22 de julho de 2007
Há viagens assim
Tinha que vir a Portugal. Tanto podia voar de Juba através de Nairobi como de Adis-Abeba.
Por ser mais directo e por causa dos afectos escolhi o itinerário Juba – Adis-Abeba – Roma – Lisboa.
As surpresas começaram logo em Juba. Passei pelos trâmites habituais de qualquer check-in. Na pista dois membros da tripulação da Ethipian (re)faziam uma inspecção detalhada de cada passageiro à sombra da asa do Fokker 50. Alguns passageiros protestavam pela demora. Outros, com o patriotismo ferido, barafustavam contra os etíopes por não confiarem na segurança do aeroporto. Havia quem dissesse que ali era território sudanês, que os etíopes não tinham o direito de fazer uma busca tão detalhada de cada passageiro. Expliquei-lhes que a placa do aeroporto é considerada território internacional. A funconária etíope gradeceu a minha dica e o processo continuou com mais ou menos vozes discordantes.
Embarcámos e a viagem começou meia hora mais tarde mas o avião aterrou dentro do horário em Adis-Abeba. Eram 18h30.
Tinha combinado jantar com os meus colegas. O voo para Roma estava previsto às 00:07.
Dirigi-me ao funcionário que processa os pedidos de passageiros em trânsito que querem sair do aeroporto. Informaram-me que por ter de esperar menos de seis horas pela ligação não tinha direito a sair. Disse-lhes que tinha um jantar combinado e que estava disposto a pagar o visto. Que não me podiam dar um visto pela mesma razão. Até que um dos funcionários me disse com ar de quem não quer a coisa: «Se nos deres um presente…»
Dei-lhes os 20 dólares que custava o visto, carimbaram-me o cartão de embarque e escoltaram-me ao exterior.
Jantei com o único colega que estava na residência provincial, pusemos a conversa em dia – há dois anos que não passava por Adis - , fiz alguns telefonemas para saudar os amigos mais chegados e voltei ao aeroporto.
O embarque estava previsto para as 23h30, mas era quase 1h30 quando entrámos no Boing 767. Problemas técnicos levaram ao atraso na partida e … na chegada.
Tinha o voo para Lisboa às 6h50, hora em que o avião da Ethiopian aterrou em Roma com mais de hora e meia de atraso. Resultado: tive que refazer o bilhete e pagar 120 euros (100 de multa por não ter embarcado e 20 pelo processamento do novo bilhete). O voo seguinte era às 12h20.
Tinha muito que esperar! Tomei o pequeno-almoço, refiz o registo do bilhete e o check-in, pedi que vissem onde estava a minha mala porque tinha perdido o voo que constava da etiqueta, comprei o último romance do John le Carré - The Mission Song - e dirigi-me para a porta B1 para esperar pelo embarque.
Uma necessidade «levou-me» à casa de banho. Quando regressei os colegas de voo tinham sumido da porta B1. Dirigi-me aos mostradores electrónicos. O voo da TAP para o Porto via Lisboa tinha desaparecido. No balcão da TAP não havia ninguém. Os funcionários do aeroporto diziam que visse nos mostradores a relocação de porta de embarque. Expliquei-lhes que o voo desapareceu da lista. Estavam tão estupefactos como eu.
Uma funcionária mais diligente telefonou para as informações do aeroporto e descobriu que o voo para Lisboa - Porto se processa através de uma porta de embarque que por engano estava destinada a um voo para Paris.
A viagem até Lisboa foi agradável. Vinha numa fila com uma família italo-cabo-verdiana. Conversámos sobre Palermo de onde vinham e de São Vicente para onde iam. Recordámos Cesária Évora, Lisboa. Meti-me com um miudito à minha frente que tinha uma cobra de pano e brincámos um bocado.
Chegámos a Lisboa dentro do horário previsto. O Espaço Schengen facilita as operações de desembarque. Dirigi-me ao tapete rolante para recolher a minha mala. Mas não houve sinais da mala vermelha que comprei para a reconhecer entre a bagagem dos outros passageiros.
Dirigi-me à Groundforce Portugal para declarar o desaparecimento da mala. Eram 15h34. A minha senha era a A262. Havia 20 números à minha frente.
O pessoal da Groundforce parecia estar a trabalhar no modo de economia de energia. Os números não rolavam no quadro electrónico. Alguns passageiros italianos começavam a perder a paciência com o compasso de espera nos seus planos.
Finalmente fui atendido por uma menina simpática passava das 17h30. Deu-me uma folha de papel com os dados do me processo, um número de telefone e um sítio na Internet para seguir a aventura da minha mala vermelha.
Esta manhã fui à procura da dita cuja na Internet. A malandra não dá sinais de vida virtual. Telefonei para o «call centre» - nome muito fino para quem nos dá música minutos sem fim – e disseram-me que como ainda não tinha passado 24 horas sobre o registo da ocorrência era normal não se saber onde a mala parava!
Tenho bem presente na memória o que a funcionária italiana me disse me Roma: «Não se preocupe com a sua mala. Ela vai consigo. Temos a política de embarcar as malas perdidas no voo imediato». Foi ontem à noite e a minha mala encarnada não chegou. Para a próxima vou mas é comprar uma mala azul e branca. Pode ser que dê mais sorte!!!
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