22 de maio de 2014

A MISSÃO TAMBÉM DÓI


Mongoumba é uma missão no coração da selva da República Centro-Africana que faz fronteira com o Congo-Brazzaville e Congo democrático. Está ladeada por dois grandes rios, Lobaye e Oubangui, que desaguam no Rio Congo e que isolam a missão do resto do país. Mas Mongoumba também é uma fronteira missionária, já que é caracterizada por uma realidade de primeira evangelização, no contacto com o povo pigmeu-Aka.

Numa pastoral de proximidade com o povo pigmeu-Aka a nossa ação desenvolve-se sobretudo nas áreas da saúde e educação. Do meu trabalho no âmbito da sensibilização para a saúde faz parte a visita periódica aos acampamentos o que tento fazer sempre que posso, mas não faço com a frequência que gostaria.

Nos últimos meses visitei alguns doentes que habitam em acampamentos próximos, mas a experiencia deixa as suas marcas devido à nossa impotência/incapacidade perante as condições de vida desta gente tão simples que vive e morre tendo como cama duas folhas de palmeira e um pequeno pano para se cobrir. Foi o caso de Telapé e da sua mãe já idosa, ambos doentes em estado grave, regressados ao acampamento depois de algumas semanas passadas na floresta. Fui chamada para os visitar devido à relação próxima de Telapé, com a missão, desde há alguns anos. Antes de partir tinha passado por nossa casa para vender uns pés de bananeira e pedir um pouco de sal. Tentei dissuadi-lo de ir, mas o apelo da floresta sobrepõe-se a tudo!

Fui encontra-los numa pequena cabana construída pelos vizinhos, deitados por terra em cima de duas folhas de palmeira; desidratados, magros e com feridas, algumas de lesões antigas de lepra. Devido ao estado em que se encontravam foi decidido, de acordo com o chefe do acampamento, não os transportar para o hospital. Lavamos e desinfectámos as feridas… deixei alguns medicamentos, soro para hidratação oral e arroz… regressamos a casa pedindo a Deus que não chovesse.

Como tinha ficado combinado voltei passados dois dias. Mal desci do carro vieram dizer-me que o Telapé tinha morrido, mas não, ainda respirava, mas estava agonizante e morreu pouco depois; ao lado a mãe estava um pouco melhor, mas ainda em estado crítico. A família e vizinhos preparavam o hangar para as cerimónias fúnebres…

Vivemos numa realidade dura que não podemos mudar, mas gosto do país, gosto das pessoas, gosto do que faço.

Há dias bons e outros menos bons, por vezes muitas dúvidas quanto a este projeto, de que sou apenas um instrumento no terreno, sou uma convidada a participar nesta missão do Senhor... por isso e tudo o mais dou graças a Deus!
                  Élia Gomes, Leiga Missionária Comboniana na República Centro-Africana

2 comentários:

Paulo disse...

Interessante.

Paulo disse...

Interessante.