30 de dezembro de 2007
NATAL
O Natal deste ano foi uma longa celebração.
No dia 24, depois do jantar – um jantar normal – as duas comunidades reunimo-nos na capela para uma hora de oração com alguns amigos. Um momento tranquilo. Fomos guiados por um «powerpoint» que preparei com a Ir. Cecília, a directora da rádio. Acolhemos Jesus, recordámos outros natais em latitudes diferentes, rezamos pelas nossas famílias, pelo Sul do Sudão, pela paz.
Depois da oração, fizemos uma ceia de Natal na casa das irmãs. A Ir. Sandra fez um bolo – é uma óptima doceira –, a Ir. Domenica fez torrão de umas sementes locais, a Ir. Cecilia preparou «piña colada», as outras irmãs prepararam diferentes acepipes. A ceia foi um espaço de convívio e fraternidade. Houve também troca de presentes. O Menino Jesus foi bom para comigo: trouxe-me uma garrafa de tinto alentejano (Vinha do Monte). Como é que ele sabe que eu gosto da «pomada» alentejana?
Depois da ceia fomos à Missa do Galo: à paróquia ou à Sé. Eu fui à Sé com dois irmãos e desfrutei daquela hora e meia de oração comunitária, a meia-luz. Senti-me mesmo bem. Respirava uma serenidade e uma paz indizíveis.
De regresso a casa, encontrámos as ruas de Juba cheias de gente nova, vestidos para a festa, a passear na escuridão. Um fenómeno que também se repete na Páscoa. As as motorizadas a zumbir por todo o lado! Com pequenos choques de permeio.
No dia 25, a Ir. Cecília e eu fomos convidados a participar na festa de Natal da Selma – uma algarvia – e do Marc (australiano). Fomos depois do trabalho – porque a Rádio Bakhita não fecha!!! – e conhecemos gente interessante que trabalha para a ONU ou com ONG.
No dia seguinte, Skye – a correspondente da Reuters – convidou-nos para panquecas. Uma hora bem passada a conversar com novos amigos.
No dia 28 o pessoal da arquidiocese de Juba juntou-se com o arcebispo para o piquenique do Natal.
O sítio – Rejaf – é encantador: um bosque de mangueiras junto ao Nilo Branco.
O piquenique foi uma mistura de convívio, discursos, jogos, almoço…
O arcebispo Paolino Lukudu Loro disse que gostava que o pessoal da arquidiocese se sentisse feliz. Também revelou que o processo de paz que o Sul do Sudão está a viver é um desafio grande para a Igreja: alguns padres, irmãos e irmãs abandonaram o apostolado para trabalharem para o Governo ou organismos humanitários.
No fim do piquenique fez-se a geminação de comunidades – a comunidade gémea dos combonianos é um padre americano Maryknoll que vive do outro lado da rua e que celebra a missa e toma o pequeno almoço connosco – e foram eleitos os amigos do ano. A minha amiga chama-se Ir. Georgina Nyayath e pertence a uma congregação local.
Ah! Descobri que é seguro nadar no Nilo em Rejaf. Um padre que trabalhou na paróquia, disse-me que costumava nadar lá, que os crocodilos não chegam àquela parte. Já tenho onde passar as manhãs de sexta-feira, o meu dia de folga.
Rejaf – uma missão construída pelos combonianos nos anos trinta – fica a 14 quilómetros de Juba na outra margem do Nilo Branco.
25 de dezembro de 2007
EU, MENINA... E ELE
– Que é o Natal? – indagava-me, em silêncio.
Eu, menina, ouvira falar que aquele era o dia em que o Menino Jesus, vinha deixar-nos as prendas... mas como poderia uma criança acabada de nascerfazer isso?
Perguntava-me eu em silêncio... e pensei que nessa noite não iria dormir. Ficaria ali ao relento esperando o Menino Jesus... e os meus presentes...
Até o podia ajudar! Como conseguiria Ele com tantos presentes, sim porque os miúdos são uns chatinhos, a pedir tanta coisa...
E eu, menina, concluía que não deveria ser isso o Natal.
Talvez fosse um dia especial, em que as pessoas abraçassem seus familiares e fossem mais cordiais umas com as outras. Talvez fosse o dia da fraternidade e do perdão.
– Mas, então por quê eu, aqui sentada, não recebo sequer um sorriso, e as pessoas correm apressadas de um lado para o outro, cheias de sacos e saquinhos, embrulhos e embrulhinhos – inquiria-me, perplexa.
– E por que trabalha a polícia no Natal?
E eu, menina, entendia que não devia ser assim...
Imaginava que talvez o Natal fosse um dia mágico em que as pessoas enchiam as igrejas em busca de Deus.
– Então, porque não saem de lá melhores do que entraram? – debatia-me, na ânsia de compreender aquela ocasião enigmática.
Via risos, mas eram gargalhadas que escondiam tanta tristeza e ódio, tanta amargura e sofrimento...
E eu, menina, mergulhada em tão profundas reflexões, vi aproximar-se um homem. Era um belo homem. Não era gordo nem magro, tão alto quanto baixo, nem branco nem preto, nem pardo, amarelo ou vermelho.
Era apenas um homem com olhos cor de ternura e um sorriso em forma de carinho que, numa voz com tom de afago, saudou-me:
– Olá, menina!
– Olá! – respondi, meio tímida. Achava impossível que alguém conseguisse ver-me ali, no meio da correria em que andavam...
E, num quase êxtase de admiração, vi-o acomodar-se a meu lado, na calçada, sob o sol envergonhado.
Eu, menina, na naturalidade de menina, aceitei-o como amigo num olhar. E atirei-lhe a pergunta que me inquietava e entristecia:
– O que é o Natal?
Ele, sorrindo ainda mais, respondeu-me, sereno:
– É o meu aniversário!
– O que dizes? O teu Aniversário? Então e o que andas por aqui a fazer? Porque não estás em casa onde estão os teus familiares?
– Essa – falou-me, apontando a multidão que corria – é a minha família.
Eu, menina, não compreendi.
– Também tu fazes parte da minha família... – acrescentou, aumentando a confusão.
– Não te conheço! – rebati.
– É por que nunca te falaram de mim. Mas eu conheço-te. E amo-te...
Estremeciam-me de emoção aquelas palavras, na minha fragilidade de menina.
– Deves estar triste! – comentei. – Estás só no dia do teu aniversário...
– Neste momento estou contigo! – respondeu-me, meneando a cabeça negativamente.
E conversamos. Uma conversa de poucas palavras, muito silêncio, muitos olhares e um inefável transbordar de sentimentos, naquela prece que fazia arder o coração e a própria alma.
O sol entregou o céu às estrelas.
E conversamos. Eu, menina, e Ele.
E Ele falava-me, e eu amava-o. E eu absorvia-o. E eu sentia-o.
Eu, menina: cordas. Ele: artista. E fez-se a melodia entre nós!...
E eu, menina, sorri...
Quando a noite cedeu vez à madrugada, enquanto piscavam as luzes que adornavam as casas, Ele ergueu-se e pressenti que era a despedida. Suspirava, de alma renovada.
Abracei-o pela cintura, dizendo:
– Toma o meu presente... Feliz aniversário!
Ergueu-me no ar, com seus braços fortes-fracos, tão fortes quanto a paz, e disse-me:
– Presenteia-me compartilhando este abraço com a minha família, que também é tua... Ama-os com respeito. Respeita-os com ternura. Sê terno com carinho. Acaricia-os com justeza. Julga-os com amor... E tem um feliz Natal!
Porque não quisesse vê-lo ir-se embora, saí a correr pela rua. Abandonei-o, levando-o para sempre no mais íntimo do coração. Fui em busca de braços que aceitassem os meus...
E eu, menina, nunca mais o vi. Mas aquele Amigo da noite de Natal: Jesus... ficou sempre o MEU AMIGO!
E eu, menina, sorri...
24 de dezembro de 2007
BOAS FESTAS
O meu amado fala e me diz: «Levanta-te, meu amor, e vem. O tempo de cantar chega. Levanta-te, meu amor, e vem. Mostra-me a tua face, faz-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa.»
Neste Natal Jesus convida-te a ires até Ele, porque és @ seu/sua amad@. Aceita o desafio e vai! Acolhe-o e ama-o no teu próximo!
Feliz Natal cheio da ternura de Deus-Menino.
22 de dezembro de 2007
SUL DO SUDÃO EM NÚMEROS
102 crianças morrem em cada 1000 partos.
13,5 por cento das crianças do Sul do Sudão morrem antes de chagarem aos cinco anos.
2,7 por cento das crianças estão totalmente imunizadas através de vacinas.
32,98 por cento da população sofre de mal nutrição.
2054 mulheres morrem em cada 100 mil partos, a taxa de mortalidade maternal mais elevada do mundo.
Em média cada família está a cerca de 45 minutos de um ponto de água.
13,1 por cento da população tem acesso a água tratada.
16 por cento das crianças frequentam a escola primária e 1,9 por cento completam-na.
16,7 por cento das mulheres casam antes dos 15 anos e 40,7 por cento antes dos 18.
42,4 por centos dos homens são polígamos.
ANGEL CORAZÓN
She does not have wings
but her heart flies
and makes mine fly too
with her inspiration and radiance
in a hug of wonderment and belonging.
I called my Angel Corazón.
I was living aloft
and God sent Corazón
to pull me down
with the gravity of her pro–vocations
and the weight of her suffered wisdom.
We built our holy ground
by the mighty river
and there we share our lives
over a beer.
We have walked hand in hand,
heart in heart,
the path of disclosure and acceptance,
of vulnerability.
My Angel awakened my tenderness,
rekindled my endearment and attention,
warmed up my heart,
brought me peace and self-acceptance.
My Corazón made me present
and available
and I became an Angel too.
I love Corazón,
my guardian Angel and my Sister.
Yet, my Angel is not mine.
She has other hearts to tender
and I am thankful for that too.
Angel Corazón,
is God’s blessing
and his loving gift.
Shukran!
Cheers, Great Mate!
Cheers, Compañera.
Bishoftu - Ethiopia, December 14, 2007
Tahesas 4, 2000 ALH
LEITURAS
Bento XVI apresenta no primeiro volume «Jesus de Nazaré» a sua «busca pessoal pelo rosto do Senhor.»
O Papa escreve que Jesus é importante porque trouxe Deus.
Pegando nas narrativas evangélicas e cruzando-as com outros textos bíblicos através do método de exegese canónica, Bento XVI aborda alguns temas fundamentais da vida de Jesus: baptismo, tentações, Evangelho do Reino de Deus, Sermão da Montanha, o Pai-nosso, discípulos, a mensagem das parábolas, as imagens principais do Evangelho de João, a confissão de Pedro e a transfiguração e finalmente, a identidade de Jesus.
O livro cruza textos, debate opiniões, explora questões relevantes de outros saberes sobre o mistério de Jesus.
Apesar de ser de leitura algo difícil – não é fácil a um teólogo abordar questões de técnicas exegese – a obra é uma reflexão preciosa sobre o Jesus histórico.
Aguarda-se agora o segundo volume que, entre outros assuntos, promete abordar as narrativas da infância de Jesus.
19 de dezembro de 2007
ETIÓPIA
Os 12 dias que passei na Etiópia foram de uma bênção. Revi amigos, revisitei lugares que me dizem muito, descansei, rezei e regressei retemperado.
A primeira impressão ao chegar a Adis Abeba é que a cidade se tornou num enorme estaleiro tantas são as obras de vulto em construção: edifícios, bairros sociais, fábricas, ruas… Uma diferença abissal da realidade que encontrei em 1993. Nessa altura, a capital da Etiópia era uma cidade decrépita feita de zinco enferrujado e com as ruas todas esburacadas.
E o serviço público também melhorou muito. Antes para renovar a carta de condução etíope precisava de uma manhã de guiché em guiché. Era sempre um problema encontrar a pasta com os meus documentos, porque não é fácil transcrever nomes estrangeiros em caracteres amáricos. Agora está tudo informatizado e em meia hora tinha o documento renovado de novo na mão!
O retiro foi uma experiência rica. Durante uma semana os 13 participantes convivemos com os textos de Isaac de Nínive, um monge do século VII.
O tema do retiro foi a luta que cada um de nós trava para viver a vocação cristã e nos transformarmos em epifania do Amor de Deus para quem connosco convive.
A frase que mais me marcou foi a definição de contemplação: não é êxtase mas «instasys», uma jornada ao mais profundo de nós mesmos – onde Deus habita – e não fora de nós. Uma intuiçaõ interessante.
O local do retiro – Galilee Centre – é um lugar especial junto ao lago Babu Gaya, cheio de flores e pássaros exóticos. Aí fez muitos retiros, encontros profundos com a minha realidade pessoal e com outras pessoas – que recordei!
Em Babu Gaya, assisti a um fenómeno curioso: uma manhã muitos peixes nadavam à tona da água de barriga para cima. Foi a bênção para os pescadores de ocasião: apanhavam «tellapia» à mão cheia.
Pensei que alguém detonou alguma carga explosiva no lago para atordoar os peixes. Mas um vizinho explicou que uma vez por ano os peixes vêm à tona por causa do frio!
Uma explicação que não satisfez os meus colegas de natação. Nessa tarde nadei sozinho, porque os três padres e a irmã que me acompanhavam ao banho diário, recearam que tivessem posto algum produto no lago para apanhar os peixes.
O retiro foi também um contacto novo com a tradição litúrgica ortodoxa. No Sul do país – onde trabalhei como missionário durante quase oito anos – usamos a liturgia latina traduzida na língua local. A missa (dia sim dia não) e a oração da tarde eram celebradas no rito etíope em inglês. Uma linguagem bem diferente, colorida e cheia de incenso e de pedidos de perdão pelos pecados.
Como não há desertos sem oásis, duas noites fui beber uma cerveja com uma missionária e um missionário meus amigos. A minha estada era curta e foi a única maneira de celebrarmos a amizade e trocarmos informação sobre o que temos feito.
Em Adis Abeba, participei na festa de 60 anos de vida missionária da Ir. Bona, uma comboniana italiana que se repartiu pelo Líbano, Israel e o povo sidama da Etiópia. Uma mulher cheia de energia – apesar dos 87 anos – e com um sorriso acolhedor.
Ah! Para quem está habituado ao calor e ao pó, na Etiópia fazia bastante frio em Dezembro. Quando cheguei ao aeroporto, às oito da noite, as pessoas vestidas com casacões pesados ficavam a olhar para mim intrigadas porque vinha com uma T-shirt fina e chinelos. Mas não sentia o frio, porque o corpo ainda estava cheio do calor de Juba.
Contudo, a primeira coisa que fiz quando cheguei a Galilee Centre foi ir ao mercado local comprar uma camisola. Como a língua da área pertence à família oromo, desenrasquei-me com o guji que ainda recordo. As pessoas achavam castiço um estrangeiro falar oromo e não saber palavra de amarico – a língua comum na Etiópia.
Agora estou de volta a Juba. Mais descansado e recauchutado para continuar a enfrentar os desafios que o projecto da rádio nos continua a colocar – sobretudo a fidelização dos jornalistas que trabalham comigo!
Mas é mesmo bom estar de volta a casa!
5 de dezembro de 2007
ATÉ JÁ
AMOR | DOR
2 de dezembro de 2007
AMOR
30 de novembro de 2007
Santa Bakhita
Santa Bakhita é um exemplo moderno de esperança e um modelo de encontro com Deus, escreveu o Papa na sua última encíclica.
Bento XVI afirma na carta encíclica «Spe Salvi» - «Na esperança fomos salvos», publicada hoje no Vaticano, que Santa Bakhita é um exemplo contemporâneo de vida cristã.
«Josefina Bakhita, uma africana canonizada pelo Papa João Paulo II [o] exemplo de uma santa da nossa época pode, de certo modo, ajudar-nos a entender o que significa encontrar pela primeira vez e realmente este Deus», escreve o Papa.
Bento XVI faz um breve resumo da vida de Santa Bakhita para explicar como a escrava do Darfur se tornou em santa e exemplo de esperança.
O papa escreve que quando Bakhita foi para Itália, descobriu em Jesus um novo patrão, que a libertou e ela sentiu necessidade de partilhar a sua experiência através de algumas missões em que participou.
«A libertação recebida através do encontro com o Deus de Jesus Cristo, sentia que devia estendê-la, tinha de ser dada também a outros, ao maior número possível de pessoas», explica Bento XVI.
E conclui o Papa: «A esperança, que nascera para ela e a « redimira », não podia guardá-la para si; esta esperança devia chegar a muitos, chegar a todos.»
A encíclica «Spe Salvi» foi publicada hoje em oito línguas: latim, português, inglês, italiano, alemão, espanhol, polaco e francês.
O documento está dividido em 50 parágrafos e tem 40 citações.
«Spe Salvi» é a segunda carta encíclica publicada por Bento XVI. Há dois anos o papa tinha escrito «Deus Charitas Est», Deus é amor.
22 de novembro de 2007
HOSPITAL DO SENHOR
Quando Jesus mediu a minha pressão, verificou que estava em baixa de TERNURA.
Ao medir a temperatura, registrou 40º de EGOISMO.
Fiz um eletrocardiograma e foi diagnosticado que precisava de uma PONTE de AMOR, pois a minha veia estava bloqueada e não estava a abastecer o meu CORAÇÃO VAZIO.
Passei pela ortopedia, pois estava com dificuldade de andar lado a lado com o meu irmão, e não consegui abraçá-lo por ter fracturado o braço ao tropeçar na minha VAIDADE.
Constatou-se Miopia, pois não conseguia enxergar além das APARÊNCIAS.
Queixei-me de não poder ouví-lo e diagnosticou bloqueio em decorrência das PALAVRAS VAZIAS do dia-a-dia.
Obrigado SENHOR, por não me teres cobrado a consulta, pela tua grande MISERICÓRDIA. Prometo, ao sair daqui, somente usar Remédios Naturais, que me indicaste e que estão no receituário do TEU EVANGELHO.
Vou tomar, diariamente, ao levantar, CHÁ DE AGRADECIMENTO; ao chegar ao trabalho vou beber uma colher de sopa de BOM-DIA e, de hora em hora, um comprimido de PACIÊNCIA com um copo de HUMILDADE.
Ao chegar a casa, SENHOR, vou tomar diariamente uma injeção de AMOR e ao deitar duas cápsulas de CONSCIÊNCIA TRANQUILA.
Agindo assim, tenho a certeza que não ficarei mais doente e todos os dias serão de CONFRATERNIZAÇÃO E SOLIDARIEDADE.
Prometo prolongar este tratamento preventivo por toda a minha vida, para que, quando me chamares, que seja por MORTE NATURAL.
Obrigado, Senhor !!!
21 de novembro de 2007
ALTA TEMPERATURA
As PDF são milícias pró-Cartum que praticaram crimes contra civis (massacres e violações em massa) durante a guerra civil que terminou em 2005.
Pagan Amun, Secetário-Geral do Sudan People’s Liberation Movement (SPLM, Movimento de Libertação do Povo do Sudão, no poder no Sul do Sudão) respondeu à letra e disse que o SPLA (as forças armadas do sul) se encontra em mobilização geral e que está 100 vezes mais forte.
O duelo - até agora de palavras - entre os dois parceiros principais do governo de unidade nacional está a atingir proporções assustadoras desde que o SPLM abandonou o Governo Nacional em Outubro como protesto pela não implementação do Acordo Global de Paz (CPA na sigla inlesa).
Desta vez, o pomo da discórdia é o enclave de Abyei. A área, rica em petróleo, devia pertencer ao sul, de acordo com as conclusões da Comissão de Fronteiras de Abyei.
Os árabes não querem largar mão do petróleo de Abyei e de outras zonas de fronteira que continuam a ser ocupadas pelas forças armadas do norte, em violação flagrante do CPA.
15 de novembro de 2007
14 de novembro de 2007
DARFUR
Quatro grupos rebeldes do Darfur e seis indivíduos decidiram unificar-se sob a designação Sudan Liberation Movement/Army.
Na terça-feira, Sudan Liberation Movement/Army, Justice and Equality Movement – Field Revolutionary Command, Democratic Popular Front e Sudanese Revolutionary Front assinaram em Juba a «Carta de Unificação».
Numa nota à imprensa, nove líderes dos quatro grupos signatários dizem que os grupos vão-se unificar sob a designação Sudan Liberation Movement/Army, estabelecer uma comissão especial para iniciar e conduzir o processo de unificação e dissolver todas as organizações existente.
Hoje, seis dirigentes da facção A-Khamis do Sudan Liberation Movement/Army decidiram abandonar todos os seus títulos políticos e militares e unirem-se ao processo de unificação entre os grupos do Darfur a decorrer em Juba, no Sul do Sudão.
«[Nós acreditamos] que na unidade está a nossa força porque a unidade é a base para qualquer actividade política, social, humanitária e de desenvolvimento», os signatários escreveram numa nota distribuída à imprensa esta tarde.
O documento condena «mortes em massa, violações e genocídio perpetrados pelo Governo do National Congress Party dirigido por El-Bashir.»
O processo de unificação de Juba, mediado pelo Movimento de Libertação do Povo do Sul do Sudão (SPLM na sigla inglesa), pretende unir as muitas facções do Darfur antes de as conversações de paz recomeçarem na cidade Líbia de Sirte, em Dezembro.
7 de novembro de 2007
REFRACÇÕES
Era noite! Estava cansada de mais um dia de aulas, estudo, agitação e rotinas. Fiz os deveres, fui ao computador e apressei-me para ir para a cama. Tomei banho, lavei os dentes e vesti-me.
Já na cama, fechei os olhos e rapidamente se apagaram em mim todos os pensamentos.
Entrei num mundo, o meu mundo.
Tudo era claro. Ao longe via um fundo coberto de cores calmas: amarelo, cor-de-rosa bebé, azul bebé, cor-de-laranja.
Existia também uma quantidade infinita de flores e plantas nunca vistas. Talvez fossem plantas imaginárias que criamos no âmbito de uma ilusão!
De repente – e para meu espanto – encontrei uma criança que olhava o céu e em pleno dia dizia ver as estrelas.
Reparei também que estava rodeada de lindas borboletas que pareciam fazê-la voar.
Pensei: mas se este é um sitio meu que faz esta criança de pele clara e com a cara coberta de pintinhas aqui? Depressa afastei este pensamento e desatei a falar com ela. Estranhamente não tive curiosidade de saber quem era. Falámos de sonhos e de medos. Que pensamentos tão controversos, mas que nos elucidaram tanto.
– Fala de ti!, pedi.
– Pouco tenho a falar… Sabes bem que me conheces!
Fiquei intrigada com esta resposta, mas nem liguei muito. Afinal era uma criança e o que me poderia ensinar ela?
Como em sufoco ela diz-me:
– Na verdade estou aqui, porque existem coisas das quais já não te lembras. São passado mas constituem o teu presente e farão parte do teu futuro. Lembras-te do dia em que entraste para a escola e daquilo que sentiste; do orgulho que por tempos tiveste e voltaste a ter pelo teu pai; da alegria que exibiste quando soubeste que ias ter o teu primeiro primo; do que sentiste no primeiro dia no 5.º ano ao conhecer uma das pessoas mais importantes da tua vida; do que sentias de todas as vezes que chegavas a casa e Ela estava à tua espera; do orgulho que exibes pela tua mãe; de quão feliz o teu tio te faz; de quando chamaste pela primeira vez mana àquela que vês como melhor amiga; do dia em que te uniste firmemente à Cátia e à Ana; da leveza que sentes ao ouvir as músicas daqueles que bem conheces e que tanto te identificas; da adrenalina que sentes ao entrar no Estádio; do orgulho, esperança e vontade que sentes perto dos teus novos amigos; de todos aqueles que NOS fazem felizes próxima ou afastadamente…
Foi aqui que a interrompi!
– Nós? Mas afinal quem és tu?
– Eu? Sou a relação entre ti e os teus pensamentos mais puros, que a certo momento te viu sem eira nem beira e decidiu falar-te daquilo que eras, daquilo que era, daquilo que és, daquilo que sou, daquilo que fomos e daquilo que somos. Lembras-te do dia em que conseguiste ver as estrelas?
Foi então que percebi que as crianças são o relógio do mundo e quando já não há rumo possível, elas resolvem o problema acendendo a luz.
3 de novembro de 2007
SKYE
Skye Wheeler é a correspondente da Reuters no Sul do Sudão.
Nasceu no Quénia de um casal inglês.
É formada em filosofia, deu aulas de inglês durante algum tempo nas montanhas Nubas, Sudão, e acabou por se render ao jornalismo.
Skye é a minha jornalista favorita em Juba. Pela dedicação e pelo profissionalismo com que investiga e a escreve as suas histórias. E têm sido muitas distribuídas pela Reuters e pelo portal Gurtong que gere.
Usava uma mobilete para se deslocar, desafiando o pó, os buracos, o calor, a chuva.
Um dia o motor parou, cansado. Comprou uma mota, a mítica «Senke» que é montada a RD Congo e que enxameia as ruas de Juba.
Dois ou três dias depois fomos ao aeroporto cobrir a chegada de dois ministros de uma reunião importante da Etiópia. Durante a conferência de imprensa, roubaram-lhe a «Senke». Teve que gastar mais 700 dólares para comprar outra. Chama-lhe Mula. Uma mula obediente. Caiu algumas vezes com a mobilete, mas tem-se dado bem com a Mula.
Skye e eu somos os únicos jornalistas estrangeiros em Juba. Por isso, estabeleceu-se entre nós alguma cumplicidade que deu origem a uma bonita amizade. Partilhamos informações, contactos, alertas. Quando nos encontramos na cobertura de algum acontecimento, enquanto esperamos costumamos conversar sobre o que vivemos, o que sentimos, o que vimos. E a gente aqui espera mesmo. As conferências de imprensa costumam começar com uma ou mais horas de atraso.
O último encontro do presidente do governo do Sul do Sudão, Gen. Salva Kiir Myardit, com os jornalistas então foi o máximo.
Convocaram-nos para estarmos às 11h00 no ministério da Informação. Quando lá chegámos, disseram que a conferência de imprensa seria às 14h30 no Home and Way, o lugar mais chique de Juba.
Entretanto, um funcionário da presidência apareceu com um aviso público para ser divulgado pela rádio a dizer que a conferência estava marcada para a Assembleia Legislativa. Lá informaram-nos que seria às 17h00, mas que tínhamos que estar sentados no parlamento às 16h30.
Salva Kiir acabou por fazer uma curta declaração eram quase sete da tarde a dizer que o Sul não ia voltar à guerra com o Norte e que a actual crise política se havia de resolver quando os árabes decidissem começar a cumprir à risca o Acordo Compreensivo de Paz.
Estivemos todo o dia «presos» ao presidente para saber que as coisas se mantinham como estavam!
30 de outubro de 2007
WORLD MISSION
O padre José Rebelo, 46 anos, dos Missionários Combonianos, foi premiado esta semana com um dos Catholic Mass Media Awards (Prémio dos média católicos), das Filipinas, atribuído pela fundação com o mesmo nome uma das instituições mais prestigiadas do país. Entre 800 candidatos - um recorde de participação -, incluindo os principais jornais, rádios e televisões do país, a «World Mission», dirigida por José Rebelo, recebeu o prémio de melhor revista.
A publicação imprime actualmente 9500 exemplares e foi fundada em 1989 por um outro português, o padre Manuel Augusto Ferreira, que dirige agora a «Além-Mar», a revista dos combonianos portugueses.
«O prémio reconhece o trabalho feito na remodelação gráfica e de conteúdos da revista», feita nos últimos dois anos, explica José Rebelo ao PÚBLICO. «Em cada número procuramos transmitir a paixão pela missão universal que nos anima. As Filipinas, apesar de ser um país considerado católico, ainda não se rendeu à ideia de missão além-fronteiras. Tudo é visto em chave caseira.» Daí que o galardão seja sobretudo «importante na medida em que pode abrir algumas portas e facilitar a tarefa de divulgação da revista.»
José Rebelo esteve já como missionário no Traansval entre 1991 e 96, antes de regressar a Portugal para dirigir a «Além-Mar», até 2004 (distinguida com o prémio dos Direitos Humanos sob a sua direcção). Em 2005 foi para director da «World Mission».
Manuel Augusto Ferreira disse ao PÚBLICO que o galardão é um «reconhecimento do lugar e da importância que a «World Mission» conquistou no contexto da Igreja Católica na Ásia". E acrescenta: «Não obstante as dificuldades, afirmou-se como uma revista missionária de qualidade nas Filipinas e noutros ambientes eclesiais asiáticos de língua inglesa.»
23 de outubro de 2007
CHEGADA II
Em menos de uma semana a redacção da Rádio Bakhita ficou vazia. O editor-adjunto desapareceu sem deixar rasto. Depois, o segundo jornalista trocou a caça das notícias por um curso de contabilidade numa universalidade ugandesa. O terceiro, um estagiário, termina o contrato no fim do mês. É boa pessoa, generoso e cheio de boa vontade, mas não foi «talhado» para jornalista.
Resultado: dez meses depois de ter chegado a Juba volto à estaca zero. Melhor: à estaca um porque safa-se um jornalista partilhado com o «Juba Post» que começou a trabalhar esta semana. Tem muitas dificuldades com o formato radiofónico e com os programas de tratamento de som. Mas há-de vingar.
Esta sucessão de perdas provocou em mim um sentimento de impotência muito forte. Pela primeira vez na vida sinto que não tenho nenhum controlo sobre o que estou a fazer.
A irmã com quem trabalho foi expressiva: «Joe, bem-vindo! Finalmente chegaste ao Sudão. Podes começar!»
O comentário pode parecer surrealista, mas tem alguma verdade: tenho vivido no Sudão com os afectos na Etiópia. Agora que bati fundo – e à custa de lágrimas – finalmente aterrei! Sinto que pertenço aqui!
Outra irmã tentou consolar-me: «Não te preocupes: O Sudão é assim. Não há fidelidades. As pessoas habitaram-se a sobreviver.»
Mas custa aceitar que o tempo, a energia e os afectos investidos nestes três colaboradores – e em mais três sou quatro que entretanto ficaram pelo caminho – acabe assim! É a vida no Sudão.
É também o meu segundo começo. Um recomeço com mais humanismo e menos profissionalismo.
21 de outubro de 2007
MISSÕES
[…]"Todas as Igrejas para o mundo inteiro": é este o tema escolhido para o próximo Dia Missionário Mundial. Ele convida as Igrejas locais de cada Continente a uma partilhada consciência sobre a urgente necessidade de relançar a acção missionária perante os numerosos e graves desafios do nosso tempo.
[…]Queridos irmãos e irmãs, o mandato missionário confiado por Cristo aos Apóstolos diz respeito verdadeiramente a todos nós. O Dia Missionário Mundial seja portanto ocasião propícia para tomar mais profunda consciência e para elaborar juntos itinerários espirituais e formativos apropriados que favoreçam a cooperação entre as Igrejas e a preparação de novos missionários para a difusão do Evangelho neste nosso tempo. Contudo não esqueçamos que o primeiro e prioritário contributo, que somos chamados a oferecer à acção missionária da Igreja, é a oração.»
19 de outubro de 2007
LEITURAS
De Francisco Moita Flores tinha lido alguma ficção policial avulso publicada não me recordo bem em que semanário.
Ofereceram-me «A Fúria das Vinhas» (Casa das Letras 2007) durante a minha estada em Portugal. Comecei a ler o livro com bastante expectativas e não fui ludibriado.
O romance conta a história de uma mulher impar num mundo de homens. Antónia Adelaide Ferreira é um mito nos anais do vinho do porto – na minha terra chamamos-lhe vinho fino.
Moita Flores consegue pôr em texto não só a vida da Ferreirinha como os falares, os creres e os viveres do Alto Douro.
A escrita de Moita Flores é rectilínea, mas também prenhe de emoção e surpresas. Pinta quadros espectaculares com palavras sóbrias. As palavras necessárias.
Nasci e vivi a primeira dúzia de anos no Douro-Sul e partilho desse caldo cultural único. O Douro é um espaço telúrico especial, uma linha de vida e de morte única. Agora está domado, triste. Mas é e será Ó meu rio Douro / Douro dourado / És tão formoso / E és tão amado.
«O Douro era o ventre materno que a aconchegava no colo quando sofria ou era feliz. D. Antónia sabia. Ninguém é feliz para sempre. A felicidade é uma pontuação, não é uma frase. E só a pode sentir no auge das emoções quem sofreu intensamente. A sua vida, a vida de todos os mortais, era feita desta transitoriedade onde o único valor absoluto é a morte» (pag. 84).
15 de outubro de 2007
CRISE SPLM-NCP
O presidente do Governo do Sul do Sudão disse ontem que o recurso à guerra não é solução para o diferendo que opões o Movimento de Libertação do Povo do Sudão (SPLM) e o Partido do Congresso Nacional (NCP).
Salva Kiir Myardit assegurou aos fiéis que foram à missa das 11 na catedral de Juba que o regresso à guerra está fora de questão.
Os dois parceiros assinaram o Acordo Global de Paz (CPA) em 2005 para pôr termo a uma guerra civil de 21 anos que matou mais de dois milhões e deslocou mais de quatro milhões de sudaneses do Sul.
O SPLM retirou quinta-feira os seus ministros e conselheiros do Governo de Unidade Nacional para forçar o NCP a cumprir o CPA.
Entre os protocolos em atraso encontram-se a demarcação da fronteira entre o norte e o sul, a retirada das tropas sudanesas do Sul, Abyei, transparência na partilha dos proventos do petróleo e a mudança de alguns ministros do SPLM no Governo de Unidade Nacional.
Salva Kiir defendeu que a retirada temporária do Governo de Unidade Nacional foi o gesto certo no momento certo.
O CPA previa que a fronteira entre o norte e o sul do Sudão fosse demarcada durante os primeiros seis meses de 2005. Mas o NCP não aceita as proposta da comissão especial para o efeito devido aos poços de petróleo que ficariam a sul da fronteira de 1 de Janeiro de 1956.
Sem fronteira não pode haver recenseamento – previsto para Fevereiro de 2008, eleições gerais em 2008 e o referendo para a autodeterminação do Sul em 2011.
E sem fronteira não pode haver uma partilha transparente dos lucros do petróleo porque não se sabe os poços que ficam no sul e os que ficam no norte – como explicou o Presidente Kiir.
13 de outubro de 2007
FÁTIMA
O templo, dedicado ontem pelo Secretário de Estado do Vaticano, tem espaço para sentar 9000 fiéis e custou 60 milhões de Euros.
A Basílica da Santíssima Trindade é a quarta maior igreja do mundo depois das basílicas de Yamoussoukro, na Costa do Marfim, de São Pedro, no Vaticano, e da Aparecida, no Brasil.
O templo oval branco foi projectado pelo arquitecto grego Alexandros Tombazis. Tem 13 portas.
12 de outubro de 2007
RETIRADA
Pagam Amun, secretário-gerral do SPLM, divulgou a decisão ontem em Juba no final d uma semana de reuniões do Bureau Político Interino do movimento.
A retirada dos membros do SPLM do Governo de Unidade Nacional é um acto de pressão do movimento que governa o Sul do Sudão sobre o Partido Nacional do Congresso, parceiro no governo nacional, a quem acusa de não cumprir o Acordo Global de Paz (CPA).
O secretário-geral citou uma longa lista de razões para a decisão do Bureau . A demora da demarcação da fronteira norte-sul, a falta de transparência na partilha dos proveitos do petróleo e a não retirada das forças armadas do Sudão das áreas petrolíferas são algumas das falhas na implementação do CPA.
O Governo de Unidade Nacional foi estabelecido depois da assinatura do CPA, em 9 de Janeiro de 2005. Os parceiros seniores são o Partido do Congresso e o SPLM.
5 de outubro de 2007
4 de outubro de 2007
VIVÊNCIAS
Foi em Março, mais precisamente no vigésimo segundo dia do mês do ano transacto.
A aventura começou bem cedo, logo pela manhã. Estava muito ansiosa se bem que receosa. Uma das minhas preocupações era o facto de ter teste de matemática no dia seguinte. Mas tinha prometido a mim mesma que iria estar no jogo de consciência tranquila com todos os conteúdos estudados. A manhã passou rápida e o grande obstáculo passou a ser a tarde que por mim esperava. Tinha de estudar era certo, mas de meia em meia hora invadiam-me sensações de ansiedade. Era inevitável!
O jogo estava marcado para as 20h45. Portanto, saí de casa por volta das 18h30. Ia ter com uma amiga a Matosinhos, e depois seguiríamos para a Casa da Música onde ao nosso grupo se juntaria mais uma amiga. Já no metro iam-se ouvindo comentários acerca do jogo: uns diziam que perderíamos e outros que ganharíamos. Mas eu tinha a plena consciência de um bom jogo. Pelo menos era aquilo que eu queria pensar!
Foi no Estádio do Dragão que a minha ansiedade terminou. Talvez devido ao pensamento de “missão cumprida”: estava lá e tinha estudado, tudo corria bem.
Às 20h45 soa o apito do árbitro, o jogo começa e o coração bate de uma maneira diferente. Ao fim de 45 minutos de “sofrimento” a primeira parte termina, sem golos e com um nervoso miudinho!
Depois do intervalo, o jogo recomeça. Foi a partir daqui que tudo aconteceu, tanto de mau como de bom.
A 10 minutos do fim da partida surgiu o golo do Sporting. Para mim o mundo desabou. O sentimento de querer ver um bom espectáculo esgotou-se. As minhas lágrimas caíam desalmadamente. A única coisa que queria era que o treinador se ausentasse. Eu sabia que a culpa não era dele, mas sentia necessidade de atribuir culpa a alguém!
Por sorte, minutos depois o golo do FCPorto surge pelos pés de Benny McCarthy. A esperança voltou. Limpei a cara e aplaudi com todas as minhas forças. Estava de novo no auge da minha felicidade.
Os 90 minutos de jogo terminam empatados e era inevitável irmos a prolongamento. Nesse momento eu e as minhas amigas decidimos ir para mais perto dos jogadores e treinadores, visto que nos conheciam.
Após o prolongamento de 15+15 minutos, o jogo é decidido pela chamada “morte súbita”, os temidos penaltis.
O primeiro marcador do lance foi o sportinguista João Moutinho. Bem, aqui o jogo para mim acabou! Sim, porque o penalti foi defendido pelo guarda-redes portista.
O calendário marcava o início da Primavera. Chovia torrencialmente e estava um frio de rachar. Portanto, além do melhor jogo da minha vida, foi também a maior molha!
2 de outubro de 2007
ANCIÃOS
Graça Machel, de Moçambique, Arcebispo Desdmind Tutu, da África do Sul, Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA, e Lakhdar Boahimi, da Argélia, aterraram em Juba esta manhã vindos de Cartum.
A delegação dos Anciãos passou pelo mausoléu de John Garang, o primeiro presidente do Sul do Sudão. Um momento emotivo para mama Rebecca Garang e Graça Machel selada num abraço sentido. As duas mulheres perderam os respectivos maridos em desastres aéreos.
O Arcebispo Tutu fez uma oração pelo descanso eterno do fundador do SPLA.
A delegação foi depois recebida pelo presidente do Governo Autónomo do Sul do Sudão.
Salva Kiir Mayardit fez o ponto da situação sobre o cumprimento do Acordo Global de Paz, assinado entre o SPLA e o Governo de Cartum.
O CPA – como o acordo é referido em inglês – assinado a 9 de Janeiro de 2005, pôs termo a 21 anos de guerra que fez mais de dois milhões de mortos e quatro milhões de deslocados.
O general Salva Kiir apontou a demarcação da fronteira entre o Norte e o Sul do Sudão como o mais urgente a resolver. Depois o SPLM e o Partido Nacional do Congresso podem discutir o recenseamento agendado para Fevereiro de 2008, as eleições gerais em 2008 e o referendo sobre autodeterminação em 2011 bem como a partilha dos proventos do petróleo.
O Presidente do Sul do Sudão falou sobre a situação do Darfur e o processo de paz para o Norte do Uganda.
O vice-presidente do Governo do Sul do Sudão medeia as negociações em Juba desde Julho do ano passado entre o governo ugandês e o Exército de Resistência do Senhor, LRA em inglês.
O Arcebispo Tutu, falando em nome da delegação dos Anciãos, classificou o encontro com o Governo de muito bom.
O arcebispo Nobel da paz elogiou o Governo do Sul do Sudão pelo sucesso das negociações com o LRA.
Tutu disse ainda que o CPA tem que ser implementado. Pegando nas palavras de Graça Machel, disse que é crucial que o Sudão seja bem sucedido no processo de paz. Caso contrário, afectará toda a região.
O Sudão, maior país africano, faz fronteira com nove vizinhos.
Depois do encontro com o Governo do Sul do Sudão, a delegação de anciãos reuniu-se com Andrew Natsios, enviado especial dos Estados Unidos para o Sudão.
A delegação de anciãos partiu ao início da tarde para o Darfur.
The Elders foi estabelecido por Nelson Mandela em Julho durante o seu 89º aniversário.
Integra 18 personalidades de renome mundial empenhadas em ser uma palavra pela globalização da paz.
28 de setembro de 2007
LEITURAS
«The No.1 Ladies’ Detective Agency» conta a vida e os pensamentos de Mma Ramotswe, a única detective privada em todo o Botsuana.
Precious Ramotwse não segue à risca os livros sobre detectives privados, mas acaba por resolver os mistérios dos seus clientes de formas pouco convencionais desafiando perigos e confiando na sua intuição perspicaz. Um livro a transbordar de ternura pelo Botsuana e pela África escrito por Alexander McCall Smith, um especialista em legislação médica que nasceu no Zimbabué e vive na Escócia.
«She was a good detective, and a good woman. A good woman in a good country, one might say. She loved her country, Botswana, which is a place of peace, and she loved Africa, for all its trials. I am not ashamed to be called an African patriot, said Mma Ramotswe. I love all the people whom God made, but I especially know how to love the people who live in this place. They are my people, my brothers and sisters. It is my duty to serve the mysteries in their lives. That is what I am called to do» (pag. 2).
25 de setembro de 2007
COUVES
Vai daí, decidiu plantar couves nos buracos... e agradecer ao presidente.
Nunca a frase: «atirou com o carro para as couves» fez tanto sentido...
23 de setembro de 2007
MISSA NA CATEDRAL
Estava com algum nervoso miudinho, confesso.
Por um lado, em 20 anos de padre nunca tinha usado o turíbulo, excepto para incensar o Evangelho. Ao pequeno-almoço pedi algumas dicas ao provincial. Homem prático, disse que se me enganasse ninguém daria conta!
Depois, no primeiro banco – sofá é mais correcto – estava sentado o Presidente do Governo do Sul do Sudão o que dá algum «peso» ao ambiente. Apesar de o senhor ser super-simpático e levantar-se para cumprimentar outros fiéis no momento da paz.
Finalmente, fazer uma homilia em inglês é mais complicado que em português. E logo hoje que o Evangelho falava de corrupção – um tema bem quente nesta latitude.
Mas tudo correu bem e estou disposto a repetir a experiência se e quando me convidarem! Na cidade há muitos padres a viver e todos presidem à vez à missa na catedral em rotação.
No fim da missa o presidente Salva Kiir dirigiu uma mensagem aos presentes sobre os últimos acontecimentos no Sudão: o boato da sua morte há 15 dias, o cerco dos militares do norte a um pequeno grupo de soldados do Sul, a revista da polícia às sedes do SPLM em Cartum.
O Gen. Kiir diz que isto são provocações dos inimigos da paz. E ele tem o dever de garantir aos sulistas a possibilidade de escolherem em 2011 entre a independência ou autonomia em relação a Cartum através de um referendo.
Uma mensagem conciliatória que também abordou a questão da segurança dos negociantes ugandeses. Desde Janeiro que mais de duas dezenas foram mortos no Sul do Sudão por contendas por causa de negócios ou pela polícia como aconteceu recentemente. As forças da ordem estavam a dar um enxerto de porrada a um jovem ugandês que estava a ser preso, o n.º dois da associação de ugandeses em Juba interveio a pedir que não maltratassem o preso e um polícia esfaqueou-o.
22 de setembro de 2007
SORRISO
Sorriso negro
criança,
alegria repetida
cada sol
olhar brilhante
meiguice,
esperança de momento
prolongada.
Menino da ilha
sonhada,
sorriso negro
de vida!
António Bondoso em «Tons Dispersos»
19 de setembro de 2007
EDUCAÇÃO
Um dos aprendizes de repórter escreveu numa peça para o noticiário da Rádio Bakhita que o Ministro da Educação do Estado de Central Equatória protestou por o Governo do Sul do Sudão ter-lhe reduzido o orçamento de 75 para 62 por cento.
Pedi ao camarada a gravação do discurso do ministro durante as celebrações do Dia Mundial da Alfabetização e confirmei o que já sabia: que a educação passou de 7,5 por cento do orçamento de 2007 para 6,2 do de 2008.
Lá lhe tive que explicar a diferença que uma vírgula faz nas percentagens – e que para a próxima prestasse mais atenção aos números, porque o que ele fez foi um erro de palmatória.
Dava mesmo jeito que o Ministéria da Educação tivesse a fatia de leão do orçamento para o Sul do Sudão – em vez do exército que leva 40 por cento das massas.
É que o Sul do Sudão detém uma das taxas mais altas de analfabetismo devido a meio século de guerra.
Oitenta e cinco por cento da população não sabe ler nem escrever. Entre as forças armadas a cifra sobe para 90 por cento. No tocante ao género feminino, 92 por cento das mulheres são iletradas.
Era bom de mais se o Governo do Sul do Sudão fizesse um investimento massivo na educação para baixa o índice de analfabetismo para 55 por cento em três anos - como diz.
O que acontece é que o dinheiro para o sector é cada vez menor e há muitos professores com salários em atraso e outros expulsos por protestarem o corte de 26 por cento dos seus salários «para o desenvolvimento local».
18 de setembro de 2007
CRIANÇAS-SOLDADOS
O Secretário-Geral da ONU escreveu num relatório sobre crianças e conflitos armados no Sudão que as forças armadas, a polícia e uma dúzia de grupos armados violaram os direitos das crianças de Junho de 2006 a Junho de 2007.
Ban Ki-moon diz que no Darfur as forças armadas e pelo menos sete grupos rebeldes recrutam e usam crianças no conflito. Algumas crianças participaram em combates contra rebeldes durante os últimos três anos.
Durante o período coberto pelo relatório, há confirmação de 62 crianças mortas em combate no Oeste do Sudão.
No Darfur «as violações estão generalizadas e são usadas como arma de guerra», Ki-moon escreveu.
O secretário-geral da ONU condenou ataques da Força Aérea a escolas no Darfur e pediu às partes envolvidas no conflito que respeitem os direitos das crianças.
17 de setembro de 2007
LEITURAS
«The Mission Song», de John le Carré, é um retrato do drama que o Leste da DR Congo tem vivido nas últimas décadas.
Abençoada – e amaldiçoada – com jazidas importantes de diamantes, tântalo, petróleo e outros minerais valiosos, a área tem sido palco de guerras constantes para pilhar as suas riquezas naturais. Uganda e Ruanda são reincidentes!
Com o fim da Guerra-fria, John le Carré voltou-se para temas mais significativos que as acções de espionagem em torno da União Soviética.
Depois de escrever «O Jardineiro Fiel» sobre testes ilegais de medicamentos novos em África, Le Carré com o romance «The Mission Song» aborda o drama da delapidação e morte constantes a que a província de Kivu tem sido votada.
Outros temas colaterais do romace mais recente de David John Moor Cornwell são o amor, jornalismo sensacionalista, racismo, sociedades muiti-culturais, ajuda internacional, segredos de estado … tudo misturado com espionagem, o ingrediente-base das receitas litrárias do novelista inglês.
Uma história de corrupção e morte contada através de Salvo, filho de um missionário irlandês e de uma congolesa, e tradutor-especialista em muitas das línguas faladas no ex-Zaire que se vê envolvido acidentalmente em mais um grande esquema de pilhagem do seu amado Kivu.
Obrigado, Manel Giraldes, por me teres recomendado esta estória surpreendente de denúncia da corrupção.
15 de setembro de 2007
GONDOKORO
Trata-se de um lugar especial para a Igreja católica. Foi em Gondokoro que os primeiros missionários se estabeleceram no século XIX. Um deles, Ângelo Vinco, repousa algures na ponta norte.
No passado, os agricultores trabalhavam a ilha e habitavam na margem direita do Nilo. A ilha durante as cheias é parcialmente inundada, o que a torna muito fértil.
Os rebeldes do Norte do Uganda começaram a chegar às portas de Juba e os agricultores de Gondokoro refugiaram-se na ilha.
A paróquia de S. José construiu lá uma capela dedicada à Exaltação da Santa Cruz. A festa foi ontem e um colega e eu aceitamos o convite de estar presentes na missa.
O pároco alugou uma lancha de metal para levar o grupo de convidados para Gondokoro: o vigário-geral, algumas irmãs, padres, catequistas, acólitos.
A viagem – um autêntico cruzeiro – demorou quase uma hora. Deu para apreciar as flores lindas e os pássaros coloridos e até dois crocodilos jovens em plano banho de sol matinal.
O motor fora de bordo parou por três vezes. O rio anda cheio de lixo e a hélice de vez em quando ficava presa. Uma sensação esquisita sentir a embarcação à deriva na corrente do grande rio enquanto o piloto tentava resolver a situação.
Quando aportámos, um grupo de cristãos recebeu-nos com cânticos e grinaldas de flores para o pároco e para o vigário-geral.
Seguiu-se a eucaristia debaixo de frondosas mangueiras. O coro esteve à altura e a assembleia participava activamente cantando e dançando. Muito mais mexida que as comunidades da cidade que deixam as despesas da animação ao coro.
A festa continuou depois da missa. O meu colega e eu, contudo, tivemos que regressar a Juba para pôr no ar a homilia do vigário-geral.
A lancha vinha mais tarde. Por isso, tivemos que apanhar boleia de motorizada até ao ponto onde pequenas canoas de madeira ligam a ilha à cidade na parte mais estreita do canal do rio. A viagem de «boda-boda» - como aqui chamam às motorizadas-taxi - foi uma experiência radical. Os caminhos da ilha são estreitos e ladeados por capim alto. O piloto era perito o evitar motorizadas, bicicletas, pessoas e animais que disputam os estreitos sendeiros. Uma pequena cabra foi demasiado lenta e ficou a mancar da pancada que apanhou.
O mais impressionante era rodar junto ao rio, num caminho meio comido pelas águas, ou debaixo das mangueiras com ramos a rasar as cabeças… Vinte minutos de grandes emoções! Mas queremos voltar à ilha para descobrirmos a campa do nosso antepassado na missão.
12 de setembro de 2007
TENSÃO
No domingo, rumores em Cartum e em Juba davam o presidente do Governo do Sul do Sudão, Salva Kiir, como morto num acidente aéreo.
O Presidente Kiir teve que fazer «prova de vida» para acalmar a população. Ao fim do dia andou a circular pelas ruas de Juba numa caravana fortemente guardada pela segurança pessoal e militar. À noite, foi à TV dizer que estava vivo e que os autores dos rumores são inimigos da paz.
Na segunda-feira, Salva Kiir inaugurou a segunda sessão da Assembleia Legislativa do Sul do Sudão com um discurso contundente.
«Estou preocupado porque pode ser que o Sudão poderá reverter para a guerra se não actuarmos agora com o nosso parceiro NCP», alertou o Presidente Kiir .
O NCP, Partido do Congresso Nacional, é parceiro do SPLM, o Movimento de Libertação do Povo Sudanês, no Governo de Unidade Nacional. O NCP é também responsável por todos os atrasos no cumprimento do CPA; o Acordo Global de Paz, assinado entre os líderes dos dois partidos a 9 de Janeiro de 2005 em Naivasha, Quénia.
Segundo o CPA, a linha que divide o Norte do Sul do Sudão já devia estar marcada, as tropas sudanesas deviam ter deixado o território do Sul e o recenseamento concluído. Até agora nada disto aconteceu.
Finalmente, ontem a polícia sudanesa assaltou e passou a pente fino os vários escritórios do SPLM em Cartum. As forças da ordem disseram que o exercício se integrava numa busca de armas por toda a cidade.
Os alarmes começam a soar. Há analistas que defendem que o dinheiro que o Governo do Sul do Sudão destina às suas forças armadas - 40 por cento do orçamento - não chega. É necessário mais dinheiro para a tropa nem que seja à custa dos serviços e do desenvolvimento, dizem.
11 de setembro de 2007
ANO 2000
A Etiópia prepara-se para receber o ano 2000 do seu calendário com pompa e circunstância.
O novo milénio começa amanhã às 6h00 da manhã.
Para assinalar o evento o Governo organizou o Festival do Milénio, uma mega-celebração que se estende a todo o país.
O palco das celebrações é a Sala de Concertos do Milénio onde vai decorrer um espectáculo durante toda a noite de hoje. A estrutura, junto ao aeroporto, leva 20 mil pessoas. Custou 10 milhões de dólares e daqui a meio ano vem abaixo.
Quem não conseguir entrar na sala, pode seguir o festival através de 15 ecrãs gigantes importados da China por 11 milhões de dólares. Onze ecrãs foram distribuídos pelas cidades mais importantes do país e os restantes quatro foram montados em Adis-Abeba.
A companhia eléctrica quis associar-se à festa e colocou 48 mil lâmpadas coloridas nas ruas da capital.
A Telecom etíope aproveitou a ocasião para disponibilizar 1.2 milhões de cartões SIM para telemóveis.
A Etiópia tem quase 77 milhões de habitantes segundo as estimativas de «The World Fact Book» editado pela CIA. É o segundo país mais populoso da África depois da Nigéria.
A nação etíope ocupa a posição número 170 no Índice de Desenvolvimento Humano. A tabela tem 177 países e é preparada todos os anos pelo Programa de Desenvolvimento da ONU.
O país celebra amanhã o ano 2000 porque segue o calendário Juliano, que foi substituído em 1582 pelo calendário Gregoriano.
O ano etíope tem 13 meses: 12 meses de 30 dias cada e um de cinco dias - ou seis se o ano é bissexto!
O dia etíope começa a ser contado às seis da manhã.
Feliz Ano Novo! Feliz Milénio, amigos!
9 de setembro de 2007
APRISIONADA
que o que me prende
Me libertará
Passos errantes
De um estado
Aprisionado
pelas cordas da loucura
Quando o mundo gira
E eu fico quieta
Prisioneira
De mim
Esperando
Na quietude
No silêncio que escorre
Que se propaga
Nas planícies invisíveis
Que se desprendem
Enquanto
o mundo avança
Sem mim
6 de setembro de 2007
DARFUR
O Secretário-Geral das Nações Unidas disse ontem que estava «chocado e humilhado» depois da visita a um campo de refugiados perto de El Fasher, capital do Norte do Darfur.
Ban Ki-moon prometeu acelerar os esforços para trazer paz à região dilacerada pela guerra.
«Temos que trazer paz e desenvolvimento. Temos que proteger os direitos humanos. Temos que vos ajudar a todos a regressar às vossas casas e terras», Ban disse à multidão junta a um depósito de água no campo de deslocados.
De manhã, Ki-moon encontrou-se com uma delegação de deslocados internos em El-Fasher. Um grupo de mulheres tentou interromper o encontro gritando slogans em árabe contra a ONU no que parece ter sido uma manifestação orquestrada.
O chefe da ONU encontra-se hoje com o Presidente Al Bashir e com uma delegação parlamentar para discutir o processo de paz para o Darfur e no Sudão em geral.
5 de setembro de 2007
DARFUR
O Secretário-Geral das Nações Unidas encontra-se hoje no Darfur com três planos de acção: estabelecimento da força de paz, recomeço das conversações de paz e desenvolvimento e gestão de recursos naturais.
Ban Ki-moon revelou o seu projecto para pôr termo ao genocídio do Darfur num discurso proferido ontem à tarde na Universidade de Juba, no Sul do Sudão, durante a visita de um dia que fez à cidade.
O Secretário-Geral classificou a força conjunta das Nações Unidas e da União Africana uma das missões de paz mais importante da ONU.
A UNAMID representa o compromisso da comunidade internacional para contribuir para a paz no Darfur, disse o chefe das Nações Unidas. É também o primeiro passo para parar com o conflito na região.
Ban Ki-moon sublinhou que o conflito não tem solução militar e que as partes envolvidas têm que voltar às conversações para chegarem a uma solução política através de um acordo de paz.
«Eu quero ver-nos a começar uma nova e conclusiva ronda de negociações de paz o mais cedo possível, provavelmente em Outubro», Ki-moon disse.
Finalmente, a paz no Darfur passa pelo desenvolvimento e gestão dos recursos naturais.
«Qualquer solução real para os problemas do Darfur exige um desenvolvimento económico sustentado», sublinhou o chefe da ONU.A falta de água é uma das razões para o agravamento da situação no Darfur.
3 de setembro de 2007
2 de setembro de 2007
Darfur
A SITUAÇÃO PIORA
A situação humanitária do Darfur está a deteriorar-se cada vez mais com o aumento de deslocados, da violência contra agentes humanitários e dos casos mal nutrição.
O alerta foi lançado dia 31 de Agosto por Margareta Wahlström, coordenadora substituta do Auxílio de Emergência da ONU.
De 1 de Junho a 21 de Agosto, 55 mil pessoas foram obrigadas a deixar as suas aldeias. O total de deslocados desde Janeiro, no Darfur, já passou os 250 mil.
Por outro lado, dos 6,4 milhões que vivem no Darfur, 2,2 milhões são deslocados ou refugiados no Chade e quarto milhões dependem da assistência humanitária para sobreviverem.
Os ataques contra agentes humanitários aumentaram em 150 por cento, incluindo rapto de veículos, ataques a colunas de ajuda e outros actos de violência.
Margareta Wahlström disse ainda que os casos de mal nutrição ultrapassam os 17 por cento da população.
Ban Ki-moon chega amanhã ao Sudão para uma visita de cinco dias que o vai levar também ao Chade e à Líbia.
O Secretário Geral da ONU disse que quer ver por ele próprio o sofrimento dos povos do Darfur e as condições em que a força híbrida de paz da ONU e da União Africana vai operar.
1 de setembro de 2007
Solidariedade
África é a grande casa da solidariedade. Neste continente marcado por guerras e calamidades, ninguém se considera tão pobre que não tenha absolutamente nada para partilhar. Nem que seja uma mão cheia de tempo!
Há sempre lugar para mais um à volta da refeição frugal.
Há sempre lugar para mais um na cabana já à pinha pela família numerosa e pelos animais domésticos.
O Sul do Sudão onde trabalho vive uma onda histórica de acolhimento e solidariedade.
Vinte e um anos de guerra fizeram mais de dois milhões de mortos e quatro milhões de deslocados.
A paz chegou há dois anos. E com a paz o regresso. De acolhimento dos milhares de retornados que chegam em camiões, em barcaças Nilo abaixo, de avião.
Os deslocados internos e os refugiados regressam aos milhares e as suas comunidades de origem abrem alas e fazem festa. Festa genuína.
O ACNUR e parceiros dão um cabaz a cada família para os primeiros três meses. Mas são as gentes locais que dão a mão na construção do tukul, que há-de ser melhorado com o tempo. E ajudam a desbravar os matos para preparar campos.
No Darfur também era assim: pastores árabes e agricultores negros partilharam durante centenas de anos os escassos recursos naturais: água e pastagens.
Até que chegaram os senhores da guerra, os janjauid, nas asas dos cavalos e dos camelos e varreram o oeste sudanês a balas e fogo.
A boa vizinhança deu lugar ao genocídio: duzentos mil mortos, mais de dois milhões de deslocados, quatro milhões dependentes de ajuda externa, milhares de mulheres violadas…
A África é a casa da solidariedade porque é uma imensa família alargada. Desfigurada por doenças estranhas, genocídios, conflitos.
Mas também resgatada por sorrisos que acolhem, mãos abertas, corações em festa que recebem o hóspede como dom de Deus através de uma liturgia feita de gestos solidários, de partilhas e de afectos de quem se sente irmão, irmã.
E com aguardente e cerveja caseiras a rodos! Pois claro.
30 de agosto de 2007
Portugal 1 – Espanha 0
- Qual é o tamanho da sua herdade? - pergunta o espanhol.
- Para os padrões portugueses, o meu monte tem um tamanho razoável: trezentos hectares. E a sua?
- Olha, eu saio de casa de manhã, entro no jipe e ao meio-dia ainda não percorri metade da minha propriedade.
- Eu sei o que isso é - diz o português. Eu·também já tive um jipe espanhol. São uma porcaria! Só dão chatices!
CHINESES
Os Chineses estão a apostar forte em Juba. Os balões vermelhos para já marcam um restaurante e dois hotéis em construção. Mas a cidade foi visitada por uma delegação chinesa e é de esperar mais investimentos.
Para já, Juba pode deliciar-se com a cozinha chinesa no Wonderful Chinese Restaurant. O estabelecimento foi aberto durante a minha estada em Portugal.
O Juba Beijing Hotel está a ser construído com material pré-fabricado totalmente importado directamente da China em terreno cedido pelo Governo.
O hotel, situado numa das melhores zonas de Juba, entre o aeroporto e os ministérios, tem um período de validade de cinco anos.
O Juba Beijing abre com 60 quartos com duas camas, casa de banho e chuveiro cada. Mas vai ter 180. Uma noite vai custar entre 200 e 250 dólares. Pode parecer caro, mas um hóspede paga por uma noite numa tenda em Juba entre 90 e 200 dólares.
Juba continua a ser o faroest para empresários que querem fazer dinheiro rápido em investimentos sem grandes riscos.
Entretanto, uma empresa chinesa está a recuperar o Hospital Escolar de Juba. A estrutura de saúde tem 555 camas e oito médicos. Os paramédicos é que fazem a diferença. Durante os trabalhos de reconstrução a maioria dos doentes está internada em tendas ou … debaixo das árvores.
27 de agosto de 2007
Alentejo
- Esta terra dá trigo?
- Nassenhora - responde o alentejano.
- Dá batata?
- Tamém não!
- Dá feijao?
- Nunca deu um!
- Arroz?
- De manera nenhuma!
- Milho?
- Tá a gozar comigo?!
- Quer dizer que por aqui não adianta plantar nada?
- Ah! Se plantar já é diferente...
22 de agosto de 2007
Darfur
Forças sudanesas cercaram e atacaram ontem de manhã o campo de refugiados de Kalma. Fontes militares disseram que a acção se destinava a desalojar rebeldes acusados de ataques a postos da polícia.
«Às seis da manhã o Governo do Sudão despachou 2000 soldados para cercar o campo, soldados, polícia e serviços secretos das fronteiras», Abu Sharrad, porta-voz do campo de Kalma disse à Reuters.
Sharrad afirmou que as forças governamentais abriram fogo contra o campo mas não sabia se houve mortos ou feridos.
Uma fonte do exército acusou os rebeldes que atacaram postos da polícia nos campos de Kalma e de al-Salam de se esconderem no campo de refugiados.
Kalma, junto à cidade de Nyala, no Sul do Darfur, alberga quase 100 mil deslocados pela guerra.
Entretanto, o Departamento dos Direitos Humanos da ONU acusou milícias aliadas ao Governo da prática de crimes de guerra.
As milícias praticaram violações em massa e raptaram 50 mulheres durante um ataque à cidade de Deribat, na região de Jabel Marra no centro do Darfur.
As 50 mulheres foram reduzidas a escravas sexuais durante um mês.
A cidade de Deribat é controlada pelos rebeldes da facção do Exército de Libertação do Sudão que não assinou os acordos de paz em Maio de 2006.
Por Darfur
O DRAMA HUMANO ESQUECIDO
Em apenas quatro anos, morreram no Darfur, vítimas da guerra, da fome ou da doença pelo menos 200 mil pessoas na sua larga maioria civis indefesos.
Calcula-se que pelo menos 2,3 milhões de pessoas tenham sido obrigadas a deixar as suas casas. Mais de 4 milhões dependem exclusivamente da ajuda humanitária.
Os ataques às populações sucedem-se em redor dos próprios campos de deslocados.
Os agentes da ajuda humanitária são também alvos frequentes das milícias, que procuram paralisar a sua actuação, agravando ainda mais a situação de extrema debilidade de milhões de pessoas refugiadas.
Entretanto o conflito ultrapassou as fronteiras do Sudão, com mais de 200 mil darfurianos a fugirem para o Chade e para a República Centro-Africana, aonde continuam a ser perseguidos pelas milícias Janjauid.
A SITUAÇÃO ACTUAL
A decisão da ONU do envio de uma força híbrida de paz em conjunção com a União Africana (UNAMID) para a região, do dia 31 de Julho, muito embora tardia, vem finalmente trazer alguma esperança a estas populações.
Por outro lado, a maioria dos grupos em armas contra Cartum reuniu-se em Arusha, Tanzânia, e decidiu retomar as negociações de paz com o Governo.
QUE FAZER?
A pressão da sociedade civil é agora fundamental para conseguir a pronta articulação internacional e a mobilização dos meios humanos e materiais necessários ao rápido estabelecimento do contingente que garanta a segurança na região.
Por outro lado, a comunidade internacional tem que manter o Governo de Cartum sob pressão para voltar à mesa das negociações e negociar uma solução política para o Darfur.
A Plataforma pelo Darfur está a recolher assinaturas para colocar a questão do Darfur na Agenda da Cimeira Europa-África que decorre em Lisboa a 8 e 9 de Dezembro.
Assina AQUI a petição.
Circula a campanha através dos teus contactos.
Unimo-nos por Timor-Leste. Agora é a vez de dar a mão à população martirizada do Darfur.