P. Feliz com Sr. Tong
Desde que cheguei a Nyala, Darfur, ja vai para 11 anos, há uma palavra que nós missionários ouvimos frequentemente de tanta gente que nos quer bem. Refiro-me especificamente ao alerta e bom conselho a respeito de sequestros e raptos de veículos e de pessoas, especialmente de estrangeiros. Esta é, de facto, uma triste realidade que não parou de existir desde o inicio da guerra/conflito armado do Darfur, em 2003.
De entre os sequestrados ao longo destes últimos anos contam-se também alguns conhecidos e amigos pessoais, incluindo o pároco da comunidade copta-ortodoxa de Nyala que foi raptado a 14 abril de 2016 e ficou em cativeiro durante 42 dias.
Infelizmente, esta maléfica e diabólica atividade continua atual nestas paragens. Na sexta-feira passada, 9 de junho, de manhãzinha, a horas em que as ruas estão praticamente desertas por ser o mês de Ramadão, o sinistro veio bater à porta da missão católica. Mas, graças ao Deus Altíssimo, não levou a melhor.
Eram três homens: um de arma kalashnikov em punho; outro de rosto completamente velado com o turbante; o terceiro sem qualquer distintivo.
Damos graças a Deus que nenhum de nós os dois missionários se encontrava por perto quando s bateram à porta da missão.
Tong, operário da missão que veio do Sudão do Sul, tinha chegado um pouco antes. Foi ele próprio que lidou com o caso e que imediatamente nos veio contar enquanto tomávamos o café da manhã.
Depois do apressado e abreviado «Assalam aleicum», ouvimos da sua boca a narração do que aconteceu.
Os assaltantes perguntaram: «Onde estão os abunas (padres)? Chama-os aqui à porta», ameaçaram.
Porém, Tong foi muito corajoso pela maneira como soube repelir os assaltantes: «Podes apertar o gatilho e disparar, se assim o quiseres; fica certo, porém, que não vou buscar os padres.»
Foi arrojada a resposta de Tong àquele que lhe apontava a arma ao peito. O breve relato do corrupto acidente deixou-nos sem palavras e sem reacção imediata.
Mais tarde, conversando com operário, pressenti que tinha algo a acrescentar à história do rapto falhado daquela manhã.
O portão estava aberto. Tong fez questão de me mostrar, mesmo aí ao lado, o local exacto onde esteve parada a carrinha Toyota, à espera de, em caso de êxito final e missão cumprida, arrancar com os dois padres cativos.
A seguir, num misto de orgulho e humildade, confessou: «Se me ponho a pensar donde me veio tal coragem para responder aos atacantes, não saberia explicar». Ao que eu respondi: «Não é questão de pôr-se a pensar; o que temos é muito que agradecer.»
E é mesmo esta a mensagem que aqui deixo ao enviar estas notícias aos amigos. Nós, os padres Lorenzo Baccin e Feliz Martins da missão católica de Nyala não cessamos de agradecer a Deus que nos livrou das mãos dos raptores.
Ao mesmo tempo, a nossa oração é em favor de todos aqueles que são vítimas de sequestros e raptos, como consequência da desgovernação caótica desta região sudanesa do Darfur.
Feliz C. Martins
Nyala – Sudão
3 comentários:
Força!
Nós aqui, no Campo, continuamos a rezar por vocês. Vai tudo correr bem.
GRANDE beijinho
Rosa Maria
Força Padre Feliz, felizmente tive oportunidade de lhe dizer pessoalmente o quanto o admiro e ao que faz aí. Muita força!
muita força Padre Feliz.Que Deus o proteja e abençoe pois bem merece por todo o bem que tem feito E portudo o quetem passado, infelizmente . Um grande abraço e Muita saúde.
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