1 de maio de 2014

ORAÇÃO, FAMÍLIA E MISSÃO


O bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, apresenta o tema de formação 
aos participantes no 7º Encontro Nacional dos COM


Estamos a celebrar o Sétimo Encontro Nacional dos Cenáculos de Oração Missionária – ou COM – no Seminário das Missões em Viseu no dia em que a Igreja celebra a Memória de São José Operário, o artesão de Nazaré, que ensinou a profissão e a vida a Jesus. A celebração é recente: foi estabelecida pelo Papa Pio XII em 1955 para dar uma dimensão cristã à Festa do Trabalhador.

Diz a Constituição Gaudium et spes, A Igreja no mundo atual, do Concílio Vaticano II no número 34: «Os homens e as mulheres que, ao ganhar o sustento para si e suas famílias, de tal modo exercem a própria atividade que prestam conveniente serviço à sociedade, com razão podem considerar que prolongam com o seu trabalho a obra do Criador, ajudam os seus irmãos e dão uma contribuição pessoal para a realização dos desígnios de Deus na história.»

O trabalho além de um dever e uma necessidade, é um direito. Através do trabalho, as pessoas cumprem a vocação de serem criativos, cocriadores com Deus. O sistema económico instituído quer-nos só consumidores e mantém os índices de desemprego elevados. Como para consumir é preciso dinheiro, subsidiam o desemprego. Mas os consumidores não são felizes. Dizia um cartaz que vi na Sé de Milão, Itália: «Não trabalhar cansa.»

Na primeira leitura, tirada do capítulo terceiro da Carta de Paulo aos habitantes de Colossos, uma pequena cidade da Ásia Menor, encontramos os ingredientes para uma vida boa: caridade, paz, gratidão a Deus, para trabalhar de boa vontade como serviço ao Senhor Jesus.

O Encontro Nacional dos COM decorre sob o tema «Oração, família e missão», um tríptico muito importante que vamos refletir juntos.

Os COM são um modo de ser missionários em rede capilar com 27 anos de vida que nasceu em Portugal através da intuição carismática do P. Caudino Ferreira Gomes e se estendeu a muitos países incluindo a RD Congo, Brasil, Itália, Inglaterra e Colômbia.

A metodologia dos COM enraíza-se em São Daniel Comboni. Ele escrevia imenso para levar a Nigrícia à Europa e trazer a Europa à Nigrícia. A 4 de Abril de 1869 escreveu uma carta à Abadessa Maria Michaela Müler de Salzburgo, na Alemanha. Noticiava e refletia sobre a morte de Petronila Zenab, uma jovem Sudanesa educada pela madre que depois foi para o Cairo trabalhar com os missionários. No fim da missiva ele escreve: «Estou certo de que encontrará nestas breves notícias motivo e estímulo para a oração» (Escritos 1890). É esta a dinâmica dos COM: cruzar na oração as narrativas missionárias com a palavra de Deus como forma de estar em missão.

A família é outro dos elementos do tríptico deste encontro nacional.

O Papa Francisco escreve na exortação apostólica A alegria do Evangelho ou Evangelii gaudium que a família é «célula básica da sociedade, o espaço onde se aprende a conviver na diferença e a pertencer aos outros e onde os pais transmitem a fé aos filhos» (EG 66). Numa palavra, a família é a primeira escola da vida e os pais não podem delegar na escola e na catequese o dever de fazer crescer os filhos.

O Papa argentino reconhece que a família atravessa uma crise cultural profunda devido à fragilidade dos vínculos. Aponta o dedo acusador ao «individualismo pós-moderno e globalizado – que eu chamo de euismo – [que] favorece um estilo de vida que debilita o desenvolvimento e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas e distorce os vínculos familiares» (EG 67) e contrapõe «uma comunhão que cura, promove e fortalece os vínculos interpessoais» (EG 67) como remédio exigido e incentivado por Deus.

Diz-se com razão que uma família que reza unida permanece unida. O que nos leva ao outro elemento do tríptico que preside a encontro nacional.

A oração é um ingrediente-chave para ultrapassar a crise da família, reduzia à expressão mínima e desestruturada pelo individualismo contemporâneo globalizado. Na minha família, havia e há o hábito de rezar o terço juntos. Quando era pequeno fazíamo-lo à noite depois da janta, muitas vezes com as palavras a perderem-se em monossílabos ensonados.

A oração era um elemento essencial no quotidiano de São Daniel Comboni. Em 8 de Setembro de 1869, escreveu a Dom Luís Canossa, bispo de Verona: «A omnipotência da oração é a nossa força» (Escritos 1969). Dois parágrafos acima, tinha dito que oração e cruzes eram «duas coisas que nos são muito queridas» (Escritos 1967).

Quando penso nas viagens missionárias intermináveis e cansativas na Europa e na África – «a missão mais árdua, laboriosa e vasta da Terra» (Escritos 2987), nas imensas dificuldades que enfrentou sem virar costas, estou convencido que foi a oração que manteve Comboni no caminho até 10 de Outubro de 1881 quando as fadigas apostólicas e as doenças tropicais lhe apagaram a vida.

Os COM oferecem um modo de viver a vocação missionária de cada batizado que o abre ao Outro e aos outros.

Como ouvimos na primeira leitura, «tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, seja tudo em nome de Jesus» (Colossenses 3:17). Na comunhão com Jesus não estamos sozinhos, mas encontramos uma multidão de irmãs e irmãos, porque nós não nos salvamos sozinhos mas como família de Deus.

«Nós, cristãos, insistimos na proposta de reconhecer o outro, de curar as feridas, de construir pontes, de estreitar laços e de nos ajudarmos “a carregar as cargas dos outros”», proclama o Papa Francisco na sua exortação apostólica (EG 67).

O evangelho de hoje conta que os nazarenos não beneficiaram da passagem de Jesus pela cidade galileia onde cresceu, porque não foram capazes de ir além das suas idiossincrasias, de despir o preconceito e validar o assombro gerado pela sabedoria e pelos milagres do «filho do carpinteiro» (Mt 13:55).

O homem não é o lobo do homem nem o outro é o meu inferno. Antes, em Jesus somos todos irmãos e caminho para Deus. Os COM têm o condão de nos abrir a Deus, aos irmãos de perto e de longe e fazer de nós uma família de missionárias e missionários pela oração e compromisso com as realidades dos mais pobres e abandonados.

São Daniel Comboni escreveu: «A oração de tantas almas tem que encontrar resposta no Coração Sacratíssimo de Jesus com um dar a quem pede e um abrir a quem bate» (Escritos 1889).

Que São João XIII, o papa da docilidade ao Espírito, e São João Paulo II, o papa da família, juntamente com São Daniel Comboni, Santa Josefina Bakhita e todos os santos mártires missionários e missionárias, intercedam por nós e por todos os membros dos COM.

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