5 de novembro de 2024

BORDAR PARA VIVER

Vemo-la chegar sorridente e orgulhosa. Após apenas quatro lições, esta senhora beduína apresenta-nos uma saquinha bordada e cosida à mão com fecho de correr. 

«Onde é que arranjou o fecho?», perguntamos. 

Ela sorri e explica: «Tirei-o de um vestido!». 

Outra mulher acrescenta: «Eu tirei o meu de um par de calças.». 

A verdade é que todas elas se superaram. Nunca tinham estudado costura ou bordado, e agora conseguem pregar um fecho de correr à mão e bordar uma saquinha.

«Vocês saltaram do jardim de infância para o ensino secundário!», dizemos-lhes entusiasmadas.

Existem vários grupos de mulheres em várias aldeias beduínas no deserto da Judeia. Fizemos planos para que 160 mulheres beduínas recebessem formação em bordados palestinianos e criassem produtos para abrir portas de solidariedade. 

Cada uma delas mostra o máximo empenho na aprendizagem e o entusiasmo é contagiante. É um verdadeiro prazer observá-las enquanto se dedicam apaixonadamente a esta nova forma de arte. 

Para muitas, é a primeira vez que usam uma agulha, mas estão determinadas a preservar o bordado beduíno, especialmente agora que a sua terra lhes treme sob os pés. Neste contexto de incerteza, o que lhes dá força é a vontade de se agarrarem às suas raízes e à sua identidade.

Devido ao conflito em curso, muitos homens, que eram o principal sustento das famílias, continuam sem trabalho. Consequentemente, estas mulheres estão motivadas para ganhar alguma coisa para alimentar os entes queridos. 

Algumas dizem que bordam de manhã até tarde, dando o seu melhor para garantir a subsistência das suas famílias. É um período muito difícil, mas a sua determinação é uma fonte de inspiração.

Vemos como elas se concentram no processo de aprendizagem, passando tempo a ver vídeos de bordados e tentando melhorar a técnica, diariamente. Muitas delas dizem que o bordado as ajuda a distrair-se e a pensar em algo positivo, dando-lhes a oportunidade de ocupar a mente de forma construtiva.

Neste clima de opressão, elas procuram afirmação. 

«Digam-me que é bom!», dizem. 

Olhos nos olhos, sinto a importância de responder: «És fantástica! Que criatividade! O que estás a fazer é muito bonito, e vais melhorar cada vez mais!».

Por isso, agradecemos do fundo do coração a solidariedade dos nossos benfeitores. Graças ao vosso apoio, 160 mulheres beduínas continuarão o processo de aprendizagem e de criação. A vossa generosidade é essencial para ajudar as famílias e comunidades a viver, literalmente. Estes são tempos difíceis e é-lhes dada a oportunidade de criar, de sonhar, de aprender, de crescer, de ter esperança e de viver.

Ir. Cecília Sierra,

Comboniana, missionária com beduínas do Deserto da Judeia

Sem comentários: