O ministro dos Assuntos Internos do governo regional do Sul do Sudão chamou hoje à pedra duas emissoras independentes a operar na região: a Rádio Bakhita, da arquidiocese católica de Juba, e a Rádio Miraya, das Nações Unidas.
O ministro Gier Chuang Aluong convocou os directores das duas rádios para um encontro de emergência em que participou também o Secretário de Estado para a Informação entre outros elementos.
O ministro Chuang recordou que foi ele que quando detinha a pasta das telecomunicações quem licenciou as duas estações e que esperava que elas cooperassem com o governo regional.
Acusou a Rádio Miraya – Espelho em Árabe – de fazer oposição sistemática ao seu governo, seguindo a agenda política do Partido do Congresso Nacional, no poder em Cartum há 20 anos. Entretanto, para ele a Bakhita ultrapassou o seu mandato e tornou-se uma rádio política.
Quando lhe explicámos que o anúncio do Evangelho passa pelo tratamento das questões quentes da justiça, paz e preservação do ambiente, virou o discurso e disse que estávamos a impor fasquias estrangeiras aos sul-sudaneses no que diz respeito à boa governação e à promoção da sociedade civil.
O ministro Chuang disse que a região «está ainda em guerra» e que cada vez que damos notícias relacionadas com ataques étnicos ou damos voz a crítica ao governo estamos a colaborar na insegurança que afecta oito dos dez estados do Sul. Disse mesmo que são balas que disparamos!
Ainda ontem mais de 180 pessoas, quase só crianças e mulheres, foram mortas em Akobo, Jonglei State, uma região que por altura da Páscoa assistiu ao massacre de mais de 1000 vítimas de violência inter-tribal.
O ministro acusou alguns meios da comunicação de quererem ser premiados pelo seu trabalho à custa do Sul do Sudão e muitas ONGs de elaborarem bonitos relatórios sobre o seu trabalho no sul do Sudão, mas que não têm incidência na vida das pessoas.
No fim ameaçou que nos ia ter debaixo de olho e que como «steakholder» nos podia fechar se não gostasse dos nossos produtos.
A minha leitura pessoal do incidente é que o ministro queria intimidar-nos à directora, a Irmã Cecilia Sierra, e a mim e como não o conseguiu como ex-combatente começou a disparar em todas as direcções.
As eleições vêm aí – estão marcadas para Abril de 2010 – e o Sudão não tem grandes hábitos de prática democrática, incluindo o Sul.
Agradeci o facto de finalmente o Governo ter aprovado os ante-projectos das leis da comunicação social na passada sexta-feira. E rematei que em democracia os lesados apresentam queixa em tribunal e os juízes actuam em função das leis aprovadas!
O ministro amanhã continua o encontro com a Rádio Miraya a pedido da representante da estação na reunião.
Entretanto, a Bakhita já tinha agendado uma reunião com o ministro da tutela para a próxima semana e o «puxão de orelhas» de hoje será um dos pontos a discutir com o encarregado da pasta da comunicação social.
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