7 de dezembro de 2016

NÓMADA(S)


Carlos de Foucauld viveu Deus com os nómadas do Sara.

A 1 de Dezembro faz 100 anos que Carlos de Foucauld, o Irmãozinho Carlos de Jesus, foi assassinado em Tamanrasset, no Sul do Sara argelino, ao que parece num momento de pânico de um dos bandidos que o sequestraram.

Carlos nasce em 1858 no seio de uma família aristocrata e muito cristã em Estrasburgo, Leste de França. Órfão de pai e mãe aos seis anos, é criado pelo avô materno, que também perde mais tarde.

Abandona a fé e vive uma vida dissoluta de boémio rico. Em 1876, entra no exército e vai para a Argélia. Entre 1883 e 1884, explora os desertos de Marrocos e da Argélia por conta própria, disfarçado de rabi pobre: percorre 3000 quilómetros em onze meses. Os muçulmanos e judeus impressionam-no com o acolhimento e a prática da fé, reavivando o fogo de Deus no seu coração.

Regressa a França e torna-se explorador de Deus. É monge trapista entre 1890 e 1897 na França e na Síria. Depois muda-se para a Terra Santa: as Clarissas empregaram-no como sacristão e hortelão. «Fixei-me em Nazaré. Abracei aqui a existência humilde e obscura de Deus, operário de Nazaré», explica.

Em 1900, regressa a França para ser ordenado. «Acabo de ser ordenado sacerdote e ando a fazer tudo para ir continuar no Sara “a vida escondida de Jesus em Nazaré”, não para pregar, mas para viver na solidão, a pobreza, o humilde trabalho de Jesus, empenhando-me a fazer o bem às almas não pela palavra, mas pela oração, pela oferta do Santo Sacrifício, pela penitência e pela prática da caridade», explica numa carta.

Em 1901, volta à Argélia e fixa-se em Beni Abbès, perto da fronteira com Marrocos. Cumpre um sonho: «Quero habituar todos os habitantes – cristãos, muçulmanos, judeus, idólatras – a verem em mim um irmão, o irmão universal. Começaram a chamar a esta casa “fraternidade”, e isso é para mim um louvor», explica. A fraternidade torna-se um oásis de amor para escravos, pobres, soldados, doentes, viajantes.

Em 1904, a busca pessoal leva-o a Tamanrasset, no coração do Sara argelino, para viver entre os Tuaregues dos montes Hoggar. Estuda a língua, escreve um dicionário, publica uma recolha de milhares de poemas, traduz os Evangelhos. Vai para o Hoggar sobretudo «para levar o evangelho aos mais abandonados, não pregando, mas vivendo-o».

O Irmãozinho Carlos, o nómada de Deus, encontra-o entre os Tuaregues, os nómadas do deserto. «O meu ermitério está num cume de onde se avista praticamente todo o Hoggar e está no meio de montanhas agrestes. O horizonte, que parece não ter fim, faz pensar na infinidade de Deus», descreve.

Passa o dia a servir as pessoas – «Presto serviços naquilo que posso, esforço-me por mostrar que os amo» – mas anseia pela noite: «Logo que o Sol se põe, há um grande silêncio que é tão gostoso.»

Os Tuaregues acolhem-no como um marabu, um homem de Deus. Moussa, o chefe tuaregue seu amigo, recorda-o como um pobre no meio deles. «O meu apostolado deve ser o da bondade», anota no diário em 1909.

O Irmãozinho Carlos de Jesus, o irmão universal, morreu só e sem seguidores. Bento XVI beatificou-o a 13 de Novembro de 2005. Hoje, uma vintena de famílias espirituais inspiram-se no seu estilo de seguimento escondido de Jesus em Nazaré no trabalho humilde e na contemplação.

1 comentário:

Unknown disse...

Adoro o Charles de Foucauld! Me inspirou ainda quando eu era novinha!
Sandra