De Francisco Moita Flores tinha lido alguma ficção policial avulso publicada não me recordo bem em que semanário.
Ofereceram-me «A Fúria das Vinhas» (Casa das Letras 2007) durante a minha estada em Portugal. Comecei a ler o livro com bastante expectativas e não fui ludibriado.
O romance conta a história de uma mulher impar num mundo de homens. Antónia Adelaide Ferreira é um mito nos anais do vinho do porto – na minha terra chamamos-lhe vinho fino.
Moita Flores consegue pôr em texto não só a vida da Ferreirinha como os falares, os creres e os viveres do Alto Douro.
A escrita de Moita Flores é rectilínea, mas também prenhe de emoção e surpresas. Pinta quadros espectaculares com palavras sóbrias. As palavras necessárias.
Nasci e vivi a primeira dúzia de anos no Douro-Sul e partilho desse caldo cultural único. O Douro é um espaço telúrico especial, uma linha de vida e de morte única. Agora está domado, triste. Mas é e será Ó meu rio Douro / Douro dourado / És tão formoso / E és tão amado.
«O Douro era o ventre materno que a aconchegava no colo quando sofria ou era feliz. D. Antónia sabia. Ninguém é feliz para sempre. A felicidade é uma pontuação, não é uma frase. E só a pode sentir no auge das emoções quem sofreu intensamente. A sua vida, a vida de todos os mortais, era feita desta transitoriedade onde o único valor absoluto é a morte» (pag. 84).
Obrigado Amélia e Luís por esta viagem impar ao meu Douro, tão longe e tão perto de mim.
Sem comentários:
Enviar um comentário