5 de agosto de 2025

ENCONTROS SAGRADOS




O meu crucifixo, pendurado ao pescoço, atrai imediatamente os seus olhares curiosos. São crianças beduínas, palestinianas, muçulmanas. Algumas olham para o crucifixo, apontam para ele com seriedade e sussurram: 

— Haram! Pecado! 

Mas outras aproximam-se com os olhos bem abertos:

— Quem é ele?

— Jesus, o Messias! — respondo com um sorriso.

— Enti mesihiah? És cristã?

Um deles repete pensativo: 

— O Messias... Ah, é por isso que chamam-vos mesihiyin, cristãos.

Então, um deles pergunta-me:

— Rezas?

Respondo com outra pergunta:

— E tu rezas?

Com voz firme e olhar sereno, começa a recitar a sura al-Fatiha do Alcorão. Depois, olha para mim com ternura e diz:

— Agora é a tua vez.

Recito o Pai-nosso em árabe. 

Uma menina aproxima-se, em silêncio, e acena com a cabeça a cada palavra. Cria-se um momento de suspenso, quase sagrado. Quando digo «Ámen», ela também sussurra:

— Ámen!

A oração de Jesus atravessa os corações. Não precisa de explicação.

Um menino, filho de um xeque, no início diz-me, com firmeza, que carregar a cruz é haram, pecado. 

A sua família é um pouco rígida. A mãe cobre o rosto com uma burca. Mas, no final do dia, algo mudou no seu olhar. Com olhos brilhantes e sinceros, ele olha para mim e diz:

— Eu amo os cristãos. São meus amigos.

No dia seguinte, chega um jovem voluntário estrangeiro. O menino corre emocionado na sua direção:

— Mesihi? Cristão?

— Sim, é cristão! — respondo-lhe.

Então ele sorri, com uma alegria imensa, e diz:

— Sou amigo dos cristãos.

E cumprimenta-o amigavelmente.

Perguntamos às crianças:

— Se pudesses receber um presente de paz, qual seria?

Uma criança de seis anos, sem hesitar, responde com uma única palavra:

— Gaza.

As professoras olham-se em silêncio, comovidas. Não era preciso mais nada. A resposta dele dizia tudo.

São estes os encontros que guardamos na alma. Pequenos gestos, cheios de uma força silenciosa: abrir-se ao outro, acolher o diferente sem medo, descobrir que o sagrado também habita na voz e na fé do outro.

Durante este mês de julho, percorremos nove aldeias no deserto da Cisjordânia, partilhando com crianças temas de paz, esperança, alegria e resiliência através dos campos de verão. 

No meio de uma realidade polarizada, difícil e incerta, nos acampamentos de verão as crianças beduínas aprendem que a diversidade não é uma ameaça, mas uma riqueza. Eles aprendem — e ensinam-nos — que há beleza na oração do outro, na sua forma de nomear Deus, na sua maneira de amar.

A cada passo, o coração se expande. A cada criança, a esperança se renova.

«Quando o teu coração está cheio de amor, nunca verás um rosto estranho», escreveu o autor libanês Gibran Khalil Gibran.

Ir Cecíia Sierra

Missionária Comboniana no Deserto da Judeia.

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