6 de outubro de 2017

CORAÇÃO MISSIONÁRIO


O P.e Tesfaye Tadesse e o Ir. Alberto Lamana escreveram uma mensagem muito fraterna, realista e cordial à província depois da memorável visita oficial de dez dias no início de julho passado. Um texto lindo, cheio de palavras de reconhecimento, encorajamento e também com um desafio: «Parece que a nossa presença tenha perdido aquela força que era característica do nosso passado.»

Por um lado, é normal que tenhamos perdido algum fulgor: os anos não perdoam! Por outro, somos desafiados a reavivar a nossa vocação de discípulos missionários combonianos.

Vêm-me à mente as palavras de Paulo a Timóteo, seu amigo de peito: «Por isso recomendo-te que reacendas o dom de Deus que se encontra em ti, pela imposição das minhas mãos, pois Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso» (2 Timóteo 1, 6-7).

Ou o que o Espírito diz à Igreja de Éfeso: «Conheço as tuas obras, as tuas fadigas e a tua constância; […] tens constância, sofreste por causa de mim e não perdeste a coragem. No entanto, tenho uma coisa contra ti: abandonaste o teu primitivo amor. Lembra-te, pois, donde caíste, arrepende-te e torna a proceder como ao princípio» (Apocalipse 2, 2-5).

Estes dois ícones das Escrituras cristãs desafiam-nos a não ter medo face ao futuro, mas a ser fortes, a amar com bom senso e a regressar ao entusiasmo do primeiro amor!

A missiva dos nossos irmãos maiores indica pistas para reavivar o dom e refazer o caminho do primeiro amor.

Uma é a comunidade fraterna «onde as feridas são curadas e onde se vive o perdão e se encontra um novo relançar à missão». E continuam: «a programação provincial e de comunidade é uma boa oportunidade para unir a necessidade missionária concreta e as capacidades de cada um dos confrades.»

Outra é a pastoral vocacional juvenil de rosto comboniano: apesar das dificuldades de comunicação com os mais novos – «Não é fácil chegar aos jovens com os nossos meios e com as estruturas tradicionais» –, recordam que «é necessário arriscar novos caminhos de contacto com uma geração para a qual os meios de comunicação, especialmente os digitais, são parte integrante da sua relação com o mundo.»

Não sei porquê, mas sinto que devo cruzar as palavras do P.e Tesfaye e do Ir. Alberto com a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões, o nosso dia! O Papa argentino deu-lhe o título «A missão no coração da fé cristã» e pergunta: «Qual é o coração da missão?»

A resposta está no poder transformador do Evangelho (n.º 1)! E o Evangelho «é uma Pessoa, que continuamente Se oferece e, a quem A acolhe com fé humilde e operosa, continuamente convida a partilhar a sua vida através duma participação efetiva no seu mistério pascal de morte e ressurreição» (n.º 4).

Chega-se lá «através de uma espiritualidade missionária profunda vivida dia-a-dia e dum esforço constante de formação e animação missionária, envolvem-se adolescentes, jovens, adultos, famílias, sacerdotes, religiosos e religiosas, bispos para que, em cada um, cresça um coração missionário» (n.º 9).

Este coração missionário também tem que continuar a crescer e a bater mais forte no nosso peito – apesar dos anos, das feridas, das fadigas, da inércia, dos maus agoiros, das nuvens negras no nosso horizonte.

Como? São Daniel Comboni continua a inspirar-nos: «Ora bem, ante tão espantosas calamidades, sob o peso de tantas desditas, o ânimo do missionário terá de se encolher e desfalecer?... Nunca! A cruz é o caminho real que conduz ao triunfo. O Coração Sacratíssimo de Jesus palpitou também pelos pobres negros» (Escritos 6381).

Como notou a LMC Élia Gomes no testemunho publicado na Além-Mar de outubro, «a missão não se faz sem amor». Tanto lá como cá!

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