais tranquilo que os últimos dois? É a minha esperança e o meu voto!

O sistema educativo etíope está a a ser reformado. As mudanças colocam alguns desafios tanto a alunos como a professores.

O Ministério da Educação do Estado Regional de Oromia — de que Qillenso faz parte — decidiu rever o currículo no ano passado, mas não imprimiu os livros a tempo. Os professores davam as aulas usando os PDF dos novos manuais nos seus telemóveis.

Para mitigar esta dificuldade, fizemos fotocópias dos manuais para os professores. Mas o serviço ficou muito caro.

Os alunos pagam 100 birr (pouco mais de um euro) de propinas por ano mais 100 birr para os exames (para pagarem as fotocópias dos testes). O Governo dá-nos um subsídio anual de 10 mil birr e o vicariato também contribui com cerca de 90 mil birr. Contudo, as entradas são manifestamente insuficientes para cobrir as despesas da escola. Valem-nos as ajudas dos benfeitores.

O Mistério Federal da Educação, por seu turno, decidiu reformar os exames nacionais no ano passado. Os resultados foram catastróficos.

Dos alunos que fizeram o exame de admissão à universidade no ano passado só 3,3 por cento passaram. Os resultados deste ano são idênticos. Os exames, que duram três dias, foram feitos nalgumas universidades regionais com polícias federais na vigilância. Os candidatos podem tentar três vezes o exame ou frequentar uma universidade privada.

Os maus resultados espelham as dificuldades que o ensino público enfrenta, sobretudo o conhecimento do inglês, a língua de instrução a partir do nono ano. Na Escola Secundária Comboni, que as Missionárias Combonianas dirigem em Hawassa, dos 187 alunos que fizeram as provas de acesso ao superior 176 passaram.

Os resultados do exame de admissão ao ensino secundário este ano foram um desastre. Dos 54 alunos de Qillenso que o fizeram só um passou (o filho de um professor). No nosso distrito dez escolas registaram zero passagens.

Tentei perceber o que aconteceu. Por um lado, os testes seguiram um modelo novo. Por outro, os alunos fizeram os exames não nas próprias escolas, mas nas escolas da cidade.

No passado, com os exames locais, havia fuga de testes e as respostas eram publicadas na rede social Telegram. Este ano, não houve copianço, porque os testes foram guardados a sete chaves.

Entretanto, o Ministério nacional introduziu o novo exame de fim de curso da universidade. Sessenta por cento dos universitários reprovaram.

O ministro da educação — que é o líder de um partido da oposição — quer reformar e melhorar o sistema educativo etíope.

Para tal, suspendeu a construção de algumas universidades nos estados regionais — com o argumento de que não há professores para tantas instituições públicas de ensino terciário — e investiu nos infantários para criar hábitos escolares na pequenada.

Os alunos em geral têm algumas atitudes negativas em relação à assiduidade e ao estudo.

Se têm duas semanas de férias — no Natal e na Páscoa — aparecem depois de três semanas. Quando lhes é dada uma semana para ajudarem os pais na colheita do milho e do café aparecem 15 dias depois.

Por outro lado, não há o hábito de estudar depois das aulas. Os rapazes sentam-se a conversar na estrada e as raparigas têm as tarefas domésticas à sua espera. Aliás, quando passam de ano, celebram queimando os cadernos diários e ficando sem apontamentos para se prepararem para os exames.

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