O PLANO NA
HISTÓRIA DOS FILHOS E FILHAS DE COMBONI
AO LONGO DESTES 150 ANOS
AO LONGO DESTES 150 ANOS
“Desde 1857, quando me encontra na missão dos Kich no Rio Branco,
aqui na África Central, passei por todas as provas deste difícil apostolado. E
tendo estado onze vezes a ponto de morrer por causa do clima e das enormes
fadigas, vi‐me na necessidade de regressar à Europa, onde, após alguns anos, já
restabelecido, pensei no modo de voltar a este campo de batalha para nele sacrificar
a vida para a salvação dos negros. Foi a 18 de setembro de 1864 quando, ao sair
do Vaticano, onde tinha assistido à beatificação de Margarida Maria Alacoque,
me veio à mente apresentar à Santa Sé, a ideia do Plano para retomar o apostolado
da África Central. O Sagrado Coração de Jesus fez-me superar todas as enormes
dificuldades para realizar o meu Plano para a Regeneração da África, com a
própria África” (Escritos 3302).
Aos membros dos Institutos combonianos
A todas as pessoas que se inspiram
no carisma de são Daniel Comboni
1. Cordial saudação
Queridas e queridos,
Com esta mensagem, queremos celebrar os 150 anos do Plano
para a Regeneração da África, aquele Plano em relação ao qual Daniel Comboni
sentiu a necessidade de fundar, em Verona,
o Instituto das
Missões para a Nigrizia,
com a variedade de seus membros: homens e mulheres, religiosos e leigos.
Nascidos do Plano
e para o Plano,
não podemos esquecer que este é o legado que nos deixou o Pai Fundador, uma herança
preciosa que, ainda hoje, a família comboniana quer acolher e conservar com
profunda gratidão, responsabilidade e compromisso.
Nós, os responsáveis dos Institutos que ele fundou – Irmãs Missionárias
Combonianas Pie Madri della Nigrizia e Missionários Combonianos do Coração de
Jesus – e das outras expressões missionárias que se inspiram em seu carisma – Missionárias
Seculares Combonianas e Leigos Missionários Combonianos – cientes também de
tantas outras pessoas e grupos de leigos que, cada vez mais numerosos, e de
várias maneiras, vivem connosco a paixão missionária comboniana, quisemos
escrever esta carta para compartilhar uma pequena reflexão sobre o Plano que
continua a acompanhar a nossa vida missionária e nos desafia a tornar‐nos
resposta para as várias situações missionárias que vivemos hoje em todos os lugares
onde estamos presentes.
Com esta carta, também queremos expressar o nosso desejo de
mostrar a relevância e a validade das intuições que São Daniel Comboni foi
capaz de reunir nas páginas do Plano, reconhecendo que foi um instrumento
verdadeiro e eficaz para o trabalho missionário, realizado por tantos irmãos e irmãs
durante estes 150 anos, primeiro na África e, posteriormente, em outras partes
do mundo.
Queremos que a nossa reflexão seja, se possível, também uma
forma de celebrar este
aniversário, deixando‐nos tocar pelas urgências da missão que, apesar dos
esforços consideráveis, realizados para levar o Evangelho a todos os que estão
distantes, continuam a nos desafiar. Nós gostaríamos de ouvir de novo, por meio
dos pensamentos impressos no Plano, o grito de São Daniel Comboni que nos chama
para consagrarmos a nossa vida àqueles que são no mundo de hoje os mais pobres
e os mais abandonados, que têm direito de receber o anúncio da Palavra.
Achamos que é também uma oportunidade para agradecer ao Senhor pelo
dom do Espírito que trabalhou no coração do nosso Fundador e na vida de muitos
de nós que foram capazes de realizar o Plano para a Regeneração da África com a
alegre doação de suas vidas na missão e para a missão.
Esperamos que estas linhas sejam um convite para continuarmos
a viver a nossa consagração com a mesma paixão que moveu são Daniel Comboni
desde o momento da primeira redação.
2. O Plano: uma vida,
mais que um documento
Uma das primeiras impressões que se tem na leitura do Plano
é, sem dúvida, de ser confrontados com um texto onde se respira vida, onde há
paixão intensa e um grande desejo de encontrar as formas mais adequadas para
responder à necessidade que os homens e as mulheres de todos os tempos têm de
se encontrarem com Deus.
O Plano, portanto, não é um documento frio com regras definidas,
onde tudo foi planejado e calculado. Em suas páginas respira‐se um ar que
expressa o sonho, o desejo, a urgência de transmitir vida e as intuições de
quem crê na possibilidade de realizar o que muitos consideram impossível.
Percebe‐se um forte desejo de não abandonar a missão, especialmente
no momento em que crescem as dificuldades e o futuro parece incerto. É um texto
que exala a fragrância da fé, que encoraja a seguir em frente na certeza de que
se trabalha para uma obra querida por Deus. No Plano fala‐se de um projeto que
acompanha a vida e leva a concentrar todas as forças em uma única tarefa, de
algo que se apropria de todo o coração, e não deixa espaço para outra obra que
não seja a da missão. É uma ideia que vive com toda sua força mais no coração
do que na cabeça: esta é uma forma concreta de traduzir em obra o amor que é
reconhecido no coração.
O plano, na verdade, não nasceu na cabeça de Comboni, não é o
resultado de sua especulação; ao contrário, nasceu do desejo de se tornar um
instrumento de Deus para manifestar o amor a quem tem direito, todos seus
filhos e filhas. Se nos lembramos do que Comboni escreveu em sua carta de 31 de
Julho 1873, a Mons. De Girardin, vemos claramente que o Plano foi, antes de
tudo, uma experiência e, em seguida, uma proposta por escrito.
3. Uma resposta
missionária nascida da realidade
Ouçamos novamente
o que nos diz Comboni: “passei por todas as provas deste difícil
apostolado... pensei no modo de voltar a este campo de batalha para nele
sacrificar a vida para a salvação dos negros” (Escritos 3302). O Plano não é uma simples
estratégia pastoral, mas uma leitura e assimilação da realidade, cujos desafios
tornam são Daniel criativo e capaz de realizar um trabalho que tenha chances de
sucesso para a missão.
Esse vem, portanto, da capacidade de ler e compreender a realidade
em que estamos presentes, e interagir com ela. Uma realidade marcada pela
escravidão, pelos critérios de lucro e da exploração, da impossibilidade, para
os africanos, de viverem de acordo com a sua dignidade. Uma realidade onde os
valores do Reino foram ignorados ou negados. Nesse contexto, o Plano se revela
como obra humilde e inteligente ao mesmo tempo. Ao olharmos para as nossas presenças
missionárias e para a realidade dos ambientes em que atuamos, quantas vezes somos
obrigados a reconhecer que a realidade, ainda hoje, não é muito diferente?
Ainda hoje, na verdade, muitas vezes somos testemunhas de violência, violação
dos direitos humanos, de exclusão e escravização de muitos dos nossos irmãos e
irmãs.
4. Uma grande
intuição
Lendo o Plano, é fácil descobrir uma multiplicidade de ideias,
projetos, recursos a serem utilizados, que giram em torno de uma única ideia: é
uma obra para a qual todos aqueles que se veem desafiados pela missão são
chamados a contribuir, tornando a missão uma obra da Igreja.
“A Obra deve ser católica, não
espanhola, francesa, alemã ou italiana. Todos os católicos devem ajudar os
pobres negros, porque uma nação só, não pode socorrer toda a raça negra. As iniciativas
católicas, como a do venerável Olivieri, a do Instituto Mazza, a do Padre
Ludovico, a da Sociedade de Lião, etc., fizeram, sem dúvida, muito bem a um
número de pessoas negras; porém, até agora, ainda não se começou a implantar o catolicismo
na África e a fazê‐lo arraigar aí para sempre.
Pelo contrário, como o nosso Plano, nós aspiramos a abrir a via da entrada da
fé católica em todas as tribos de todo o território em que vivem os negros. E
para obter isto, parece‐me, devem unir-se todas as
obras até agora existentes, as quais, tendo desinteressadamente perante os
olhos o nobre fim, deverão deixar de lado os seus interesses particulares” (Escritos 944).
É uma obra em que não há espaço para os protagonismos ou para
as pretensões de querer agir sozinhos. O Plano é um trabalho de colaboração que
envolve todos aqueles que respondem com um coração generoso e deixa claro que a
missão é um dom recebido e oferecido gratuitamente na alegria.
Comboni pensava em um grande “movimento missionário” para
envolver todos e tudo na missão para a África, ele esperava encontrar
“aprovação, apoio e ajuda no coração dos católicos de todo o mundo”. Por isso,
ele percorreu longas distâncias, também pela Europa, pensando inclusive de
chegar à América, para procurar colaboradores, ajudas económicas, apoio
espiritual...
A partir deste impulso, surgiram os Institutos Combonianos, e,
mais tarde, o Instituto das Missionárias Seculares Combonianas e os Leigos
Missionários Combonianos. Mas a obra é ainda mais extensa e continua a inspirar
e motivar tanto aqueles que adotaram uma forma de vida consagrada quanto quem,
como batizado, sente‐se chamado para a missão. Continua para todos o desafio de
como unir forças e vontade, para cooperar e dar um impulso contínuo à missão.
5. Inspirado por um
encontro
“Creio que este plano
è obra de Deus, porque me veio à mente a 15 de setembro, enquanto fazia o
tríduo à Beata Alacoque; e no dia 18, em que essa serva de Deus foi
beatificada, o Cardeal Barnabó terminava de ler o meu Plano. Trabalhei nele
quase 60 horas seguidas” (Escritos
926).
O Plano, portanto, é o resultado de um longo processo de pesquisa,
perguntas, consultas e da própria experiência difícil, mas não é só isso. Há um
outro fator que não deve ser esquecido: é o resultado de um encontro com o
Senhor, as horas dedicadas à oração, buscando a vontade de Deus em toda aquela
aventura. Comboni não teve dúvida ao reconhecer que o Plano foi um dom de Deus,
graça mediada por Maria, poder do Espírito que se mostrou generoso com suas
inspirações. Neste sentido, o Plano é uma forma concreta de dizer que a obra
missionária não é negócio humano. A missão é obra de Deus e, como todas as suas
obras, exige muita fé, que só pode vir no silêncio da oração, no encontro que
permite ouvir a vontade de Deus.
6. Uma experiência
vivida pelas filhas e filhos de Comboni
6.1 Um olhar no passado, para melhor traçar o futuro
Não foram poucos esses filhos e filhas, a começar pelos primeiros
22 que a 29 de novembro de 1867, guiados por Daniel Comboni, partiram de
Marselha com destino ao Egito. Eram dezesseis meninas africanas – nove das quais
do Instituto Mazza em Verona –, três Irmãs de São José da Aparição e três
religiosos Camilianos.
A primeira etapa da viagem era o Cairo, onde começaria a implementação
do Plano, dando vida aos primeiros daqueles "Institutos preparatórios" que deveriam "circundar a África".
Dois anos depois, em 1869, também no Cairo, Daniel Comboni
confiou a direção de um terceiro instituto, a "Sagrada Família", a quatro educadoras
africanas, uma delas era a jovem Dinka Domitilla Bakhita. Era uma escola
paroquial feminina e pública, aberta a meninas de todo rito e religião, incluindo
o islamismo.
Foi um momento importante: o objetivo principal do Plano – Regenerar a África com a África –
começava a se tornar realidade. Uma realidade que Comboni reforçou quatro anos depois,
quando incluiu as jovens professoras africanas na expedição que, em 1873, ele
mesmo guiou primeiro do Cairo a Cartum e em seguida de Cartum a El‐Obeid, onde
confiou a Domitilla, Fortunata Quascè e Faustina Stampais a fundação da “Obra
feminina” do Cordofão. Finalmente, em 1881, o Bispo Daniel enviou como pároco à
comunidade promissora de Malbes, no Cordofão, Pe. António Dobale, da tribo dos
Galla, um dos onze “meninos Negros” que o Instituto Mazza acolhera em 1860 e
que em 1878 Propaganda
Fide tinha ordenado sacerdote para a África Central.
Nesse ponto, Daniele Comboni se sentia satisfeito com seus missionários:
padres, irmãs (Pie Madri della Nigrizia), leigos e leigas. Uma confiança
merecida, como demonstrou o trágico acontecimento daquele outono de 1881, a
morte inesperada do Fundador.
Naquele momento, manifestou‐se fortemente, para as Pie Madri
della Nigrizia, a figura de Madre Bollezzoli que, com a carta de 18 de outubro
de 1881, exortava firmemente as irmãs a permanecerem fortes seguindo as pegadas
traçadas pelo Fundador: "não
volteis atrás, mas caminhai corajosamente nas pegadas do vosso magnânimo Pai".
E continuou a seguir a inspiração do Plano, formando, ao longo do tempo,
centenas de irmãs que partiam para a missão na África.
A irrupção da Mahdia, quando os missionários e missionárias
enfrentaram a prisão, o martírio, e o êxodo forçado, foi uma experiência forte
que deixou sua marca e testou a fidelidade ao Plano de Comboni.
Aqueles que conseguiram fugir para o Egito com Mons. Sogaro,
tiveram também que lidar com o momento delicado da "passagem", da
transformação do Instituto originário a uma congregação religiosa masculina
(1885).
E quando os primeiros Filhos do Sagrado Coração chegaram ao Egito, era
evidente que algo havia mudado na escala de valores indicada pelo Fundador:
agora, antes mesmo das necessidades da missão, era o espírito religioso – muito
salientado durante o noviciado, pelos padres Jesuítas – que devia inspirar e
orientar a vida da Comunidade.
Criava‐se uma dolorosa e sofrida tensão entre instituição e carisma.
Naquele tempo de mudanças, os que mais sofreram e suportaram as consequências
foram principalmente os leigos e as meninas africanas que, de alguma forma,
viram‐se excluídos da instituição. Nem foi essa a única vez que pareceu diminuir
a fidelidade ao carisma: não podemos deixar de registrar o fato doloroso da
divisão dos combonianos em duas Congregações separadas.
6.2 Do Plano para a África e o mundo
Continuamos a dirigir o nosso olhar para a história: se a fidelidade
ao Plano não se mostrava tão evidente entre os novos grupos de pessoas que
continuavam a chegar ao Egito durante o tempo da diáspora, certamente não se
podia dizer que tivesse diminuído o amor pela missão ou a paixão pela África.
Na verdade, o fim da Mahdia em 1898 viu todos os Filhos do S. Coração e
as Pie Madri della
Nigrizia prontos para retornar. Ademais, o Sudão, como território
missionário, fora confiado à jovem congregação masculina (1894).
É só folhear as páginas de Nigrizia para ver a doação, por exemplo, dos
vigários apostólicos Antônio Maria Roveggio e Francesco Saverio Geyer. O famoso
barco da missão, recolocado em atividade, embora com nome diferente, retomou
logo, ao longo do Nilo, a exploração do território que a Mahdia tinha forçado a
abandonar. Em 1902 foi aberta, não muito longe de Gondokoro, entre os Shilluk,
a missão de Lul.
Costanza Caldara (superiora geral das Pie Madri de 1901 a 1931)
estava atenta às necessidades das novas missões; em 1900, Francesca Dalmasso e
Maria Bonetti foram as primeiras entre as irmãs que estavam prontas, para
retornarem ao Sudão e, se necessário, irem além. Nos anos seguintes, novas comunidades
foram abertas em outros Países da Europa e Oriente Médio; e a partir dos anos
cinquenta do século passado, as combonianas e os combonianos estenderam sua presença
nas Américas.
Das meninas africanas que Daniel Comboni tinha acompanhado
com cuidado, para que chegassem a “ser
apóstolas na sua nação, com base no Plano” (Escritos 2012), infelizmente
nada mais se falou. Isto nos leva a compreender como um aspecto da instituição,
em um certo tempo, tenha sido deixado de lado. Em parte é ainda assim: também
hoje temos dificuldade para sairmos de um determinado protagonismo
institucional a fim de valorizarmos a catolicidade do Plano, como Daniel
Comboni desejou e previu.
O Plano, no entanto, não foi totalmente esquecido. Em torno de
1938, enquanto nas várias províncias e vicariatos da África Central confiados
aos Filhos do S. Coração,
multiplicavam‐se os seminários que recebiam jovens africanos, um grupo de moças
ugandesas manifestava o desejo de se consagrar a Deus na jovem Igreja
particular.
Graças à sensibilidade dos combonianos e combonianas no acompanhamento
destes grupos – bem como de outros, que surgiram ao longo dos anos – ficamos
felizes ao ver hoje que vários destes grupos tornaram‐se congregações locais autónomas,
algumas com um forte espírito missionário expressado com comunidades em outros
continentes, concretizando, deste modo, o sonho de Comboni.
Isso significa que, mesmo na ausência de uma declaração expressa
das vontades, havia entre os filhos e filhas de São Daniel uma espiritualidade
que sustentava a fidelidade ao espírito do Plano. Os Capítulos Gerais
Extraordinários dos Institutos e a celebração dos centenários de fundação foram
momentos fortes em que se fez uma profunda reflexão sobre a identidade
carismática, sobre a espiritualidade e sobre o Plano de Comboni. Estes
acontecimentos impulsionaram a pesquisa e o conhecimento direto dos Escritos de
Comboni e da história dos Institutos. Em seguida, à luz dos documentos do
Concílio Vaticano II e da expansão das congregações fora do continente
Africano, iniciou‐se uma reflexão profunda sobre a identidade do carisma na
fidelidade ao Plano, que envolveu todos os membros.
Ao longo dos anos, o trabalho – em conjunto – de “homens e mulheres”,
como religiosos e religiosas, missionários e missionárias, trouxe alegria,
ajuda mútua, crescimento, mas também fadiga, incompreensões e até mesmo
divisões e feridas. Com a nova consciência da mulher sobre si mesma e de seu
papel na Igreja e na sociedade, também as “Pie Madri della Nigrizia”
reavaliaram o perfil que Comboni queria para elas no Plano: “Eu fui o primeiro a fazer com que
colabore no apostolado da África Central o omnipotente ministério da mulher do
Evangelho e da Irmã da caridade, que é o escudo, a força e a garantia do
ministério do missionário” (Escritos 5284).
Ao continuarmos o nosso percurso histórico, vemos que nos anos
cinquenta do século passado, por intuição de um Missionário Comboniano, teve
início o Instituto das Missionárias Seculares Combonianas, com a finalidade da cooperação
missionária, ou seja, suscitar iniciativas e envolver a todos na missão. Esta
intuição foi confirmada pelo Concílio Vaticano II, que trouxe uma nova
consciência laical, da sua vocação específica na missão e de seu protagonismo total
na missão.
Isso é demonstrado pela última expressão na ordem do tempo:
o nascimento dos Leigos Missionários Combonianos e pela formação de grupos de
leigos e leigas que, inspirados pelo carisma comboniano, se sentem como
enriquecimento para toda a Família comboniana e para a Igreja missionária.
O resultado mais evidente que o espírito do Plano continuou a
dar é a abundância de vocações religiosas e laicais à missão, provenientes de
países que antes eram considerados “terra de missão”. Temos diante de nós um
grande dom que devemos olhar, conscientes de que nos desafia a abraçar sem
reservas e com entusiasmo a interculturalidade da missão hoje.
Como podemos ver, é um longo, rico e às vezes fadigoso caminho
da Família comboniana, um caminho que merece e exige mais atenção hoje. É para
aumentar a consciência e a firme determinação de cada um para trabalhar e ser missionários
e missionárias na perspectiva do Plano em sua mais íntima energia e
originalidade.
6.3 Vitalidade e
atualidade do Plano
Estamos todos de acordo em reconhecer que a Igreja vive hoje
um momento especial em relação à sua consciência missionária. Papa Francesco,
desde o início de seu pontificado, ao dar a seu ministério de Bispo de Roma, um
tom peculiar, sublinhou a urgência, a importância e a necessidade, por parte de
cada cristão a viver a vocação missionária. Seu convite para sair, para ir às
periferias existenciais para encontrar os irmãos e irmãs mais pobres, está
despertando em toda a Igreja um novo espírito, que nos torna conscientes do
tesouro que temos no Evangelho e da importância de comunicá‐lo, para
experimentar a alegria profunda.
Neste contexto de novo envio e de clareza sobre a necessidade
de assumir a dimensão missionária do nosso batismo, estamos lidando com uma
linguagem e uma proposta que fazem ver a missão como uma obra pertencente a
todos, na medida em que nos reconhecemos discípulos de Jesus e associados à sua
missão.
Este compromisso – dizem‐nos – não pode ser responsabilidade
apenas de um pequeno grupo ou de alguns que se sentem particularmente chamados
a dar a vida para a missão; ao contrário, é um compromisso e trabalho de toda a
Igreja: aqui certamente aparece a grande atualidade e vitalidade do Plano.
6.4 Partir novamente como Família comboniana e com o espírito do Plano
Desde 1996, e especialmente desde 2003, Comboni Santo se reapresenta
a todos nós mais vivo e mais presente do que nunca com seu carisma, fazendo‐nos
reencontrar, para juntos festejá‐lo. Eventos como a beatificação e a
canonização foram momentos privilegiados para um conhecimento e celebração que
também permitiram reconciliação e renovação de forças em torno do pai comum.
Com alegria pudemos ver que, para celebrar momentos tão importantes, para não
dizer únicos, da história comboniana, estávamos novamente todos: Irmãs Missionárias
Combonianas, Missionários Combonianos do Coração de Jesus, Missionárias
Seculares Combonianas, Leigos Missionários Combonianos e outros grupos de
Leigos e Leigas.
Unidos, também se diferentes, cada um com as próprias Constituições
e um projeto específico de trabalho apostólico.
O evento do Aniversário que celebramos este ano, nos impulsiona
a fazer memória do que já foi vivido, para um reavivamento que acolha os
desafios e as perguntas que a realidade nossa e da vida missionária nos
propõem. Comboni deixou‐nos um estilo de ministerialidade fortemente enraizado
em sua experiência mística e na paixão para a pessoa e para a missão. Esta sua
experiência e paixão são inseparavelmente presentes nos vários aspectos –
espiritual, místico, profético e metodológico – do Plano para a Regeneração da
África.
As rápidas mudanças no mundo de hoje e os desafios das Igrejas
e dos povos com quem vivemos, fazem surgir em nós a urgência de aprofundar,
através de uma reflexão sistemática, a nossa ministerialidade comboniana vivida
como chamada profundamente
enraizada em Deus, participação
na maternidade/paternidade de Deus que gera vida em um dom total e
gratuito, fraternidade com
Jesus, entre nós e as pessoas que servimos na poeira do seu caminho, encarnação da nossa
espiritualidade, presença na
história junto dos pobres e dos excluídos, caminho com os povos, para que todos tenham vida e
vida em abundância, consciência
da temporaneidade de nossa presença e serviço, acreditando nas pessoas,
nas suas capacidades de regenerar‐se e na metodologia do diminuir, para que os
outros cresçam.
Por isso, é importante para nós assumir a justiça, a paz e a integridade da
Criação (JPIC) e o diálogo
e a reconciliação como valores transversais que permeiam todos os ministérios.
É igualmente importante para nós a revisão da nossa metodologia nos
ministérios: o fazer causa
comum, o ser pedra
escondida para que outros cresçam, a inculturação e a inserção, o
compromisso de trabalhar em rede/colaboração (com Igrejas locais, com a Família
comboniana, com outras congregações, com organizações várias), abertos ao novo
que se move na consciência da sociedade e em suas expressões.
Na escolha dos nossos ministérios, é necessário que nos deixemos
ser desafiados pelos desafios emergentes, em especial pelo fenómeno do tráfico de pessoas, particularmente
de mulheres e meninos/as, pela imigração
e refugiados,
pela situação dos povos
afrodescendentes, indígenas
e pastores nómadas, para darmos respostas significativas hoje.
A reflexão sobre a missão em diálogo é de particular importância
para cada um/a de nós, porque o mundo está se movendo em direção a um
pluralismo religioso e cultural, desafiando as nossas convicções e nossa
metodologia.
A herança carismática molda a nossa abordagem pastoral nos
vários ministérios e abre as nossas mentes e os nossos corações para a dimensão
essencial do diálogo,
chamando-nos a "sermos
um sinal do amor de Deus no mundo, que é amor sem nenhuma exclusão nem
preferência". Somos chamados/as, portanto, a tornar‐nos sinal profético no
diálogo e no serviço, ponte entre os povos, através da experiência cotidiana
demissão, vivendo lado a lado com os povos de diferentes culturas e fé.
Este diálogo se manifesta nos gestos simples do cotidiano e no
encontro com outras Igrejas
e Comunidades cristãs, para se tornar um sinal de anúncio de Cristo,
fonte de unidade; com as
religiões não‐cristãs, especialmente com
as religiões tradicionais e
o Islã, para ser sinal profético na busca comum de Deus; com as culturas, para
transformar a humanidade através do compromisso comum de um mundo mais justo.
A espiritualidade herdada do Plano, este "sentir o próprio coração bater em
uníssono com o Coração de Cristo", encoraja-nos a levar o
"beijo da paz"
a qualquer periferia geográfica e existencial, porque a África de Comboni
tornou‐se critério para reconhecer no mundo onde estão os "mais pobres e abandonados"
e onde estão as "pegadas
do nosso magnânimo Pai", e continuarmos a ser fiéis ao seu
Plano no hoje da história, após 150 anos.
7. Conclusão
Queridas e queridos,
Portanto, temos muitos motivos para comemorar este evento,
tantas razões para sermos orgulhosos disso e desafiados ao mesmo tempo, tantas
razões para refletir.
Com São Paulo, o
grande apóstolo missionário, dizemos: “E o próprio Senhor nosso Jesus Cristo e Deus
nosso Pai, que nos amou, e pela sua graça nos deu uma eterna consolação e uma boa
esperança, console os vossos corações e os confirme para toda boa obra e
palavra” (2 Ts 2, 16‐17).
Muitos de nós somos movidos pelo dom que Jesus deu à sua Igreja
e a cada um de nós em São Daniel Comboni e no fruto da sua criatividade
obediente, o Plano para a regeneração da África. Trabalharemos com os olhos
fixos no mesmo objetivo que Comboni tinha nos olhos e no coração, também se
todos não faremos a mesma coisa ou não a faremos do mesmo modo. O
reconhecimento mútuo, o respeito e a valorização da diversidade de serviços e
de papéis fortalecerão a comunhão e permitirão que sejamos testemunhas no mundo
missionário, de uma diversidade
finalmente reconhecida e reconciliada.
Queremos, na verdade, que na Família comboniana de hoje haja
espaço para a diversidade reconhecida na igualdade do estilo de vida; queremos
aprender a reconhecer os talentos de cada grupo para fazê‐los frutificar em
função do Reino, trabalhando em rede...
Que todos os nossos irmãos e irmãs santos e mártires, começando
com os prisioneiros da Mahdia, nos ajudem. Ajude‐nos sobretudo nosso pai São
Daniel que nos queria “santos e capazes”, capazes de relações novas e verdadeiramente
evangélicas, capazes de vivermos a igualdade na diversidade, fazendo causa
comum com os pobres e os excluídos, sem tirar‐lhes o direito de serem sujeito
das próprias escolhas de vida e do próprio caminho de fé.
Só assim poderemos responder de forma eficaz aos grandes desafios
emergentes que o mundo nos apresenta.
Roma, 15 de setembro de 2014
150 anos do Plano para
a Regeneração da África
Os Missionários Combonianos do Coração de
Jesus
As Irmãs Missionárias Combonianas
As Missionárias Seculares Combonianas
Os Leigos Missionários Combonianos
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