23 de março de 2006

Juventude


GERAÇÃO KLINEX


A juventude francesa está na rua em peso contra o «Contrato do Primeiro Emprego» (CPE). Centenas de milhares de estudantes concentraram-se em Paris e noutras cidades. Mais de metade das 84 universidades públicas e muitos liceus encerraram. Os sindicatos aderiram ao protesto e convocaram uma greve geral.
O CPE é uma iniciativa legislativa do primeiro-ministro Dominique de Villepin. Para aumentar a oferta do primeiro emprego, autoriza a despedimento sem justa causa nem aviso prévio de trabalhadores com menos de 26 anos durante os primeiros 24 meses de actividade. Os jovens insurgiram-se contra a consequente precariedade laboral em manifestações marcadas por actos de violência e vandalismo, geralmente atribuídos a extremistas e provocadores, que os manifestantes se esforçaram por isolar. Há que dizer que cerca de 23 por cento dos franceses com menos de 26 anos estão desempregados.
Os jovens franceses retratam, em pequena escala, a juventude mundial. Se não vejamos: cerca de metade da população mundial tem menos de 24 anos. Os jovens – o segmento dos 15 aos 24 – são quase 1,2 milhões, representando um quinto da população. Cerca de 980 milhões são africanos ou asiáticos. Duzentos e nove milhões conhecem condições de pobreza extrema: «sobrevivem» com uns 80 cêntimos por dia. Outros 516 milhões – quase metade da população juvenil – dispõem de pouco mais de euro e meio. Não admira, portanto, que 160 milhões de jovens sofram de malnutrição. Por outro lado, 130 milhões são analfabetos, 88 milhões estão desempregados e uns dez milhões estão infectados pelo vírus da sida. Os números são do «Relatório sobre a Juventude Mundial 2005», publicado pelo Conselho Económico e Social da Assembleia Geral da ONU.
Um pouco por todo o mundo, os jovens não vislumbram saídas. As regiões mais sacrificadas são as zonas rurais dos países em desenvolvimento, autênticos viveiros de pobres e empobrecidos, e os bairros-de-lata em redor das grandes cidades, para onde milhões se dirigem à procura de uma vida melhor. Um «eldorado» que, na esmagadora maioria dos casos, não passa de uma miragem. Os jovens dos países pobres encontram-se à margem do processo de globalização. O acesso às novas tecnologias é cada vez mais difícil. A escola não prepara os alunos para o mercado de trabalho globalizado. Por outro lado, a mecanização rouba cada vez mais postos de trabalho.
O desespero e a falta de saídas viáveis atiram muitos jovens para comportamentos alienantes e de alto risco: consumo de droga, delinquência, promiscuidade. Os resultados são catastróficos: a sida continua a expandir-se, silenciosa; a marginalidade juvenil, um subproduto da pobreza, desencadeia uma espiral de violência um pouco por todo o lado.
A juventude mundial é tratada como material descartável, que se usa e se deita fora quando não faz falta. A sua vida está suspensa, ameaçada pelo desemprego ou pelo emprego precário e pela exploração – 60 por cento dos trabalhadores sexuais são jovens –, analfabetismo e exclusão.
Há que encontrar estratégias de crescimento sustentado, desenvolver infra-estruturas, modernizar o ensino e criar políticas agrárias que proporcionem alguma perspectiva de futuro. Mas as grandes mudanças têm de ocorrer durante a infância, mediante uma generalizada melhoria das condições de vida, de que faz parte integrante o acesso à saúde, à escola e à (in)formação. O ensino tem de responder aos desafios da globalização e franquear aos estudantes as portas das novas tecnologias da informação e da comunicação.
Texto publicado na revista Além-Mar

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