«Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor» (Lucas 2, 10-11).
O Natal aproxima-se e nós vamo-nos preparando para acolher Deus que vem. O anúncio dos anjos ressoa nos céus e sobre a terra. É um anúncio claro, inconfundível e portador de alegria e esperança: Hoje nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo e é Senhor. Este anúncio é para o nosso hoje e é para todo o povo de Israel e para todos os povos da Terra.
Todavia, toda a humanidade está a viver uma situação crítica e difícil que atinge todos sem distinção. Todos sentimos o peso e o sofrimento desta pandemia que expôs a nossa fragilidade e os nossos limites, revelou os nossos medos, alterou os nossos comportamentos. Entre as vítimas, há também um bom grupo de confrades nossos que experimentaram o sofrimento e até a morte. Estamos todos, verdadeiramente, no mesmo barco e ainda no mar alto! Não obstante a dor e a perturbação, não faltaram gestos concretos de caridade e solidariedade para ir ao encontro das gentes. Nesta realidade sombria e ao mesmo tempo cheia de luz, fomos desafiados a ler os sinais dos tempos e dos lugares com os olhos da fé e a descobrir em tudo a presença de Deus.
É neste contexto de sofrimento e perturbação que somos chamados a viver com fé o Natal deste ano 2020. Em vez de dizer como muitos que não haverá Natal, nós sentimos a profunda necessidade de o celebrar e de estar despertos para receber Deus no nosso mundo e viver este acontecimento em espírito de humildade e de oração contemplativa. Ele vem em cada dia e em cada circunstância, vem sem se cansar, como Luz que refulge nas nossas trevas para habilitar-nos a ver a realidade com um olhar positivo e novo. Faz-se presente na fragilidade da nossa carne para assegurar-nos que é nela que se revela o seu poder salvador. Ele aproxima-se da humanidade ferida para a curar e para estimular em todos o desejo da fraternidade. Surge como a alba de um novo dia que vence o medo e abre à Esperança. Fixando o nosso olhar no Menino-Deus de Belém apercebemo-nos que tudo o que é humano é tocado pela sua Presença, muitas vezes escondida nas dobras da História. Ele é verdadeiramente o Emanuel. Deixando-nos envolver pelo mistério da incarnação seremos repletos de assombro e gratidão.
Na sua visita a Belém, Comboni comove-se ao contemplar o lugar onde Jesus nasceu: Entrei, e embora o nascimento seja mais alegre que a morte, fiquei mais comovido que no Calvário ao pensar na complacência de um Deus que se humilhou até ao ponto de nascer num estábulo (Escritos 111). Também nós, deixemo-nos comover pela sua presença no nosso quotidiano e no seio dos povos entre os quais vivemos. O nascimento do Menino-Deus, impele-nos a descobri-lo nas pessoas, sobretudo os mais pobres descartados, e a percorrer os caminhos da Vida juntamente com eles. Somos convidados a romper a carapaça da indiferença e do individualismo, a construir uma fraternidade aberta onde cada um é reconhecido, amado e valorizado independentemente do lugar do mundo onde nasceu ou habita (cf. Fratelli tutti, 1). A contemplação da Palavra feita carne leva-nos à conversão, a escolher estilos de vida simples e a centrar-nos no Essencial.
A situação difícil em que nos encontramos é um apelo a estar atentos aos sinais de Deus na História para encontrar os caminhos novos da missão. A contemplação da Incarnação de Deus faz-nos estremecer de gratidão e de assombro e abre-nos à solidariedade e ao empenho apaixonado a favor dos irmãos e irmãs mais pobres e abandonados na esteira de São Daniel Comboni.
Queremos viver este Natal juntamente com toda a Humanidade, deixando-nos transportar pelo amor que emana da gruta de Belém e nos faz ser sinais de alegria e de esperança. A Virgem Maria, que viveu de modo particular a espera do Salvador e o acompanhou do nascimento até à cruz, nos guie no nosso caminho tantas vezes penoso e nos transforme em testemunhas credíveis da Salvação trazida por Jesus.
Desejamos-vos um Santo Natal e um Ano Novo 2021 repleto de grande paixão missionária a caminho do Capítulo Geral.
O Conselho Geral
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