30 de setembro de 2017

SEM MUROS


A liturgia de hoje oferece-nos um texto muito antigo mas também muito atual. É tirado da profecia de Zacarias, escrita cerca de 500 anos antes de Cristo.

Diz assim: «Jerusalém deverá ficar sem muros, por causa da multidão de homens e animais que haverá nela. E Eu serei para ela – diz o Senhor – uma muralha de fogo à sua volta e no meio dela serei a sua glória» (Zacarias 2, 8-9).

Num tempo em que se fala tanto de construir muros e puxar as fronteiras para longe - as da Europa já chegam às praias da Turquia e da Líbia, de derivas xenófobas, este texto é revelador e desafiante.

Jerusalém, destruída pelos sírios, não precisa de muros novos: é casa de esperança para uma multidão sempre a crescer, um regaço aconchegante, um seio acolhedor, um ponto de encontro multicultural.

As migrações são uma constante histórica: não há raças puras; trazemos nos nossos genes a herança de inúmeros povos andarilhos à procura de sítios e vidas melhores.

Se não temos muros nem fronteiras, se somos um espaço aberto e acolhedor quem nos protege?

Deus é a nossa muralha de fogo! Ele é Pai de todos e faz de nós seus filhos, irmãos uns dos outros… Entre irmãos não há muros sem limites! Há ternura, carinho.

Expulamos Deus da cidade e da vida e, por isso, sentimo-nos inseguros, vulneráveis aos de fora, ao diferente.

«E Eu serei para ela uma muralha de fogo à sua volta e no meio dela serei a sua glória», diz o Senhor.

Ireneu de Lião, um mártir do ano 200, traduz este conceito de uma forma assombrosa: «A glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus.»

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