2 de junho de 2015

#todossomospessoas


Grupos católicos reagiram com indignação ao cinismo dos políticos que vêem o Mediterrâneo como fosso anacrónico da Fortaleza Europa.

Doze grupos católicos organizaram a acção #todossomospessoas a 26 de Abril, um murro na mesa da indiferença, para denunciar a morte de quase 900 pessoas afogadas no Mediterrâneo, uma semana antes, quando uma traineira se afundou com a maioria dos passageiros fechada nos porões.

O Papa Francisco pediu decisão e rapidez aos líderes europeus para travarem a tragédia sucessiva que matou 5200 pessoas nos últimos 15 meses. As vítimas «são homens e mulheres como nós, irmãos que procuram uma vida melhor, famintos, perseguidos, feridos, explorados, vítimas de guerras. Procuram uma vida melhor, procuravam a felicidade», afirmou o papa argentino.

O cardeal alemão Reinhard Max, que preside à Comissão dos Episcopados da União Europeia, declarou que «esta nova catástrofe no Mediterrâneo constitui uma derrota para tudo o que faz da União Europeia uma comunidade de valores».

O Conselho Europeu respondeu ao clamor da opinião pública disponibilizando nove milhões de euros por mês para patrulhar as fronteiras mediterrânicas e ajudar a Tunísia, Sudão e Egipto a cortarem o acesso à Líbia. É de lá que embarcam 90 por cento dos imigrantes que usam o mar para chegarem ao sonho europeu. As rotas terrestres que vão desaguar à costa líbia nascem no Gana, Nigéria, Níger, Mali, Marrocos, Argélia, Somália, Eritreia, Egipto...

Também decidiu destruir embarcações que possam ser usadas por traficantes e colocar agentes da Europol no terreno para desmantelar as redes de tráfico humano.

A resposta foi rápida mas é curta! Os líderes europeus insistem numa resposta securitária em vez de gizarem um plano humanitário que tenha em conta as situações de morte e pobreza que empurram os imigrantes para a Europa.

A Organização Internacional das Migrações contabilizou 1750 mortes no Mediterrâneo nos primeiros quatro meses de 2015, um número 30 vezes maior que no ano anterior. Nessa altura, a Itália tinha de pé a operação Mare Nostrum para patrulhar o mar e socorrer os náufragos junto à costa africana. A missão era cara e a comunidade dos 28 não quis pagar a fatura. Foi substituída pela operação Triton, que trouxe a intervenção militar para junto da costa italiana e um aumento exponencial de naufrágios e afogamentos.

Depois, quem semeia ventos colhe tempestades: os dirigentes ocidentais foram lestos no apoio à queda do regime do coronel Muamar Kadhafi, desresponsabilizando-se porém das consequências do vazio do poder. Agora o país está nas mãos das milícias e do Estado Islâmico.

Em 2014, 218 mil pessoas chegaram à Europa através do Mediterrâneo. O negócio do transporte de imigrantes ilegais gera entre 300 e 600 milhões de euros por ano. É controlado por uma parceria que junta traficantes internacionais, milícias líbias e o crime organizado italiano. Uma só embarcação pode render 80 mil euros aos passadores.

O Serviço Jesuíta aos Refugiados-Portugal teme que as tragédias no Mediterrâneo cresçam em número e gravidade e pede uma resposta «urgente e rápida» aos 28 Estados-membros da União Europeia.

O organismo católico propõe que as operações de resgate no Mediterrâneo sejam alargadas e que a vida humana se sobreponha aos imperativos de segurança. Sugere a criação de corredores seguros e legais de acesso à União Europeia, incluindo a distribuição de vistos humanitários e o combate ao tráfico de pessoas. Pede também mais solidariedade efectiva e responsabilidade entre os Estados-membros da União para acolher e integrar os imigrantes.

A resposta às tragédias constantes nas águas mansas do Mediterrâneo também passa por aí!

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