9 de maio de 2023

FLORESTA


 Poiso o olhar sobre este mar de verde
tranquilo
que se abre diante de mim
em silêncio glorioso,
prenhe de vida
por debaixo das copas frondosas
a abraçarem o céu de azul pintado
lá longe
onde o finito e o infinito se fundem,
confundem.
Bailado de ramos entrelaçados
à melodia da brisa da tarde,
ondulação verde,
de vida,
condomínio aberto de ninhos,
lar de seres à procura de sustento,
de proteção,
casa viva,
palco da sinfonia polifónica
de chilreios, assobios, rugidos,
silêncio arrepiante,
diamante,
que talha a luz do sol
em fios esguios
através da densa folhagem
e brincam com a nibelina húmida,
coada,
do amanhecer
que embeleza com pérolas líquidas
as filigranas das aranhas tecedeiras.
Fotossíntese essencial,
fábrica de oxigénio
a partir de carbono reciclado.
Até que o avaro machado
a golpes secos de aço,
coadjuvado pelo fogo lambão,
traga pela raíz
este pedaço de paraíso
que paulatinamente vai dando lugar
a campos férteis de cultivo.
Deflorestação
que corta o coração,
o preço do progresso.
Sem regresso?

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