22 de setembro de 2025

ELA NÃO DESISTE


Tem olhos vivos e uma energia contagiante. É jovem, tem apenas 21 anos, mãe de duas meninas e grávida da terceira. É uma das líderes mais ativas da sua comunidade beduína, no meio do deserto escaldante da Cisjordânia, na Terra Santa. 

Incerteza. Num território onde a terra é disputada e os direitos são negados, elas persistem, invisíveis, mas indispensáveis.

Escrevemos no grupo do WhatsApp da comunidade:

—Podemos visitá-las hoje?

—A que horas? —respondeu imediatamente.

—Tem consulta médica?

—Não. Venham. Mas, se possível, antes do meio-dia.

E assim foi. 

Chegámos. O sol escalda. Elas estão à nossa espera. Reunidas sob a tenda de lona aberta, onde o vento sopra livremente, misturando poeira e areia. 

Sentámo-nos no chão, como sempre. 

Algumas costuram à máquina, outras bordam, aprendem a fazer bolsinhas, porta-chaves, separadores. Algumas tentam pela primeira vez. Ela, como sempre, orienta-as.

Mesmo com o corpo cansado, não deixa de estar presente.

— Não dói?

— Não muito! — responde, levantando-se com esforço.

— Dói?

— É que já está quase... — responde, com um meio sorriso, como a pedir desculpa por não estar tão atenta como sempre.

Porque geralmente é ela quem organiza, faz as contas, medeia os desacordos. Ela é ponte, bússola, calma. 

Não terminou a escola, embora fosse a melhor da turma. Estudar mais significava ir para Jericó ou Anata, e o pai não deixou. 

Casou-se jovem. Mas nunca deixou de aprender. Nem de liderar.

As suas filhas olham para ela como um farol. A mais nova, de dois anos e meio, é uma centelha de inteligência. 

Sempre limpas, bem vestidas, dignas. Gostam de dançar, participar, perguntar. Como a mãe.

Quando outra comunidade não consegue completar um pedido, ela e as suas respondem. Com precisão, com dedicação. 

Elas aprendem, ensinam, resistem. 

Abrindo caminho. Porque ela não desiste. Porque a vida não desiste. Ela é esta terra: ferida, em parto, resistindo.

Mas por dentro, a vida insiste. A esperança empurra. E nada pode detê-la.

Ir Cecília Sierra,

Missionária Comboniana no Deserto da Judeia

11 de setembro de 2025

DOZE PILARES PASTORAIS


O SECAM – Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar – celebrou a vigésima assembleia plenária em Kigali, a capital do Ruanda, de 30 de Julho a 4 de Agosto sob o tema «Cristo, fonte de esperança, reconciliação e paz: a visão da Igreja-Família de Deus em África para os próximos 25 anos (2025-2050)».

Participaram 13 cardeais, uma centena de bispos e dezenas de padres, religiosas, religiosos e leigos, além de representantes dos parceiros da SECAM e das conferências episcopais da Ásia, América Latina, Europa e Estados Unidos da América. O núncio apostólico no Ruanda também esteve presente. O primeiro-ministro do país anfitrião discursou no plenário. O Papa Leão XIV enviou uma mensagem rogando que a Assembleia Plenária «destaque a importância de promover uma experiência intensa do amor de Deus que desperta nos corações a esperança segura da salvação de Cristo».

O presidente do SECAM, cardeal Fridolin Ambongo, arcebispo de Kinshasa (RD do Congo), afirmou no discurso de abertura que «o período de 2022-2025 destacou a resiliência, o desenvolvimento estratégico e a crescente maturidade eclesial do SECAM». De facto, é na África que a Igreja Católica mais cresce. Os fiéis são 281 milhões, quase um quarto da Igreja universal. O SECAM agrega 540 dioceses, 758 bispos, cerca de 50 mil padres e 80 mil religiosas e religiosos.

Os participantes escreveram no comunicado final que «a Igreja-Família de Deus na África e nas suas ilhas propõe uma visão para os próximos 25 anos, uma visão enraizada em Cristo, nossa Esperança, e estruturada em torno de doze pilares». Que são: evangelização; uma Igreja autossuficiente; família, modelo de liderança; formação sobre discipulado missionário e sinodalidade; cuidado da Criação; juventude e renovação da Igreja; justiça, paz e desenvolvimento integral; ecumenismo e diálogo inter-religioso; missão no espaço digital; a saúde do Povo de Deus; vida litúrgica na Igreja em África; Igreja e política.

O documento abrangente e visionário tem 27 páginas e ignora o ministério da mulher, o pilar basilar da vida e da Igreja em África, embora o mencione aqui e ali. A plenária aprovou ainda seis propostas pastorais de acompanhamento de pessoas em união polígama preparadas por um grupo de teólogos a pedido da primeira sessão do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade.

O padre Don Bosco Onyalla, editor-chefe de aciafrica.org, cobriu o evento para o portal católico de notícias com sede em Nairobi, Quénia. «A variedade de delegados convidados para a Assembleia Plenária proporcionou uma excelente mistura. Embora a Assembleia Plenária fosse para bispos africanos, o facto de a liderança do SECAM ter convidado alguns profissionais, incluindo clérigos, religiosos e religiosas e leigos, refletiu de forma excelente como a Igreja está verdadeiramente constituída», disse à Além-Mar.

A Igreja Católica em África preparou um roteiro excelente para os próximos 25 anos. Agora, parafraseando o poeta andaluz Antonio Machado, o caminho faz-se caminhando!