O Director interino da televisão pública do Sul do Sudão decidiu restringir a programação religiosa à cobertura jornalística de festas e eventos religiosos principais.
Faris Matthew emitiu uma ordem a 18 de Fevereiro a explicar que a Southern Sudan TV (SSTV) não deve transmitir nenhum programa religioso e a cobertura de actividades religiosas está limitada às festas e acontecimentos principais, sendo tratados como itens noticiosos.
O Sr. Matthew contudo não define o que são festas e acontecimentos principais.
O director interino da SSTV diz que a decisão está na linha do Acordo Global de Paz, assinado em 2005 entre Cartum e o SPLA, que claramente estipula um sistema político é laico em natureza.
O Sr. Matthew diz que a ordem responde a uma directiva do Ministério da Informação do Governo do Sul do Sudão e pede desculpa aos grupos religiosos pela inconveniência.
A ordem criou bastante mal-estar entre funcionários da SSTV, que me alertaram para o facto e pediram para fazer alguma coisa.
A Bakhita FM organizou um fórum sobre o tema e o Sr. Matthew telefonou a negar que tivesse emitido tal ordem – tal era a reacção de consternação dos ouvintes. Quando foi confrontado com o lugar onde a ordem estava afixada, mudou o discurso e propôs um debate sobre o assunto. Que não sei se chegou a ter lugar, porque nunca recebi nenhum convite.
É interessante notar que apesar de laico, o Governo do Sul do Sudão tem um ministério para o Género (leia-se da Mulher), Segurança Social e Assuntos Religiosos.
E, apesar de laico, o governo regional continua a depender das igrejas para prestar serviços básicos à população nomeadamente no âmbito escolar e da saúde.
A ordem do director interino da SSTV pode ser vista como um acto de modernidade, mas no contexto do Sudão, com o Islão a dominar a cena religiosa no norte, a arreligiosidade cai muito mal no sul cristão.
Uma coisa é ser laico, isto é, não dar primazia a nenhuma religião, e outra é ser arreligioso.
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