10 de abril de 2024

QUEBRAR O JEJUM

 


Não nos oferecem nem café nem chá quando chegamos às suas casas. É Ramadão. Esperamos pelo pôr-do-sol. Conversamos até que chega o ansiando momento do iftar.

No deserto de Judá, entre os beduínos, como noutras aldeia e comunidades muçulmanas, o iftar é a refeição que quebra o jejum do dia durante o Ramadão.

Fazem jejum a partir dos sete anos. Desde as 04h00 da manhã não comem nada, nem água sequer. Mohamed e a irmã perderam peso de maneira considerável. Têm mais de sete anos e, por isso, jejuaram durante o mês do Ramadão.

Com a chegada do entardecer, os beduínos reúnem-se por grupos de famílias ou tribos para quebrar o jejum. 

Em Jerusalém, um disparo como o de um canhão anuncia o início do iftar. Noutros lugares, é anunciado a partir das mesquitas.

As aldeias beduínas que não têm mesquita escutam-no no telemóvel ou através da televisão.

No deserto da Judeia, os beduínos o que primeiro comem são tâmaras ou bebem um trago de alguma bebida fresca.

A comida é gostosa e abundante. Podem comer a intervalos até às 04h00, hora a que o jejum começa de novo. No fim da refeição servem doces árabes ou pãezinhos com mel.

«Apesar de comermos, o alimento tem sabor amargo pelo que se está a passar em Gaza», lamentou um chefe beduíno.

Este Ramadão tem sido muito doloroso. 

«Jejuamos a pensar na gente de Gaza, e comemos com dor por tantos que não têm que comer», dizem-nos. «Este Ramadão foi muito triste».

Hoje, 9 de abril, é o último dia do Ramadão. Amanhã será a festa do Eid al Fitr, o fim do mês de jejum.

Estivemos com uma família até que a noite chegou. Comemos com eles. Pediram para dormirmos lá. Pensando no que implica a preparação da festa do Eid al Fitr, desta vez não pernoitamos com eles. 

Eid al Fitr. Os homens levantam-se cedo para irem rezar às mesquitas próximas. Alguns beduínos vão a Alazareya, outros a Anata.

Depois vão visitar as suas irmãs. É tradição que lhes levem dinheiro, doces e presentes para os sobrinhos. Este ano será muito triste: muitos perderam o trabalho desde que a guerra começou.

No segundo dia da Eid al Fitr, as mulheres visitam os seus pais. As casas paterno-maternas estão cheias. As famílias são numerosas.

Eid al Fitr é o tempo para o encontro, convívio, partilha na esperança que que a tão desejada paz chegue.

Ir Cecília Sierra,

Missionária Comboniana a trabalhar com os beduínos no Deserto da Judeia, Terra Santa

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