A face sorridente do Irmão Giuseppe Redaelli – o Peppe, como o chamávamos – apareceu nos alertas do telemóvel e deixou-me perplexo. O que se passa com ele? A notícia era arrasadora e deixou-me incrédulo: o Peppe faleceu no sábado, 27 de abril, em Wau, no Sudão do Sul. Contava 76 anos.
«O irmão há muito tempo que não estava bem e desta vez não resistiu a uma forte malária. Em três dias se foi», contou-me a Ir. Beta Almendra, uma comboniana da Ericeira missionária em Wau.
O Peppe nasceu a 10 de março de 1948 em Casatenovo, Milão, no norte da Itália. Vocação adulta, fez a primeira profissão religiosa com 33 anos, a 6 de junho de 1981, no mesmo dia que eu.
Conhecemo-nos um mês mais tarde, em Elstree, nos arrabaldes de Londres. Estudamos inglês juntos até janeiro de 1982. Nessa altura, eu comecei o curso de teologia no Instituto Missionário de Londres. Ele partiu para Gilgil, no Quénia, com mais dois colegas portugueses e um italiano para terminarem a sua formação de base como irmãos missionários combonianos.
Em 1984, foi destinado ao Sudão do Sul, onde permaneceu durante oito anos. Em 1992 voltou à Itália e, oito anos depoi,s encontrava-se de novo em África, desta feita na Província de Cartum, no Sudão, onde ficou 11 anos. Em 2011, voltou ao Sudão do Sul, onde, após quase três décadas, nos voltamos a encontrar.
Ele vivia em Wau e eu em Juba. Dormi uma semana na sua comunidade durante um seminário sobre recolha e tratamento de informção que orientei para os jornalistas da Voz da Esperança, a rádio da diocese de Wau.
Do Peppo guardo o seu sorriso tranquilo e discreto, a hospitalidade e a capacidade de trabalho. Foi administrador da arquidiocese de Cartum, da diocese de Wau, do Hospital São Daniel Comboni de Wau e ecónomo provincial dos combonianos no Sudão do Sul.
Não era homem de muitas palavras, mas tinha uma enorme sabedoria.
Está no abraço terno e eterno de Deus, disso estou certo. É um mártir do Evangelho.
No passado, os teólogos distinguiam entre martírio encarnado – do sangue derramado pela fé no Senhor – e martírio branco, sem sangue.
Ele é mártir, porque deu a vida pelo Senhor da Missão.
O Peppe poderia ter pedido para regressar à Itália natal devido à idade e dado o estado de saúde. Mas preferiu ficar em Wau até que a malária o levou.
Descansa em paz, Peppe. Mereces depois de tantas canseiras apostólicas e administrativas. A-Deus, Mano!
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