15 de outubro de 2009

DEUS-MÃE

Se há coisa que me espanta, me encoraja e me confunde, estou a falar do amor de Deus. Deus gosta de mim como uma mãe e multiplica os seus cuidados, se me vê doente ou atribulado.
Esta certeza há muito que tomou conta de mim e, tanto quanto posso e sei, procuro transmiti-la aos outros nos meus contactos pessoais ou na minha actividade pastoral. E a vida apresenta-se tão doída para tantos e tantos, que passo parte importante do meu ministério neste exercício.
Deixo dois casos mediáticos em que o amor de Deus se tornou palpável e onde julgo que posso ter ajudado a descobri-lo.
Há tempos, um crime hediondo abalou o país, sobretudo o Norte. Uma jovem, e que boa ela era e como tal considerada por toda a gente, sob pressão do seu namorado, matou e esquartejou seus pais para lhes tomar conta do dinheiro que o dito namorado exigia. Descoberto o crime e seus impensáveis autores, vem o insulto, vem o desespero, vem um animal desejo de vingança. Foram julgados e, claro, condenados em penas maiores.
Ela foi para Tires, onde acabou por oferecer a esta sociedade má, não obstante tudo, uma menina que era o encanto de todas as colegas do presídio, que não eram poucas.
Andava eu com o meu povo, em reflexões de Semana Santa, quando me lembrei do sofrimento moral por que estaria passando esta rapariga que eu não conhecia de lado nenhum. Vai daí e vou à prisão. Só venho dizer-te que Deus gosta muito de ti. Choramos os dois e voltei para Setúbal. Contar o que sentimos, impossível. O que sinto hoje ainda continua nas áreas do indescritível…
Agora, aparece-nos nos escaparates das nossas livrarias um livro cuja leitura, haverá alguém que a possa fazer até ao fim? É de nos fazer arrepiar.
O autor, muito jovem, tem percorrido um caminho doloroso, tão desumano e cruel como o do Calvário.
O livro está todo ele escrito a sangue vivo e o nosso jovem não é capaz de encontrar resposta para a pergunta que o atormenta e persegue: ”Porquê a Mim?”
São tantos, tão dolorosos e tão inexplicáveis os espinhos da sua cruz, que ele acaba por confessar que, no meio de tudo isto, não pode mesmo acreditar num Deus que assiste em silêncio a tanta dor.
Que fazer em situações como esta? Não vou deixar dito aqui quanto e como comunguei com ele, mas lembro-me de ter terminado assim a minha mensagem: “Olha bem, meu amigo, Aquele Deus em Quem dizes ter deixado de acreditar, GOSTA MUITO DE TI. Enterra bem o passado, que o sol há-de voltar a brilhar na tua vida. Com Ele”.
Acrescento só que as grandes crises que se vão abatendo sobre nós só podem encontrar explicação nestas subcaves em que boa parte do mundo se move e arranja.


Dom Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, em «página1»

2 comentários:

Luisinha disse...

É bem verdade o que dizes, e eu mesma já me senti tão amparada por Deus, tantas "coincidências" que vieram no momento certo que nem me atrevo a duvidar! Porque Ele é assim subtil, só é visto por quem tem olhos de ver, só é sentido por quem o aceita sentir. Mas ser amado por Ele, disso ninguém pode provar o contrário! Talvez seja um pouco disso que estejas a levar às pessoas e eu fico feliz por elas, pelo que ganham com isso, e por ti, porque é a dar que se recebe!

Paz e Bem
Luisinha

Ronny Marinoto disse...

Obrigado por me trazer estas palavras, Zé!
Um grande abraço para você!