1 de setembro de 2016

EFEITO BORBOLETA


A saída do Reino Unido da União Europeia pode causar turbulências na África.

Vivemos numa sociedade globalizada, enredados numa teia complexa de interdependências expressa no efeito borboleta da teoria do caos, que diz que o bater de asas de uma borboleta num lado do mundo pode causar um ciclone no outro.

Os cidadãos do Reino Unido votaram no dia 23 de Junho, em referendo, pela saída da União Europeia (UE). Logo que o resultado foi conhecido, um número significativo de britânicos choraram-no. Pouco depois os políticos conservadores que encabeçaram a campanha pela saída saltaram do barco assobiando para o ar como se não tivessem tido nada que ver com a decisão cujas consequências cedo se farão sentir na Europa, e além dela.

Com o Brexit – Br de (Grã-)Bretanha e exit, saída – perdem os africanos, por exemplo, em termos económicos e de advocacia e os britânicos em influência e mercado, dizem os especialistas.

Patrick Njoroge, governador do Banco Central do Quénia, disse que a maior economia da África Oriental ia sentir as ondas de choque do Brexit. Josephat Bosire Kerosi, que ensina Administração e Finanças na Universidade de Kigale, Ruanda, previu uma quebra no fluxo de ajudas por meio do investimento estrangeiro directo.

Para já, a África do Sul, que tem as empresas mais importantes cotadas na Bolsa de Londres, viu o seu valor cair e o rand enfraquecer.

Com a saída da Grã-Bretanha da UE, o processo de paz da Somália também poderá sofrer, pois sem o Reino Unido, o principal promotor, os Franceses podem tentar canalizar o dinheiro para o Mali, outro ponto quente do islão radical. O Uganda já anunciou que vai retirar as tropas da Somália, em 2017, por falta de apoios económicos.

O Reino Unido defendia a revisão da Política Agrícola Comum, que subsidia os agricultores europeus e embaratece substancialmente os seus produtos. Sem os Britânicos a exigir uma redução nos apoios ao sector, os agricultores africanos não conseguirão colocar os seus produtos no mercado a preços competitivos.

O Reino Unido também vê enfraquecida a sua relação com a África. Steve Barrow, do banco Standard Advisory London, disse à Radio France Internationale que «os únicos acordos que o Reino Unido tem com os países africanos são negociados através da UE. Uma vez que deixámos a UE, essas relações comerciais e acordos deixam de existir».

O governo de Sua Majestade vai ter de renegociar os acordos individualmente com os países africanos e competir com a China, Índia, Brasil, Turquia, Coreia do Sul e Japão por esse mercado. Os produtos britânicos – mais caros – vão ter dificuldades de penetração.

Por outro lado, se a economia britânica se ressentir com a saída da UE – e é bem possível que isso aconteça –, a África também sofre porque perde mercado para os seus produtos, incluindo as rosas do Quénia. A ajuda britânica à África também baixa.

A imigração poderá ser outro problema. Os defensores do Brexit apostaram forte no medo dos estrangeiros e estes vivem um futuro incerto nas Ilhas Britânicas. O Governo vai apertar o controlo das entradas e os africanos são, entre os imigrantes, os que mais se notam.

Finalmente, a batalha contra a corrupção global, a grande bandeira do ex-primeiro-ministro David Cameron, é dúbia, apesar de ser uma questão fundamental para muitos (des)governos africanos.

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