1 de setembro de 2007

Solidariedade

© JVieira

África é a grande casa da solidariedade. Neste continente marcado por guerras e calamidades, ninguém se considera tão pobre que não tenha absolutamente nada para partilhar. Nem que seja uma mão cheia de tempo!
Há sempre lugar para mais um à volta da refeição frugal.
Há sempre lugar para mais um na cabana já à pinha pela família numerosa e pelos animais domésticos.
O Sul do Sudão onde trabalho vive uma onda histórica de acolhimento e solidariedade.
Vinte e um anos de guerra fizeram mais de dois milhões de mortos e quatro milhões de deslocados.
A paz chegou há dois anos. E com a paz o regresso. De acolhimento dos milhares de retornados que chegam em camiões, em barcaças Nilo abaixo, de avião.
Os deslocados internos e os refugiados regressam aos milhares e as suas comunidades de origem abrem alas e fazem festa. Festa genuína.
O ACNUR e parceiros dão um cabaz a cada família para os primeiros três meses. Mas são as gentes locais que dão a mão na construção do tukul, que há-de ser melhorado com o tempo. E ajudam a desbravar os matos para preparar campos.
No Darfur também era assim: pastores árabes e agricultores negros partilharam durante centenas de anos os escassos recursos naturais: água e pastagens.
Até que chegaram os senhores da guerra, os janjauid, nas asas dos cavalos e dos camelos e varreram o oeste sudanês a balas e fogo.
A boa vizinhança deu lugar ao genocídio: duzentos mil mortos, mais de dois milhões de deslocados, quatro milhões dependentes de ajuda externa, milhares de mulheres violadas…
A África é a casa da solidariedade porque é uma imensa família alargada. Desfigurada por doenças estranhas, genocídios, conflitos.
Mas também resgatada por sorrisos que acolhem, mãos abertas, corações em festa que recebem o hóspede como dom de Deus através de uma liturgia feita de gestos solidários, de partilhas e de afectos de quem se sente irmão, irmã.
E com aguardente e cerveja caseiras a rodos! Pois claro.

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