22 de julho de 2009

GANHÁMOS

Riek Machar, vice-presidente do Governo do Sul do Sudão, recebe a decisão do Tribunal Permanente de Arbitragem em Haia esta manhã
© Lomayat

Foi com a palavra «Ganhámos» que o apresentador do encontro de oração por Abyei transmitiu aos participantes o sentido do veredicto do Tribunal Permanente de Arbitragem.
Cerca de 500 pessoas juntaram-se no Centro Cultural de Nyakuron, em Juba, para participar num encontro de oração organizado pelo Ministério do governo regional que detém a pasta dos assuntos religiosos.
O encontro foi um misto de cânticos religiosos, orações e discursos políticos - de um representante de Abyei, da ministra que organizou o evento e do ministro dos Assuntos do SPLA (leia-se Ministro da Defesa) em representação do presidente do sul do Sudão.
No final e depois da bênção do bispo anglicano o animador de serviço pronunciou a palavra mágica: «Ganhámos».
Foi uma festa de abraços, gritos, lágrimas.
Quando cheguei a casa descobri que o ganhámos era mais perdemos que outra coisa.
O Tribunal Permanente de Arbitragem foi chamado a dirimir um conflito sobre a zona petrolífera de Abyei entre os governos do norte e do sul do Sudão.
A Comissão das Fronteiras de Abyei tinha produzido um relatório sobre os limites da região, mas o partido do Norte, o Partido do Congresso Nacional (NCP em inglês), não o aceitou com a desculpa de que a comissão excedeu o seu mandato.
Os dois partidos no poder – o NCP do Norte e o Movimento de Libertação do Povo do Sudão (SPLM em inglês), do Sul – decidiram referir a disputa para o tribunal depois de uma guerra-relâmpago entre o Norte e o Sul que descolou mais de 50 mil pessoas e matou uma centena em Maio passado e reduziu a cidade de Abyei a escombros.
O veredicto foi revelado hoje em Haia: a fronteira Norte e sul estavam bem, mas os limites este e oeste têm que ser encolhidos.
O Sul agora sabe qual é o limite de Abyei – os cidadãos em 2011 decidem em referendo se querem pertencer ao norte ou ao sul – mas os importantes campos de petróleo de Heglig e Bamboo ficam no norte bem como o caminho de ferro.
Salva Kiir, o presidente do sul, disse à imprensa esta tarde que o SPLM é fiel à sua palavra e aceita o veredicto do Tribunal. Mas reconheçe que a decisão de Haia está para cá das expectativas do Sul e as pessoas de Abyei irão ter alguma dificuldade em aceitar depois de conhecerem os detalhes do acórdão.
Muito distante do «Vencemos» de esta manhã depois de duas horas de oração.

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