19 de julho de 2021
DESCANSO E COMPAIXÃO
Os apóstolos reuniram-se junto de Jesus e anunciaram-lhe tudo quanto tinham feito e ensinado. E Ele disse-lhes: «Vinde a sós para um lugar deserto e descansai um pouco». De facto, eram tantos os que chegavam e partiam que eles nem sequer tinham tempo para comer. Partiram, então, a sós no barco, para um lugar deserto. Porém, citam-nos partir e muitos perceberam para onde iam; e de todas as cidades para lá acorreram a pé e chegaram antes deles. Ao sair, viu uma numerosa multidão e compadeceu-se profundamente deles, porque eram como ovelhas sem pastor, e começou a ensinar-lhes muitas coisas — conta o evangelista Marcos.
Esta porção do evangelho tem uma atualidade extraordinária.
Em plena estação de férias Jesus diz-nos o que disse aos apóstolos: «Vinde a sós para um lugar deserto e descansai um pouco».
Habituamo-nos a contabilizar o tempo em termos económicos — os ingleses dizem que tempo é dinheiro — e os nossos dias transformaram-se numa exaustiva etapa de contra-relógio.
Por outro lado, o próprio descanso tornou-se numa indústria que gera milhões.
Urge redescobrir e reencontrar o sentido do descanso, do ócio, do doce fazer nada — como dizem os italianos.
Aliás, o Salmo 95 apresenta a vida eterna, a salvação como participação no repouso de Deus.
Repousar não é entrar numas férias frenéticas onde tentamos enfiar todas as experiências possíveis.
Repousar é parar, criar um espaço ermo no coração para contemplar a natureza, ouvir a vida, sentir Deus que passa no sussurro ligeiro da brisa da tarde.
Voltamos ao texto evangélico: as pessoas conheciam bem as rotinas de Jesus e anteciparam-se na chegada. Jesus quando viu a multidão numerosa «compadeceu-se profundamente deles» porque eram como ovelhas sem pastor.
Os evangelhos usam uma dezena de vezes o verbo compadecer-se para sublinhar os sentimentos de Jesus.
A compaixão é a capacidade de sofrer com. Jesus comovia-se até às entranhas com a realidade das multidões. O biblista António Couto propõe traduzir o verbo compadecer-se por tripar. Um sentimento avassalador.
Os meios de comunicação social mediatizaram e banalizaram o sofrimento e a morte transformando-os em espetáculo e cada espectador num mirone a banquetear-se com os problemas de terceiros.
Urge recuperar o sentimento de compaixão, a solidariedade na dor e na alegria.
A Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II sobre a Igreja no Mundo atual abre com estas palavras desafiadoras: «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo e não há realidade alguma verdadeiramente humanasse não encontre eco no seu coração».
Todos somos pastores, temos uma relação de liderança e de cuidado com terceiros. A compaixão afigura-se como método para guiar os outros. Não dispersar nem dividir para reinar mas unir, juntar, cuidar!
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