Os patriarcas do Antigo Testamento tinham o costume simpático de construir altares com pedras ou madeira no sítio onde tiveram experiências significativas e encontros especiais com o Senhor Deus. A Terra a que hoje chamamos de Santa estava cheia destes memoriais da ação de Deus na vida de Abraão, Isaque e Jacob. E de outras pessoas.
Os meus altares, os memoriais do meu passado e presente, são feitos de pulseiras. Uso quatro: uma de missangas azuis e transparentes, uma dezena do terço feito de contas de vidro e missangas, uma de contas verdes, amarelas e encarnadas e uma de couro.
A pulseira de missangas azuis e transparentes, em espinha, foi feita no Lady Lomin, um centro de artesanato que os combonianos tinham na missão de Lomin, Condado de Kajo Keji, no sul do Sudão do Sul. O centro empregava mulheres que através de produtos que fabricavam obtinham algum dinheiro extra para sustentar as suas famílias.
O centro produzia artigos em algodão, tecido pelas funcionárias do Lady Lomin, incluindo ti-chertes e outras peças de roupa, trabalhos variados em missangas, etc. O centro tinha um posto de vendas na casa provincial dos combonianos, em Juba. Infelizmente, a guerra civil que estalou em dezembro de 2013 entre as forças leais ao presidente Salva Kiir e as do seu vice-presidente Riek Machar chegou à missão de Lomin e os missionários, juntamente com os habitantes locais, tiveram de se refugiar no Norte do Uganda. A missão de Lomin foi saqueada e destruída.
A pulseira da Lady Lomin é memória dos sete anos que vivi no Sudão do Sul. Foram anos interessantes e importantes. Os dias da rádio. Guardo no coração as pessoas com quem trabalhei, os colegas missionários e missionárias, as amizades que fiz, as mulheres do Lady Lomin que visitei três vezes... E, sendo as missangas azuis e transparentes, lembram também os meus clubes do coração: o Clube Desportivo de Cinfães e o Futebol Clube do Porto!
A dezena missionária, com contas verdes, amarelas, transparentes, vermelhas e azuis, já desbotadas pelo tempo, separadas por missangas cor de chumbo, foi feita e oferecida pela Ir Maria de Deus Meirinho, missionária comboniana do Soito, Sabugal. Regressou à Casa do Pai há cerca de um ano. O seu serviço missionário decorreu em Portugal, América Latina e Itália. Gostava muito dessa doce mulher do Evangelho. Com ela diz a última visita ao Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe – que os mexicanos chamam simplesmente La Villa – antes de regressar a Portugal depois de nove meses de formação permanente naquele país.
A dezena além de me recordar a Ir Maria de Deus, é também sinal da minha vocação missionária! E, quando esqueço o terço no meu quarto, serve também para contar as ave-marias das dezenas dos mistérios do rosário.
A pulseira de contas verdes, amarelas e encarnadas tem as cores da bandeira da Etiópia, o meu lar corrente. Um missionário veterano uma vez disse-me que só somos verdadeiros missionários se entramos numa relação esponsal com o povo que nos recebe. A pulseira tricolor recorda a minha aliança de amor com a Etiópia e, especialmente, com o povo guji com quem vivo e sirvo.
A pulseira de couro foi-me oferecida por uma amiga que vive na Galiza. Por via dela, representa todas as amigas e amigos que tenho espalhados pela Europa, África, Ásia e Américas.
O Senhor prometeu cem vezes mais a quem deixar pais, irmãos, filhos e terras por causa dele e do Reino de Deus. Ele é um cavalheiro e mantém a sua palavra. Porque aceitei o seu convite de ser seu missionário no do Instituto dos Missionários Combonianos, agora a minha família alarga-se a quatro continentes e deixa-me de coração cheio.
Quando contemplo as minhas pulseiras louvo o Senhor da Vida e da Missão pela minha vida e missão, e por todas as pessoas que fazem parte da minha história. E encomendo-as, todas e cada uma, ao carinho de Deus.
As pulseiras são os meus altares, memoriais de rostos e corações que manifestam e encarnam a ternura de Deus para comigo e que trago no coração. A ti também!
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