25 de março de 2025

MULHER BEDUÍNA

 


Conhecemo-la há quase dois anos. Mas só hoje entrámos em sua casa. Uma humilde habitação no deserto da Judeia, feita de chapas, madeira e plástico; frágil ao calor, ao vento e ao frio.

Nas visitas anteriores, recebeu-nos num pequeno canto, no exterior da casa, coberto com lençóis velhos. Estendeu um tapete na areia e aquele espaço transformou-se na sala de estar. 

Hoje não pode ser assim. Está demasiado frio. Nesta altura do ano, a chuva e o vento gelado sopram por todas as frestas. Por isso, convidou-nos a entrar no seu quarto, um pequeno abrigo quase vazio, onde até o ar se infiltra pelas fendas das paredes e pela porta de cobertor.

É uma jovem beduína, mãe de seis filhos, com mãos prodigiosas para bordar. Desde que começámos o curso, em 2023, ela tem sido uma das mais talentosas e empenhadas. No âmbito do projeto «Fios de Paz», as mulheres da aldeia bordam cartões. Ela dá-lhes um toque personalizado. A sua especialidade no bordado são os camelos. 

Durante o verão, destacou-se também como professora pelo seu empenho e criatividade. Generosa, incansável, com um dom natural para organizar e ensinar. Fala inglês fluentemente, oferece-nos bolos deliciosos, sempre impecáveis, como os seus filhos: limpos e bem tratados. 

Numa casa onde a pobreza é evidente, a dignidade é ainda mais evidente.

«Por favor, ela tem seis filhos. Por favor, comprem-lhe bordados e paguem-lhe bem», pede-nos a sogra, intercessora.

A situação é difícil. O marido não consegue arranjar emprego. A filha mais velha está no liceu e é tão inteligente como a mãe. A mais nova, juntamente com os seus irmãos gémeos, é uma das minhas preferidas.

Quanto mais nos aprofundamos na vida das mulheres beduínas, mais admiramos a sua força, a sua fortaleza, a sua resiliência infinita.

Ela despede-se de nós com um sorriso. 

Estava a chover e depois o sol voltou a aparecer. Um pôr-do-sol esplêndido. 

Mulher beduína, bondosa, segurando nos ombros o peso da casa e da esperança. 

Como diz o ditado: «Só as panelas conhecem a fervura dos seus caldos».

Ir. Cecília Sierra,

Missionária Comboniana

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