O sequestro de mais de 300 alunas de uma escola secundária nigeriana por fundamentalistas islâmicos indignou milhões de pessoas que as adoptaram e exigem a sua libertação.
A 14 de Abril à noite, um camião militar parou junto da escola Secundária Feminina de Chibok, no Estado de Borno, Nordeste da Nigéria. Os supostos militares carregaram no veículo as mais de 300 alunas que estavam a fazer os exames finais. As meninas foram levadas para parte incerta, mas cerca de meia centena conseguiu fugir das garras dos sequestradores.
Abubakar Shekan, o cabecilha do grupo islâmico Boko Haram, reivindicou a autoria da operação. Num vídeo de péssima qualidade, com modos bruscos de actor alucinado, entre berros e gargalhadas, disse que as alunas com idades entre os 16 e os 18 anos eram «escravas» e que as ia vender por menos de dez euros cada porque tinha mercado para elas.
O drama das alunas de Chibok chocou o mundo inteiro e desencadeou uma onda de indignação nas redes sociais, exigindo o seu regresso. Figuras mediáticas e anónimas juntaram o seu clamor contra o acto desumano. Manifestações começaram nas ruas de Abuja, a capital da Nigéria, e alargaram-se à escala planetária. As alunas de Chibok foram adoptadas e tornaram-se as meninas de todos, que as querem de volta sãs e salvas.
Os Estados Unidos ofereceram logo ajuda ao Governo nigeriano para encontrar e libertar as reféns, mas levaram uma nega: o secretário norte-americano John Kerry desabafou que o presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, «tinha a sua própria estratégia». Reino Unido, França, China, Gana e Ruanda também ofereceram os seus préstimos e Teerão condenou o acto hediondo. Jonathan acabou por aceitar a colaboração de uma equipa não militar americana.
As 276 estudantes continuavam desaparecidas a meados de Maio. O Boko Haram publicou fotos de algumas vestidas segundo os seus preceitos, que propôs trocar por militantes presos. Testemunhas locais disseram que algumas foram levadas para os vizinhos Chade e Camarões.
O presidente Jonathan anunciou que o rapto que irou o mundo era o princípio do fim do Boko Haram – duas palavras que significam «educação falsa ou ocidental é proibida ou pecado», em língua haúça.
Vozes descontentes com a inacção do exército fizeram notar que o camião com as reféns levou 48 horas de Chibok até à base de Sambira com avarias constantes, mas as forças de segurança não intervieram. A Amnistia Internacional disse que os militares sabiam que o Boko Haram ia atacar Chibok nessa noite, mas tiveram medo de confrontar os combatentes, mais bem armados.
Os militantes islâmicos responderam à indignação universal com outro ataque três semanas depois, tendo levado 11 meninas da aldeia de Warabe, no Estado de Borno, junto aos Camarões.
O exército tem tentado neutralizar o Boko Haram, que em cinco anos já matou mais de 1500 pessoas, mas sem grandes resultados. Os civis são quem normalmente sofrem com as operações militares. Os extremistas islâmicos continuam a receber armas do Sudão, República Centro-Africana, Líbia e República Democrática do Congo que contrabandistas passam através dos Camarões e também têm «casa» no Sul do Chade.
Mohammed Yusuf constituiu o grupo em 2002. Em 2009, começou a luta armada por um Estado baseado na lei islâmica no Norte da Nigéria.
Organizações internacionais pediram ao Governo da Nigéria que reforce a segurança das escolas e repare ou reconstrua imediatamente os edifícios escolares destruídos pelos fundamentalistas muçulmanos. Mas o combate à pobreza é a maneira mais eficaz de anular a base de recrutamento do Boko Haram: a Nigéria produz a fortuna de mais de 2,3 milhões de barris de petróleo por dia, mas quase 112 milhões de pessoas – cerca de 67 por cento da população – vivem abaixo da linha da pobreza.
Sem comentários:
Enviar um comentário