Vemo-la chegar sorridente e orgulhosa. Após apenas quatro lições, esta senhora beduína apresenta-nos uma saquinha bordada e cosida à mão com fecho de correr.
«Onde é que arranjou o fecho?», perguntamos.
Ela sorri e explica: «Tirei-o de um vestido!».
Outra mulher acrescenta: «Eu tirei o meu de um par de calças.».
A verdade é que todas elas se superaram. Nunca tinham estudado costura ou bordado, e agora conseguem pregar um fecho de correr à mão e bordar uma saquinha.
«Vocês saltaram do jardim de infância para o ensino secundário!», dizemos-lhes entusiasmadas.
Existem vários grupos de mulheres em várias aldeias beduínas no deserto da Judeia. Fizemos planos para que 160 mulheres beduínas recebessem formação em bordados palestinianos e criassem produtos para abrir portas de solidariedade.
Cada uma delas mostra o máximo empenho na aprendizagem e o entusiasmo é contagiante. É um verdadeiro prazer observá-las enquanto se dedicam apaixonadamente a esta nova forma de arte.
Para muitas, é a primeira vez que usam uma agulha, mas estão determinadas a preservar o bordado beduíno, especialmente agora que a sua terra lhes treme sob os pés. Neste contexto de incerteza, o que lhes dá força é a vontade de se agarrarem às suas raízes e à sua identidade.
Devido ao conflito em curso, muitos homens, que eram o principal sustento das famílias, continuam sem trabalho. Consequentemente, estas mulheres estão motivadas para ganhar alguma coisa para alimentar os entes queridos.
Algumas dizem que bordam de manhã até tarde, dando o seu melhor para garantir a subsistência das suas famílias. É um período muito difícil, mas a sua determinação é uma fonte de inspiração.
Vemos como elas se concentram no processo de aprendizagem, passando tempo a ver vídeos de bordados e tentando melhorar a técnica, diariamente. Muitas delas dizem que o bordado as ajuda a distrair-se e a pensar em algo positivo, dando-lhes a oportunidade de ocupar a mente de forma construtiva.
Neste clima de opressão, elas procuram afirmação.
«Digam-me que é bom!», dizem.
Olhos nos olhos, sinto a importância de responder: «És fantástica! Que criatividade! O que estás a fazer é muito bonito, e vais melhorar cada vez mais!».
Por isso, agradecemos do fundo do coração a solidariedade dos nossos benfeitores. Graças ao vosso apoio, 160 mulheres beduínas continuarão o processo de aprendizagem e de criação. A vossa generosidade é essencial para ajudar as famílias e comunidades a viver, literalmente. Estes são tempos difíceis e é-lhes dada a oportunidade de criar, de sonhar, de aprender, de crescer, de ter esperança e de viver.
Ir. Cecília Sierra,
Comboniana, missionária com beduínas do Deserto da Judeia