9 de maio de 2025

TEMOS PAPA


 

Cento e trinta e três cardeais, reunidos em conclave, durante pouco mais de 24 horas, escolheram o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, «um filho de Santo Agostinho», como o papa número 267. A escolha gerou alguma surpresa, mas o Prefeito do Dicastério para os Bispos desde 2023 fazia parte de algumas listas de papáveis, embora não fosse candidato de topo. Dom Robert Francis – partilha o nome com o papa que o precede – escolheu o nome de Leão XIV, o que motivou alguns sportinguistas a fazer montagens com o novo papa vestindo as cores e o emblema do clube.

Segui o conclave com expetativa até porque o sector da Igreja mais tradicionalista se empenhou numa campanha para tentar «queimar» os candidatos mais dispostos a seguir o legado do papa Francisco. Produziram um dossier sobre quarenta cardeais com os seus pontos de vista em matérias mais fraturantes e a promover os próprios candidatos, e ofereceram o livro aos participantes no conclave. O dinheiro e o ruído mediático não chegaram. 

Estes, deram-nos como papa um cardeal missionário norte-americano de 69 anos, com 22 anos de trabalho no Peru como missionário e como bispo, de uma família com raízes na França e Itália (do lado do pai) e na Espanha (do lado da mãe), um homem discreto, doutorado em direito canónico, de Chicago, «o menos americano dos americanos», como publicou a Aleteia na sua lista de doze papáveis. Era o fim de lista.

No discurso de pouco mais de 530 palavras da sua primeira bênção à cidade e ao mundo, Leão XIV deixou claras as coordenadas do seu pontificado. Depois de dar a paz a todos e de querer dar continuidade à bênção pascal do Papa Francisco e de lhe agradecer, o novo papa fez três afirmações muito importantes e reveladoras:

Quero também agradecer a todos os meus irmãos Cardeais que me escolheram para ser o Sucessor de Pedro e para caminhar convosco, como Igreja unida, procurando sempre a paz, a justiça, esforçando-se sempre por trabalhar como homens e mulheres fiéis a Jesus Cristo, sem medo, para anunciar o Evangelho, para ser missionários.

Devemos procurar juntos o modo de ser uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, que constrói o diálogo, sempre aberta para acolher a todos, como esta Praça, de braços abertos, a todos aqueles que precisam da nossa caridade, da nossa presença, de diálogo e de amor.

Queremos ser uma Igreja sinodal, uma Igreja que caminha, uma Igreja que procura sempre a paz, que procura sempre a caridade, que procura sempre estar próxima, sobretudo dos que sofrem».

Leão XIV vai dar continuidade ao legado de Francisco de uma Igreja missionária e sinodal aberta a todos, construtora de pontes, promovendo a paz, a justiça, o amor e a proximidade dos que sofrem, sem medo.

Escolhendo o nome de Leão XIV, o novo papa quer também ser o herdeiro de Leão XIII, o papa da Rerum rovarum, da Doutrina Social da Igreja, do diálogo com a modernidade e com o mundo.

O papa norte-americano é diferente do seu antecessor argentino. Parece mais tímido e mais discreto. Vem com uma tarimba especial: o seu serviço missionário no norte do Peru como padre e como bispo próximo de todos sobretudo em momentos de crise climática. 

As suas primeiras palavras a Roma e ao mundo foram em italiano com uma saudações num espanhol bonito à diocese de Chiclayo onde foi pastor durante nove anos antes de Francisco o trazer para Roma para dirigir o dicastério dos bispos.

A Igreja está em boas mãos. A Trindade Santa, a Trindade das surpresas, deu-nos o papa que quis. Que o assista sempre!

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